sábado, 26 de fevereiro de 2011

15 anos sem Caio Fernando Abreu

Conheci a obra de Caio Fernando Abreu através de meu amigo Azemar. Ambos estudávamos o mesmo período do curso de História na UEPB (Guarabira) só que em horários diferentes. Ele durante a tarde. Eu no período noturno, por isso levei um ano a mais para concluir a graduação. Azemar era fã de Caio. Ainda é. Eu não conhecia bem o escritor gaúcho, mas de tanto ouvir Az falar sobre ele e, em seguinda, com minhas andanças pela faculdade escutar outras pessoas falarem sobre a temática de sua literatura, eu comecei a me interessar. O primeiro livro que li foi um de crônicas que Az me emprestou. Achei sua escrita formidável. Dois contos são marcantes, para mim, de Caio. "Aqueles Dois" e "Sargento Garcia" são formidáveis. Acessando o site A Capa agora a noite vi um artigo sobre os 15 anos de sua morte. Gostei bastante. O autor é Arnaldo Franco Junior, professor do Curso de Letras da Unesp em São José do Rio Preto (SP) e Doutor em Literatura Brasileira. Vale a pena ler.

   Um ir-remediável: 15 anos sem Caio Fernando Abreu 

Caio Fernando Abreu morreu em 25 de fevereiro de 1996. Tinha 47 anos, e começava a obter um crescente reconhecimento do valor literário de sua obra. Seguindo, algo involuntariamente, o mote "Viva intensamente, morra jovem", Caio morreu no começo da idade madura, tendo vivido e escrito intensamente.

Abreu é um dos escritores representativos da narrativa brasileira contemporânea. Seu trabalho é marcado por temas caros aos anos 60-90 do séc. XX e, também, por certo experimentalismo formal (mistura de gêneros, narração não-convencional, intensa intertextualidade). Sua obra é urbana, captando fragmentos da vida nas grandes metrópoles, com seus habitantes solitários, sonhadores, claustrofóbicos, angustiados, irônicos, persistentes. Ele articula temas existenciais com questões sociais, elaborando-os por meio de uma linguagem à qual não faltam lirismo nem angústia.

Por meio de suas histórias, Caio explorou questões vinculadas às utopias de sua geração, que contestou comportamentos conservadores e regimes políticos autoritários. Uma das grandes contribuições de sua literatura foi politizar, por meio de suas personagens, categorias sociais que não eram reconhecidas como políticas: jovens, hippies, loucos, homossexuais, mulheres etc. Sua obra é combativa no tocante à crítica ao preconceito e à estigmatização social. Leia-se, por exemplo, os contos "Aqueles dois"; "Os sapatinhos vermelhos"; "O afogado".

A atração pelo que está à margem - temas, comportamentos, ideias, modos de fazer literatura - é um traço forte da literatura de Abreu. É, muitas vezes, assumindo um ponto de vista marginal que seus narradores e personagens criticam valores dominantes na sociedade e na cultura brasileiras. Morangos mofados (1982), seu mais famoso livro, consolida o seu estilo. Caio plasma o "olhar de míope" de Clarice Lispector para os pequenos detalhes que desestabilizam a teia do cotidiano ao gosto pelo insólito de Julio Cortazar e a certa acidez desencantada, melancólica, no registro de questões sociais, políticas, econômicas e comportamentais que dilaceram o indivíduo.

Suas personagens degladiam-se com a solidão, o desencontro amoroso, a (auto)crítica das utopias da geração-68 e a dura realidade de crise econômica que só muito recentemente arrefeceu no Brasil. "Tem coisa mais autodestrutiva do que insistir sem fé nenhuma?" pergunta, a certa altura, a protagonista feminina de "Os sobreviventes". Entretanto, apesar dos revezes, as personagens de Abreu insistem, correm os riscos de insistir naquilo que buscam. Daí amalgamarem uma lucidez insuportável, autocrítica, com o cultivo de uma difícil esperança.

Abreu viveu a homossexualidade e seus conflitos, abordando-a em alguns contos com franqueza e qualidade literária ímpares. Os protagonistas de "Aqueles dois" são homens que se defrontam com um afeto e desejo mútuos que sequer sabem nomear. O narrador de "Terça-feira gorda" rememora o drama de ter tido o amante linchado por homofóbicos anônimos - realidade, infelizmente, ainda atual. "Pela noite" registra um passeio de dois homossexuais pela noite gay de São Paulo, tematizando, mais propriamente, o medo de amar do principal protagonista, que se defende da entrega amorosa por meio do apego a uma estereotipada identidade gay. Foi dos primeiros textos literários a registrar, nos anos 80, a existência da Aids, inicialmente tratada como "peste gay" por certa imprensa irresponsável. "Linda, uma história horrível" narra o doloroso encontro de um homem maduro, com uma doença incurável (por sugestão, a Aids), com sua velha mãe na envelhecida casa materna, também habitada por Linda, uma velhíssima cachorra. O conto faz um registro pungente das verdades que se enunciam por meio do não-dito, selando o amor e a solidariedade dos que se amam para-além de suas diferenças e conflitos. É sempre por meio do não-dito que as personagens de Abreu - homo e heterossexuais - dizem o seu amor. Quando falam, criam diálogos desencontrados.

Caio não gostava de ser rotulado como escritor de literatura gay. Sabia que rótulos são redutores. Ele queria, e merece, ser lido por toda e qualquer pessoa como um bom escritor. É o que está acontecendo. Sua obra vem despertando grande interesse entre as novas gerações. Isso se deve, entre outras razões, ao fato de que sua literatura tem, também, um quê de adolescente. Seus narradores e personagens são críticos, inseguros, quase niilistas. Sabem mais propriamente o que recusam do que aquilo que querem. Resistem a acomodar-se à mediocridade, insistem em seus projetos.

Luciano Alabarse disse que uma música de Sueli Costa definia Caio Fernando Abreu: "Dentro de mim mora um anjo/ Que tem a boca pintada/ Que tem as unhas pintadas // Que me sufoca de amor/ Dentro de mim mora um anjo/ Montado sobre um cavalo/ Que ele sangra de espora/ Ele é meu lado de dentro/ Eu sou seu lado de fora". Morreu de pneumonia decorrente de Aids. Rebatizou, antes, seu primeiro livro de Inventário do ir-remediável.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A noite e você

O tempo está frio.

Sinto-me vulnerável, fragilizado, carente...

Sabe uma criança que precisa de cuidados constantes, do aconchego, de colo e de calor materno... Estou assim...

Bem que você podia está aqui, comigo, cuidando de mim, me fazendo ri, recebendo o meu coração, a minha alma, suprindo as necessidades pueris que jorram de meu ser.

Cada minuto é muito tempo sem você... Nunca antes o trecho dessa canção se fez tão real quanto nessa noite fria.

A sua presença trouxe cores nos dias cinzentos que passei durante esse ano.

Eu gosto de você.

Gosto de está com você.

Gosto de fazer planos, talvez, malucos para um futuro comum. Mas os que viveram com beleza, paixão e excitação a vida sempre foram tidos como malucos. Desafiaram a norma, romperam com paradigmas, quebraram tabus. Estiveram à frente do seu tempo. Isso tornou essas pessoas eternas e inspiradoras para todos e todas que não se conformam com o estado de coisas, que não aceitam as limitações culturais que demarca o certo e o errado, excluindo as minorias e negando as diferenças culturais, religiosas e sexuais.

Com você o sonho de mudar o mundo, o desejo de lutar contra as injustiças, descriminações e exclusões sociais de todos os níveis torna-se mais forte em mim.

Nunca me senti tão forte quanto agora...

O roubo que fizeram de mim está sendo restituído.

Hoje sou mais eu e menos o que os outros querem que eu seja.

Tudo isso me veio nessa noite de sexta-feira amena, fria. Uma noite até um tanto contraditória. Veja bem: sinto-me carente, fragilizado, vulnerável, necessitado de colo, concomitantente sinto-me forte para enfrentar um mundo desigual, perverso e injusto, que espero ser mais igual, mais solidário e mais justo um dia. 

Obrigado

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Passarai


 O gostoso da vida, o que a torna mais excitante, o que faz com que as pessoas, não obstante as dificuldades, os desafios cotidianos, as tragédias intermitentes, continuar lutando para viver bem e melhor, é que tudo passa.

Confesso que a efemeridade da existência me causa, em algumas instantes, uma raiva enorme. Todo mundo já viveu momentos que queria eternizar, seja o dia do casamento, do nascimento do filho, da aprovação no vestibular ou naquele concurso tão desejado, uma promoção na vida profissional, o momento junto com a pessoa amada, aquele fim de semana inesquecível... Enfim, todos esses instantes, quando chega ao fim, a gente fica triste porque queria que durasse mais.

Mas todo mundo também já viveu um momento trágico na existência. Nessas ocasiões o desejo que o tempo acelere impera dentro de cada pessoa. Um minuto, uma hora, um dia assim se torna uma eternidade para quem enfrenta uma barra pesada, para quem sofre a dor da perda, da derrota e, para aquela que considero a pior de todas as dores, a dor da rejeição. Então, tudo parece ficar sem sentido, a lembrança das alegrias, dos instantes felizes, de repente somem da memória.

Já passei pelas duas situações acima descritas. Já tive momentos que eu queria eternizar, que queria que o tempo parasse. Também já tive momentos que quis que o tempo corresse logo, que os minutos se transformassem em horas e as horas em dias para que a dor cessasse.

Em determinado momento, durante esse ano, de enfretamento direto com meu maior medo, minha maior dor, uma amiga dileta citou uma frase comumente usada por um amigo seu. “Sabe o que tem de ruins nos momentos bons? É que eles passam. E sabe o que tem bom nos momentos ruins? É que eles também passam.”

O bom da vida é isso. Tudo passa...

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