É comum muita gente falar que não gosta de política, que não é política e que nunca será. O repúdio a atividade política representativa é legítimo haja vista a forma espúria que nossos representantes, seja no executivo ou no legislativo, atuam. Mas será que o repúdio à Política vale mesmo a pena?
Primeiramente, é preciso diferenciar a Política, com P maiúsculo, da política praticada por vereadores, prefeitos, deputados e todos aqueles eleitos a cada dois anos para governar ou legislar para a população.
As pessoas são sociais por natureza. Minha existência depende da existência do outro. Ninguém vive sozinho no mundo. Precisamos do outro para ter a humanidade garantida. E nessa relação do eu com o outro se forma as relações sociais e políticas.
Agassiz de Almeida Filho, paraibano e um dos melhores constitucionalistas do Brasil, sempre coloca os significados que a Política têm. Um primeiro significado enxerga a política como organização da convivência comunitária. Como falei acima, precisamos do outro para existir e nessa dependência criamos relações sociais e políticas. A partir disso, necessitamos de organizar a nossa vida em comunidade para vivermos bem e em paz uns com os outros. Esse é o primeiro entendimento de política.
Uma segunda compreensão da política está relacionada ao poder. Para a grande maioria das pessoas política é sinônimo de poder. Poder entendido na sua acepção mais comum, ou seja, como mando, ordem, execução... Mas o próprio poder vai além desse entendimento vulgar, como bem mostrou Michel Foucault.
De todo modo, à política entendida como expressão do poder enoja as pessoas devido à corrupção, aos desmandos, aos desvios do dinheiro público, a pouca honestidade de todos que exercem, em nome do povo, como diz a Constituição Federal, o poder político. Na verdade isso não é política, mas sim politicagem.
Mas será que a inércia diante dessa política praticada no Brasil vale a pena? Não é melhor tentarmos reinventar a forma de fazer política e de exercer o poder, a partir da perspectiva da política como organização do espaço comunitário?
João Ubaldo Ribeiro certa vez disse que todo mundo é político. Até quem diz que não é político, que prefere não votar, não opinar, não fazer nada diante do espaço público é político. Como assim? Quando não ligamos pra nada na vida política terminamos assumindo uma atitude conservadora, ou seja, estamos dizendo que tudo está bem e que, portanto, deve continuar, uma vez que a nossa omissão só favorece que está no exercício atual do poder.
Enfim, não tem como fugir da vida pública, da Política. Em vez de só reclamarmos ou ficamos inertes, não é melhor pensarmos em formas alternativas de organizar nossa vida comunitária, nossa cidade, estado e país? Não é preciso ser filiado a algum partido político para pensar soluções para os problemas que nos atingem coletivamente. Só basta ser sujeito político. E todo ser humano, enquanto ser social, é político.