Fevereiro de 2018. Eu fui para um bar na Praça da Paz com um rapaz que tinha
conhecido pelo Grindr. Fazia tempo que estávamos conversando, mas não tínhamos
nos encontrado ainda. Na época, eu tinha acabado de voltar a morar em João
Pessoa, ia trabalhar em uma escola durante a noite e estudar Jornalismo na
Universidade Federal da Paraíba. As coisas estavam dando certo na minha vida.
Sentamos em uma mesa no centro do bar. Pedimos caipirinhas e
caldinhos diversos para regar a nossa conversa. Minha companhia mostrou-se uma
boa pessoa para sair, tinha um bom papo, senso de humor e um sorriso bonito.
Entre as bebidas e conversas, fomos nos empolgando quando
chegou um garoto que devia, pela aparência, ter entre 11 e 13 anos de idade.
Nos ofereceu doces. Recusamos. Ele ficou insistindo para que comprássemos. Eu,
todo metido a militante, disse que ele não poderia aquela hora da noite está
em um bar, que ele devia estudar e não trabalhar, etc. O garoto disse que
estudava e estava vendendo pra ajudar no sustento de casa. Eu ia dizer mais o
quê?
Meu celular estava em cima da mesa, perto do copo com bebida.
O garoto estava bem próximo de mim. Ele conseguiu captar toda nossa atenção.
Não percebemos que, enquanto isso, ele pegava o celular e saia da nossa mesa,
fazendo uma aposta: ele iria nas outras mesas do bar oferecer os doces, caso
não vendesse nenhum iria voltar e teríamos que comprar os produtos. Obviamente,
eu recusei qualquer aposta.
Ele foi oferecendo os doces em outras mesas e, mesmo já
longe, falando conosco sorrindo, dizendo que ia voltar. Mas uma vez falei que
ele fosse embora e tal. Voltei a conversar com J. (primeira letra do nome do
rapaz que me acompanhava) e beber. O garoto foi embora que nem percebemos. De repente,
fui pegar o celular para conferir a hora. Surpresa! Cadê o celular? Foi aí que
demos conta que o garoto usou toda uma estratégia para prender nossa atenção e
pegar o celular sem que percebêssemos.
J. ficou revoltado, mais sentido que eu diante da situação.
Fomos reclamar com a direção do bar. Mas eu fiquei aparvalhado com aquele
menino e sua capacidade de captar a atenção das pessoas para cometer um ato
infracional.
Eu estava há uns nove meses com aquele celular. Mudei
rapidamente as senhas do twitter, instragram e gmail. Pedi o bloqueio do número. Fiquei pensando nas fotos que
estavam armazenadas e contatos que eu tinha perdidos. Contudo, depois disso
tudo comecei a rir de tudo aquilo, sobretudo, do nosso abestalhamento,
especialmente o meu, diante do garoto.
Saímos do bar. Fomos até uma conveniência. Compramos vinho
barato e pipocas. Pegamos um uber e
viemos ao meu apartamento. A noite não foi de toda ruim...
PS: dois meses depois, quando eu esperava o ônibus para ir
trabalhar, dois rapazes numa moto, levaram o celular que eu tinha comprado
substituto do anterior que havia sido levado pelo garoto no bar.