segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vou-me embora pra Gliese





Se Manuel Bandeira escrevesse hoje Vou-me embora pra Pasárgada, talvez o seu poema mais famoso, ele não ia para Parságada. Penso eu, que o poeta nordestino, nesses dias de globalização intensa, seria leitor ávido, não apenas da literatura, mas também da ciência. Eu acredito que ele trocaria o nome Pársagada para Gliese 581g. Mas um nome assim é muito feito. Ele, certamente, excluiria o 581g e deixaria apenas Gliese. Um nome bonito, né? Quem sabe não coloco esse nome na minha filha...

Recentemente, os cientistas descobriram um planeta muito parecido com a Mãe Terra. Batizaram de Gliese 581g, mas que eu, como não sou astrônomo, vou chamar apenas de Gliese. Depois de onze anos de observação, avistaram esse planeta. Gliese orbita numa região de zona habitável do sistema estelar. Nessa região, a quantidade de calor é suficiente para a existência de água em estado líquido em sua superfície. Assim, a possibilidade de existir alguma forma de vida é muito provável.

Quando eu era criança, eu costumava olhar para o céu. Eu adorava ver o movimento das nuvens. Ficava visualizando figuras de animas na imensidão do céu. Isso durante o dia. À noite, olhava as estrelas. Deslumbrado com a infinidade delas, eu metia a contar. Dias depois, nascia uma verruga em mim por ter contado as estrelas. Mas eu morria de medo dos ETs. Qualquer objeto voador desconhecido que surgisse no céu, as pessoas de tanto assistir os filmes norte-americanos, diziam ser um disco voador. O mais incrível era as estórias que me contavam. Fulano tava indo pro roçado, de repente um clarão surgiu no céu; quando olhou pra trás era um disco voador; correu tanto que consegui escapar. Lembro de várias pessoas que contaram ter tido uma experiência semelhante. Claro, essas estórias metia medo em mim e nas demais crianças vizinhas. Quando eu assistia a um filme sobre extraterrestre, eu me assombrava durante o sono. Mas isso passou...

Hoje quem mais me mete medo são os próprios seres humanos. Nem os demônios, nem o papa-figo, nem o bicho-papão, nem Comadre Folozinha e os ETs me assustam mais. As pessoas me assustam. Um valor tão importante, como a confiança, está indo embora nas relações interpessoais. A hipocrisia, a falsidade, a mentira, a competição desenfreada tem, infelizmente, caracterizado a maioria dos homens e mulheres nos dias hodiernos.


Disse Albert Einstein: Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito. Em pleno século XXI, depois de tantas conquistas e avanços no campo da ciência, das artes, da tecnologia, contraditoriamente, essa frase se encaixa perfeitamente. Nas universidades discute-se muito a noção de alteridade, de valorizar e respeitar o outro, mas fora de seus muros a realidade é bem diferente. Minorias são execradas, humilhadas, xingadas e até, o mais triste de tudo, mortas por sua orientação sexual não heternormativa, pela religião que contraria os valores das religiões oficiais, pelo estilo de vida que vive, pelas idéias que defendem. No Brasil, esse país tido como cordial, pacífico, a cada dois dias uma pessoa é morta por ser gay, travesti ou transexual.

Quem diria que depois de tanto conhecimento acumulado ao longo da história, guerras motivadas por fins econômicos ainda existiram... Se nesse momento, os conflitos bélicos são reduzidos e bem localizados, por outro lado milhares de pessoas morrem de fome, apesar da produção de alimentos ser suficiente para alimentar, com folga e com bastante sobra, toda a população mundial.

O meio-ambiente é destruído, cotidianamente, em nome de um progresso que só favorece a uma minoria em detrimento da maioria excluída, empobrecida. Os valores mais importantes são medidos pela riqueza e pelo status que as pessoas possuem na sociedade. O rótulo é mais evidenciado e aceitado do que o conteúdo...


Vou-me embora pra Gliese. O planeta será destruído pelos seres humanos mesmo. Antes que isso aconteça, quero está bem longe daqui. Talvez lá, em Gliese, os habitantes estejam vivendo no Éden, em harmonia com todas as formas de vida existentes, sem conflitos, sem preconceitos, sem desigualdades, sem os males daqui da terra.


O que me deixou triste foi saber que uma viagem a Gliese num dos ônibus espaciais da NASA levaria 766 000 anos, quatro vezes o tempo que o Homo sapiens habita na terra. Quando isso for possível eu já não estarei mais com vida.


Mas, pensando bem, é melhor deixar Gliese lá. A distância de 20 anos-luz da terra ou 190 trilhões de quilômetros é boa. Boa pra Gliese, que continuará em paz, sem a presença humana que levaria toda a sorte de desgraça pra lá; boa pra mim que vou ter esse lugar um tanto utópico pra sonhar, pra divagar nos momentos de solidão e de desânimo. É bom saber que existe um local diferente da podridão da terra, mesmo que eu tenha a certeza que nunca conseguirei alcançá-lo.


Vou-me embora pra Gliese! Vem junto???

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

... a vida tão simples é boa



Escrevo este texto com atraso. Eu deveria ter feito isso sábado. Mas devido a minha tensão e envolvimento com a campanha eleitoral e com as comemorações posteriores, não fiz. Mas, como diz um lugar-comum bastante conhecido de todos, nunca é tarde.



Eu tenho um grande amigo em Pirpirituba. Um irmão. Alguém que eu posso contar em vários momentos de minha vida. Temos vários aspectos comuns em nossas personalidades. Como eu estava bastante apreensivo e ansioso com as eleições de domingo passado, eu decidi ir para a cidade dele, conversar um pouco, beber algo, quebrar um pouco a minha rotina.


Assim que saí de lá, percebi que eu tinha feito à coisa certa. Eu estava feliz. Menos tenso. Mais esperançoso com a vida. Com a certeza de que são os amigos que ajudam a trazer beleza e poesia a nossa vida. Uma vida tão aquém daquela ideal, para pessoas sonhadoras como eu, mas que sem as amizades ela seria mais triste, como uma flor murcha, como uma árvore morta.


Fomos a um barzinho bem legal. Um outro amigo comum estava conosco, uma vez que eu o tinha encontrado, por acaso, na rodoviária de Guarabira. Depois ele foi embora. Ficamos sozinhos. Entre uma cerveja e outra, colocamos os papos em dia. Expusemos umas mágoas guardadas por outras pessoas. Conversamos sobre política, sobre a vida, sobre a família, sobre planos futuros, sobre o amor. O amor nunca sai de minhas conversas, de meus textos, de minhas músicas e nem de meus livros. Está sempre presente em minha vida. Quando penso que ele se foi, de repente ele bate na porta do meu coração e de meu pensamento, me fazendo crer que minha identidade está relacionada a ele.


Mas voltando ao assunto. Em seguida, fomos à casa de uma amiga dele, que conheci na Cidade da Luz, muito simpática, muito agradável, muito especial também. Lá fui apresentado a mãe e a avó dela. Confesso que me senti meio por fora, estranho. Mas logo que começamos a conversar, não só me senti como se estivesse entre familiares, como rememorei lembranças de minha infância, sonhos e desejos de menino, gostos e sabores tão distantes voltaram naquela tarde inesquecível.


A vida no campo foi algo que uniu nossas almas. Aquelas duas senhoras conversavam sobre experiências vividas durante o tempo que moraram na zona rural. Experiências que eu, apesar de sempre ter morado na cidade, compartilhei durante meus fins de semana e férias no sítio de meus avôs paternos.


Percebi um saudosismo por parte delas. Senti a mesma coisa também. Eu sempre comento sobre minha infância. Tempo bom. Eu era feliz e não sabia. Não tinha as preocupações que tenho hoje. Tirar notas boas na escola e passar de ano, somente essas duas coisas eram as minhas obrigações. Eu brincava muito nos quintais e becos dos vizinhos. Quando ia para o sítio, subia nas mangueiras, nos cajueiros, nos pés de açafrão, seriguela. Adorava passear no roçado, sentir o cheio dos pés de milho e de feijão nascentes. Tomar banho de barragem era uma das melhores coisas que eu fazia lá. Comia os frutos e as raízes plantadas naquele pequeno paraíso. Dormia cedo. Não tinha energia elétrica. Acordava assim que o galo cantava. E todo o programa do dia anterior se repetia. Mas era tão bom...


O tempo foi pouco para ouvir e falar das vivências passadas. Eu queria passar um tempo maior. Contudo, a distância de minha cidade me fez sair mais cedo. Antes disso foi servido a mim e a meu amigo uma taça de vinho. Despedi-me feliz por ter conhecido aquelas duas senhoras.


Eu disse a meu amigo que estava muito feliz. Valeu a pena ter ido a Pirpirituba naquela tarde de sábado. Meu objetivo foi alcançado. Minhas expectativas foram superadas. Uma tarde tão singela me propiciou um dos melhores momentos de minha vida. Renovou em mim a certeza de que para sermos felizes não é necessária muita coisa, muita badalação, muita novidade. Para ser feliz bastar curtir, com pessoas amigas e amorosas, as coisas simples da vida. Lembrei de Era Uma Vez, uma novela que passou quando eu era pirralho. A música de abertura dizia:

Pra gente ser feliz
Tem que cultivar
As nossas amizades
Os amigos de verdade
Pra gente ser feliz
Tem que mergulhar
Na própria fantasia
Na nossa liberdade

O milagre da existência ocorre cotidianamente. Muitas vezes não percebemos isso. Contudo, como diz Paulo Coelho, “As coisas simples são as mais extraordinárias, e só um sábio consegue vê-las”. Não sou sábio mas, às vezes, consigo captar alguns instantes divinos que a vida propicia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os girassóis anunciam novos tempos para a Paraíba...


Hoje é segunda-feira. Um dia depois de a Paraíba dar uma demonstração de que é guerreira, valente, de que quer mudar. A vitória de Ricardo Coutinho sobre José Maranhão revelou o quanto o meu estado deseja crescer, se desenvolver, dar um grande salto.

Foi emocionante ontem. Eu tinha certeza que o jogo tinha virado. Mas quando vi os números da boca de urna do IBOPE, confesso, me desanimei. Por um instante, minhas esperanças tinham ido embora. Eu não acreditei nas duas pesquisas divulgadas no sábado à noite, mas a do domingo, feita com os eleitores nas ruas, no dia da votação, me fez recuar. Quando começou a apuração, tremi nas bases.

Entreguei os pontos. Algumas pessoas ligaram pra mim, me animando, outras vieram aqui em casa, falando que não era bem assim, que os votos de João Pessoa e de Campina Grande não tinham sido computados ainda. “Mas veja a boca de urna!”, eu, bastante nervoso e emocionado, dizia...

Senhor me perdoa, às vezes, eu não sei o que falo!

Escuto conversas da vitória expressiva em João Pessoa e em Campina Grande. Mas nada de somar com a votação do restante do estado... De repente, tudo muda... Oh, alegria, oh felicidade... Maranhão começa sua descida. Ricardo começa a crescer. Como um orgasmo que explode e deixa as pessoas, por um momento no paraíso, eu me ergui, gritei, exultei.

Ricardo ultrapassa Maranhão. Por pouco, a vitória não se deu no primeiro turno. Quanta emoção! Nunca vi algo assim na Paraíba. As últimas eleições foram bem disputadas, com resultados apertados. Mas essa foi disputadíssima e com resultados apertadíssimos.

Davi venceu Golias no primeiro turno. Vai vencer também no segundo. A esmagadora maioria dos prefeitos, deputados e lideranças paraibanas foram cooptadas pelo atual governador. Existem provas disso. O Diário Oficial está cheio de nomeações posteriores as adesões recebidas pelo governador candidato. Mas o povo foi mais forte!

Oh, Paraíba amada... Dias melhores virão para você... Eu confio! Eu tenho fé. Eu tenho esperança. Perdoa-me por ter duvidado, ainda que por alguns minutos, de tua garra, de tua coragem, de tua vontade de mudar e de crescer. Sou ser humano, cometo, assim, erros.

Hoje o dia está tão lindo. Os girassóis começam a fazer da Paraíba um grande jardim de esperança e amor! Viva!

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