Diz o jargão que pra tudo
tem a primeira vez. Nem sempre isso é possível; por exemplo, acho que a maioria
das pessoas nunca vai chegar a ficar rica; o sistema capitalista exige a
distribuição de riqueza desigual. Mas pra tragédia, acho que muita gente vai
passar. Pois ontem num é que experimentei uma?
Eu ia para casa de uma amiga
discutir algumas questões de um projeto cultural de dança que será apresentado
agora em setembro, outubro e novembro. Desci no terminal da integração do
Varadouro. Comprei uma tapioca e um café. Fui andando bem devagar em direção a
antiga Central de Polícia (antigo prédio que torturava líderes durante a
ditadura civil-militar), comendo a tapioca e tomando café.
Quando me aproximo dos
pontos que ficam os transportes alternativos, começa um tiroteio mais na
frente. E agora, o que fazer? Não sabia se eu corria, deitava, ficava parado. Abaixei-me
até passar o momento tenso. Vi pessoas correndo pra um lado e pra outro.
De repente, vem um senhor em
minha direção com a mão na barriga, com um pouco de sangue. Não dava pra
imaginar que ele tinha sido baleado. Senta na calçada. Olha pra um lado e pra
outro. De repente, aparenta uma tontura. Cai pra trás na calçada. Segundos depois
estava morto. A polícia chega, mas não tinha nada mais o que fazer.
Vou seguindo meu caminho,
com o corpo um pouco tremendo e o medo tomando conta de mim. Pela imprensa,
tempos depois, vi que foi um “encontro” de grupos rivais; apenas o senhor
morreu e mais duas pessoas ficaram feridas.
Esse ano já fui assaltado
duas vezes em João Pessoa. Conheço vários amigos que também foram e muita gente
que perdeu algum amigo, parente ou conhecido nessa “guerra civil” que o Brasil
atravessa. É triste se ver diante de uma política de segurança pública ineficaz
e também diante de propostas eleitorais populistas que, talvez, possa piorar o
quadro de violência que o país vive.
Por trás disso tudo, está
essa inútil guerra às drogas; está também a falta do Estado nos lugares mais
carentes; a falta de perspectiva de muitos adolescentes e jovens em seguir uma
carreira decente (trabalhei dois anos com adolescentes em conflito com a lei e
ouvi relatos tristes sobre suas existências precárias e “criminosas”).
Época eleitoral serve (ou
não) pra gente refletir sobre os caminhos (ou descaminhos) que nossos
governantes e parlamentares prometem nos levar (ou desviar).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOi, Joel! Vi teu link no grupo. Rs' Vim correndo, dei uma olhada no seu blog e tô amando!
ResponderExcluirEste seu post me lembrou do meu primeiro tiroteio, foi até engraçado, eu era muito pequena e não tinha muita noção do que estava acontecendo, acreditava que os power rangers iam salvar a mim e a minha família. kkk
Já mais velha, acho que foi em 2016, estive em outro, eram duas da manhã, estava com meu pai em um bar(dormindo no colo dele enquanto ele conversava), quando de repente um moço se levantou da mesa e atirou no colega que estava bebendo com ele, foi um desespero... Confusão para lá e para cá e o miserável ainda colocou a arma nas minhas costas e me fez caminhar um tempo, depois foi pro meu pai, pegou as coisas dele e foi embora. Eu tive muito medo e ao mesmo tempo muita raiva, sensação horrível essa...
Foi um sentimento que durou por muito tempo... até hoje na verdade. O pior, é que não tenho muita esperança de que esse clima de violência vá melhorar.
Parabéns pelo seu trabalho. ^_^