sexta-feira, 29 de julho de 2011

Das lágrimas



Há momentos  que é  impossível conter as lágrimas...
Muitas vezes segurei.
Para parecer forte.
Por vergonha.
Por medo.
Por achar que seria incompreendido.
Lágrimas pelas pessoas que morrem.
Uma morte não natural.
Uma morte não planejada.
Uma morte não como conseqüência das nossas escolhas.
Mas a morte que vem do outro.
Do outro que não aceita o outro.
Do outro que oprime o outro.
Do outro que descrimina o outro.
Lágrimas que brotam da alma.
Todas as vezes que as seguro, fico pior.
Fico pior porque lá dentro, no fundo, meu eu é sufocado, afogado.
Vou deixar as lágrimas correrem.
Vou deixá-las banhar meu corpo.
Vou permitir que elas cheguem ao chão.
Talvez ao chegar à terra um milagre aconteça.
Um milagre que faz brotar vida.
Talvez nasça uma planta.
Uma planta diferente.
Uma planta que brote frutos.
Frutos nem ácidos nem doces.
Mas frutos salgados.
Frutos que sejam do gosto de minhas lágrimas.
E que só durem enquanto eu puder regar a planta com elas.
E quando eu não puder mais regá-las, então outro milagre vai acontecer.
Ou o paraíso surgirá.
Ou a morte me levará.

sábado, 16 de julho de 2011

Assumir a paixão


 Personagens numa cena de "Do começo ao fim"

Ontem recebi uma ligação de um amigo que há tempos eu não conversava. O conheci quando eu trabalhava em Guarabira, em 2008. Era estudante do ensino fundamental. Cheio de dúvidas em relação à sua sexualidade, cheio de conflitos com a igreja evangélica que fazia – e ainda – faz parte. Bem parecido comigo quando passei por essa fase. Um único detalhe nos diferencia. De certa forma, eu era um “crente fiel”, ou seja, procurava viver da melhor forma os preceitos e dogmas – existem dogmas sim, por mais que os pastores digam o contrário – da instituição religiosa que eu era filiado. Ele não. Sempre transgredindo as normas. O invejo por isso. Eu deveria ter feito o mesmo naquela época.

De tempos em tempos ele me liga. Ou melhor, me dá um toque para que eu retorne. Hoje ele está na fase final do ensino médio. Saindo da adolescência. Muito experiente e menos confuso com a sua orientação sexual. Mas com a mentalidade própria de quem está com 17 anos.

Uma vez me disse que tinha saído com um cara, não havia usado camisinha, e estava com medo de ter contraído o vírus da AIDS.  Tentei tranqüilizá-lo dizendo que conhecia a pessoa que ele se envolveu, e que podia assegurar, dessa forma, que não tinha ocorrido nenhuma contaminação nesse sentido. Mesmo assim, ele só relaxou depois que fez o exame e deu negativo.

Outro dia me falou estar interessado numa pessoa “linda, maravilhosa e gostosa”. Mandou-me procurar no Orkut o dito cujo. Fui, obviamente, como todo bom curioso. Comprovei sua afirmação exagerada. Não é nenhuma pessoa do outro mundo, mas era bonita sim. Depois ficou com ela. Uma, duas, três vezes... Parece que agora está apaixonado.

Precisamente no final de “Insensato Coração”, ontem à noite, ele me liga. Eu disse que retornaria em dois minutos assim que a novela terminasse. Cumpri minha palavra. Conversa vai, conversa vem, ele me conta que está se sentindo estranho ultimamente. Procuro escavacar o motivo. Ele tenta negar. Mas percebo que sua inquietação está ligada a essa pessoa “linda, maravilhosa e gostosa” que ele andou se envolvendo. Paixão. Mas nega peremptoriamente. Não está e nem quer se apaixonar.

Lá fora a chuva caía. Bem forte. Dentro de casa eu ouvia Zélia Duncan. Algumas músicas dela são bem propícias para dias de frio. Além de serem ótimas para acompanhar uma conversa sobre sentimentos passionais. Diante dessa situação toda, eu o provoquei várias vezes para assumir sua paixão. Tanto provoquei que ele acabou reconhecendo seu estado afetivo.

Continuamos a conversa. Sua insatisfação com esse sentimento se deve ao medo. Segundo ele me disse, essa é a primeira vez que isso acontece.

Medo de amar. Medo de sofrer. Medo de não ser correspondido. Todo mundo já passou por esse medo. De que adianta gostar de alguém quando não se é correspondido? Por outro lado, até mesmo quando se é correspondido, pra que se envolver num relacionamento que depois pode trazer conseqüências danosas pra vida da gente?

Por causa dessas questões, meu amigo guarabirense tenta, de todos os modos, esconder o desejo que cresce a cada dia dentro dele. Eu o entendo. Já passei por isso. Mas, ao contrario dele, sempre deixei o sentimento se enraizar e crescer. Algumas vezes sofri por isso. Outras vezes tive gozos sublimes. Não vou negar que tentei, poucas vezes, sufocar esses afetos. Contudo, sempre fui adiante. Mesmo quebrando a cara depois.

Voltando as músicas de Zélia Duncan. Enquanto conversávamos pelo celular, uma me tocou bastante. “Jura Secreta” é muito linda. E na voz dela se torna divina. Mas a ficha só caiu, em relação a nossa conversa, depois que nos despedimos e liguei o computador. Prestei bastante atenção à letra. Cabe perfeitamente nesse diálogo que tive.

Hoje postei um trecho no meu perfil do Facebook. Só uma coisa me entristece / O beijo de amor que não roubei / A jura secreta que não fiz / A briga de amor que não causei.... Recebi alguns comentários. Em um, uma amiga virtual disse: ...então, brigue, jure, beije... e se for o caso, se arrependa do que fez. Acho que essa frase ajuda a dissipar o medo que se torna óbice a qualquer envolvimento passional com outra pessoa.
Vou ligar pra ele depois e tentar falar, aconselhar, orientar nessa direção. Se o sentimento está surgindo, deixe-o crescer. Vá em frente. Viva tudo intensamente. E o sofrimento depois? Se fôssemos pensar no sofrimento que iríamos enfrentar, nossos pais não deveriam, jamais, ter pensado em nos ter fabricado numa transa prazerosa.
Acho que vale a pena citar Paula Fernandes cantando “Pássaro de fogo”. Não diga que não / não negue a você / um novo amor / uma nova paixão. Vai por aí a coisa...

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