sexta-feira, 1 de junho de 2012

O adeus inesperado


Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar
[...]
Você foi tão cedo
A vida é um mistério
E ela não diz porque...
Mas tua semente hoje está
Presente e vai florescer..
(A tempestade e o sol – Banda Catedral)

O tempo não para. Isso é fato. Mas ele não leva consigo alguns sentimentos e afetos que marcam a vida da gente. Sua passagem ameniza a dor, a saudade, a sensação de vazio e de perda, mas nunca preenche o espaço deixado por quem partiu para nunca mais voltar.

Na vida da gente muita gente passa. Gente que faz a gente feliz, gente que faz a gente sofrer, gente que faz a gente ser gente. Cada pessoa que, em determinado momento, cruzou o meu caminho, contribuiu, de forma direta ou indireta, com o que sou hoje.

Eu tenho uma facilidade grande de lembrar de homens e mulheres, nas fases da vida que passei, que me afetaram de forma positiva ou negativa. Lembro de gente da primeira rua que morei, do sítio de meus avós, da segunda rua no centro da cidade, escola infantil, do ensino fundamental, do ensino médio, do magistério, do curso de história, da Igreja Universal, da Igreja Betel Brasileiro, da catequese na Igreja Católica, dos retiros evangélicos e carismáticos que participei, de vários movimentos e festas que estive presente.

Eu tenho uma facilidade muito grande também de nutrir afeto. Sou fácil de ser conquistado. Basta um pouco de carinho e atenção que consigo criar laços afetivos com quem quer que seja.

Muita gente partiu para outros estados. Muita gente deixou de falar comigo. Eu deixei de falar com muita gente também. Muita gente casou. Muita gente se divorciou. Vez em quando, pelas redes sociais, encontro gente que há muito tempo eu não tinha notícia. De certo modo, a maioria absoluta das pessoas que passaram por minha vida continua viva. Poucas morreram. Das que morreram, uma em especial me tocou profundamente.

Há exatamente um mês, por volta de quatro e pouco da tarde, eu deitado na minha cama, ouvindo Adele e meio que cochilando, sou acordado com a notícia de que meu cunhado e minha irmã tinha sofrido um acidente de moto. Levantei de sobressalto. Fiquei assustado. Mas pensei ser pequeno meu susto, porque eu achava, até então, que nada de mais poderia ter acontecido. Eu achava. Estava errado.

A situação de meu cunhado não estava boa. Minha irmã estava bem. Mesmo assim, eu pensava que ele podia está muito machucado, que iria se recuperar. A gente nunca pensa na morte de imediato. Sempre guarda a esperança de que tudo esteja bem. Pouco tempo depois, no caminho do hospital em Guarabira, fui informado de sua morte. Não quis acreditar bem. Só quando cheguei lá, ouvi de algumas enfermeiras de plantão a confirmação, vi que não existia qualquer esperança mais.

Pela primeira vez na vida, em vinte e cinco anos, experimentei a dor da morte de uma forma intensa. Alguém perto de mim, chegado a mim, partia de uma forma inesperada e trágica. Nunca chorei tanto. As coisas lá em casa iam bem, depois de tudo que atravessei no ano passado. De repente, quando o tempo de paz chega, algo interrompe, destruindo uma construção que parecia sólida.

Lembro quando Iranildo chegou, pela primeira vez, na minha casa. Nunca interferi nos relacionamentos de minhas irmãs (tenho duas). O fato dele ser mais velho que Joelma chocou, a princípio, alguns familiares. Mas o decorrer dos dias, dos meses, foi quebrando as resistências e formando uma rede de afeto entre ele e nossa casa.

Ele me chamou para ser seu padrinho de casamento. Fiquei honrado com o convite. Sempre nos demos bem. Apesar dele e minha irmã morarem em outra casa, sempre estavam lá em casa, almoçando, jantando, assistindo, acessando a net, conversando, fazendo pizzas...

Fiquei meio que desnorteado com sua morte. Acompanhei tudo. Só sai de perto quando a terra cobriu totalmente o caixão que guardava seu corpo.

De tanta gente que passou por minha vida, ele foi uma pessoa que marcou. Nunca vou esquecer os momentos compartilhados juntos, em família, as risadas, as brincadeiras...

Um mês se passou. Nunca vou esquecer o primeiro de maio. Um adeus inesperado. Jamais imaginado. Mas, como diz a letra da canção de Catedral e em consonância com a minha fé cristã que ensina sobre a ressureição dos mortos, quando eu for recolhido desse mundo, a gente vai se encontrar, "não o sei dia e a hora, mas sei o lugar. Sei que você está bem, mesmo assim isso não me impede de chorar."

As pessoas só morrem de fato quando elas não significaram nada pra gente. Se elas significaram alguma coisa, estarão para sempre vivas em nossa lembrança.

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