Tenho
certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar
[...]
Você foi tão
cedo
A vida é um mistério
E ela não diz porque...
Mas tua semente hoje está
Presente e vai florescer..
A vida é um mistério
E ela não diz porque...
Mas tua semente hoje está
Presente e vai florescer..
(A tempestade e o sol – Banda Catedral)
O tempo não para. Isso é fato. Mas ele não leva
consigo alguns sentimentos e afetos que marcam a vida da gente. Sua passagem
ameniza a dor, a saudade, a sensação de vazio e de perda, mas nunca preenche o
espaço deixado por quem partiu para nunca mais voltar.
Na vida da gente muita gente passa. Gente que faz a
gente feliz, gente que faz a gente sofrer, gente que faz a gente ser gente.
Cada pessoa que, em determinado momento, cruzou o meu caminho, contribuiu, de forma
direta ou indireta, com o que sou hoje.
Eu tenho uma facilidade grande de lembrar de homens e
mulheres, nas fases da vida que passei, que me afetaram de forma positiva ou
negativa. Lembro de gente da primeira rua que morei, do sítio de meus avós, da segunda
rua no centro da cidade, escola infantil, do ensino fundamental, do ensino
médio, do magistério, do curso de história, da Igreja Universal, da Igreja
Betel Brasileiro, da catequese na Igreja Católica, dos retiros evangélicos e
carismáticos que participei, de vários movimentos e festas que estive presente.
Eu tenho uma facilidade muito grande também de nutrir
afeto. Sou fácil de ser conquistado. Basta um pouco de carinho e atenção que
consigo criar laços afetivos com quem quer que seja.
Muita gente partiu para outros estados. Muita gente
deixou de falar comigo. Eu deixei de falar com muita gente também. Muita gente
casou. Muita gente se divorciou. Vez em quando, pelas redes sociais, encontro
gente que há muito tempo eu não tinha notícia. De certo modo, a maioria
absoluta das pessoas que passaram por minha vida continua viva. Poucas
morreram. Das que morreram, uma em especial me tocou profundamente.
Há exatamente um mês, por volta de quatro e pouco da
tarde, eu deitado na minha cama, ouvindo Adele e meio que cochilando, sou
acordado com a notícia de que meu cunhado e minha irmã tinha sofrido um acidente de
moto. Levantei de sobressalto. Fiquei assustado. Mas pensei ser pequeno meu
susto, porque eu achava, até então, que nada de mais poderia ter acontecido. Eu
achava. Estava errado.
A situação de meu cunhado não estava boa. Minha irmã
estava bem. Mesmo assim, eu pensava que ele podia está muito machucado, que
iria se recuperar. A gente nunca pensa na morte de imediato. Sempre guarda a
esperança de que tudo esteja bem. Pouco tempo depois, no caminho do hospital em
Guarabira, fui informado de sua morte. Não quis acreditar bem. Só quando
cheguei lá, ouvi de algumas enfermeiras de plantão a confirmação, vi que não
existia qualquer esperança mais.
Pela primeira vez na vida, em vinte e cinco anos,
experimentei a dor da morte de uma forma intensa. Alguém perto de mim, chegado
a mim, partia de uma forma inesperada e trágica. Nunca chorei tanto. As coisas
lá em casa iam bem, depois de tudo que atravessei no ano passado. De repente,
quando o tempo de paz chega, algo interrompe, destruindo uma construção que
parecia sólida.
Lembro quando Iranildo chegou, pela primeira vez, na
minha casa. Nunca interferi nos relacionamentos de minhas irmãs (tenho duas). O
fato dele ser mais velho que Joelma chocou, a princípio, alguns familiares. Mas
o decorrer dos dias, dos meses, foi quebrando as resistências e formando uma
rede de afeto entre ele e nossa casa.
Ele me chamou para ser seu padrinho de casamento.
Fiquei honrado com o convite. Sempre nos demos bem. Apesar dele e minha irmã
morarem em outra casa, sempre estavam lá em casa, almoçando, jantando,
assistindo, acessando a net, conversando, fazendo pizzas...
Fiquei meio que desnorteado com sua morte. Acompanhei
tudo. Só sai de perto quando a terra cobriu totalmente o caixão que guardava
seu corpo.
De tanta gente que passou por minha vida, ele foi uma
pessoa que marcou. Nunca vou esquecer os momentos compartilhados juntos, em
família, as risadas, as brincadeiras...
Um mês se passou. Nunca vou esquecer o primeiro de
maio. Um adeus inesperado. Jamais imaginado. Mas, como diz a letra da canção de Catedral e em consonância com a minha fé cristã que ensina sobre a ressureição dos mortos, quando eu for recolhido desse mundo, a gente vai se encontrar, "não o sei dia e a hora, mas sei o lugar. Sei que você está bem, mesmo assim isso não me impede de chorar."
As pessoas só morrem de fato quando elas não
significaram nada pra gente. Se elas significaram alguma coisa, estarão para
sempre vivas em nossa lembrança.
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