De novo. Sem esperar. Em um
ambiente que em nada lembraria. Com amigos que nada sabiam. Bebendo bebidas que
nunca foram tomadas por nós. A lembrança, sempre ela, do nada, fez minha noite,
por algum instante, parar.
A música que a banda tocava,
muito agitada, com uma letra nada romântica, também não contribuiu para essa
saudade repentina.
Pessoas passavam, me
cumprimentava, eu fingia, com um sorriso no rosto, que estava bem. Na verdade
eu estava bem. Apenas algo repentino veio quebrar aquele momento festivo.
Quebrar pra mim, claro, porque todos estavam alegres ao meu redor. Eu também,
aparentemente, estava.
Encontrei um amigo. Ele me
entenderia. Eu pensava. Mas ele tava tão alterado pela quantidade de cervejas
tomadas durante o dia que mal prestou atenção no que eu disse. Ou seja, ninguém
ficou sabendo de meu estado emocional interno.
Era quase meia-noite. Decidi
entrar no movimento da festa. Comprei uma bebida quente. O clima não estava
propício para uma cerveja. Queria ficar alterado logo. Tomei a primeira dose de
uma vez. Pedi outra. Mais outra. Lá pela quinta dose, eu comecei a sentir no
corpo, na mente, na minha voz, o efeito das doses fortes.
Começou a tocar uma música que
falava de paixão. Comecei a cantar. Pedi outra dose. Dessa vez sem energético.
Eu já estava muito enérgico. Acompanhei a cantora na outra música, mesmo
distante do palco, eu me sentia como se fosse o artista daquela festa, bem
solto, festivo e cantante. Cantei movido a saudade e a bebida.
A banda termina seu show. Eu
decidi que minha hora de ir embora tinha chegado. Contudo, como vi que estava
não muito seguro do meu corpo, sai com alguns amigos para uma praça. Ficamos
sentados. Eles continuaram bebendo. Eu, para disfarçar minha situação interna
naquele momento, comecei a conversar.
Pessoas bêbadas têm a mania de
falar de chifre. Todo mundo naquela roda já tinha levado ou botado chifre. De
repente, contrariando minha razão, pedi uma dose. Nunca uma tinha bebido uma
dose tão ruim. Desceu ardendo. Rasgando tudo. Só queria que aquela dose
rasgasse as arestas do nosso relacionamento mal resolvido que estavam dentro de
mim e que naquela noite tinha vindo à tona.
Quase quatro horas da manhã. A
bebida tinha acabado. A conversa estava rareando. O cansaço tomava conta de mim
e dos amigos. Eu queria dormir. Fui pra casa. Deitei. Mas levei comigo aquela
lembrança indesejada que me assaltou no início da festa e que foi comigo até o
momento de meu recolhimento. Quando me levantei, não lembrei mais daquela presença
inoportuna em meu coração.
Hoje à tarde, contudo, enquanto
estudava, um amigo ligou pra mim. Do nada, depois que desliguei o celular, vi,
num cantinho do meu quarto uma foto com uma impressão nada boa, mas que me fez
viajar até o momento que a máquina fotográfica tinha eternizado aquele momento
entre nós. E aí, lembrei da festa da noite de sábado. E cai na cama pensando
como teria sido diferente se a vida tivesse sido mais generosa conosco. Adormeci.
Quando me levantei, decidi escrever. Escrever é uma forma de exorcizar o que me
faz mal. Essa lembrança sua, definitivamente, não me faz bem.