Comprei
umas cervejas. Assei uns pedaços de peito de frango. Acessei o youtube. Um
prato pronto para que minha memória afetiva pudesse ser acionada instantaneamente.
Fazia tempo que ela estava adormecida, guardada, a meu ver, sepultada. Mas não.
Ledo engano. A memória é viva, muito viva.
De
acordo com as cervejas que eu estava tomando, vez ou outra petiscando, e com as músicas que estava ouvindo, sentimentos foram renascendo. Comecei a avaliar
os últimos acontecimentos de minha vida. O ano de 2016 não foi um ano fácil.
Carrego marcas na minha alma. Carrego feridas em meus sentimentos. Uma parte de
mim foi embora (escrevo sobre isso depois).
Às
vezes me pergunto se existem tantas pessoas que vivem amarradas pela linha
tênue da memória. Converso com alguns amigos e amigas. Todos e todas parecem
lidar muito bem com ela. Eu não consigo. Sabe aquela parada que o tempo faz
esquecer? Comigo não funciona. O tempo, pelo contrário, amadurece as
experiências, torna-as mais intensas.
Acho
que preciso, aliás, acho não, tenho certeza que preciso faz algum tipo de
tratamento psicológico. Ou psicanalítico. Muitas coisas em minha vida ficam
presas a acontecimentos pretéritos. Isso, em vários momentos, já atrapalhou
várias coisas, sabe? Até relacionamentos já perdi por continuar apegado a algo
que já morreu, mas insiste em interferir na minha vida.
Penso
em acender um cigarro, mas reflito que é melhor não. Nas últimas vezes que fumei tive crise alérgica. Não
posso mais contar com o cigarro, que era meu companheiro de sofrimento. Ainda bem que o álcool não me prejudica, por
enquanto.
Um
amigo acabou de me chamar para ir a uma boate. Não tenho clima, respondo a ele.
Talvez eu devesse ir. Mas prefiro ficar no meu apartamento, com a cerveja que
resta, comendo os últimos pedaços de peito de frango, ouvindo mais músicas
que são piores que flechas, porque elas atingem a minha alma.