domingo, 2 de setembro de 2018

"Meu primeiro tiroteio"


Diz o jargão que pra tudo tem a primeira vez. Nem sempre isso é possível; por exemplo, acho que a maioria das pessoas nunca vai chegar a ficar rica; o sistema capitalista exige a distribuição de riqueza desigual. Mas pra tragédia, acho que muita gente vai passar. Pois ontem num é que experimentei uma?

Eu ia para casa de uma amiga discutir algumas questões de um projeto cultural de dança que será apresentado agora em setembro, outubro e novembro. Desci no terminal da integração do Varadouro. Comprei uma tapioca e um café. Fui andando bem devagar em direção a antiga Central de Polícia (antigo prédio que torturava líderes durante a ditadura civil-militar), comendo a tapioca e tomando café.

Quando me aproximo dos pontos que ficam os transportes alternativos, começa um tiroteio mais na frente. E agora, o que fazer? Não sabia se eu corria, deitava, ficava parado. Abaixei-me até passar o momento tenso. Vi pessoas correndo pra um lado e pra outro.

De repente, vem um senhor em minha direção com a mão na barriga, com um pouco de sangue. Não dava pra imaginar que ele tinha sido baleado. Senta na calçada. Olha pra um lado e pra outro. De repente, aparenta uma tontura. Cai pra trás na calçada. Segundos depois estava morto. A polícia chega, mas não tinha nada mais o que fazer.

Vou seguindo meu caminho, com o corpo um pouco tremendo e o medo tomando conta de mim. Pela imprensa, tempos depois, vi que foi um “encontro” de grupos rivais; apenas o senhor morreu e mais duas pessoas ficaram feridas.

Esse ano já fui assaltado duas vezes em João Pessoa. Conheço vários amigos que também foram e muita gente que perdeu algum amigo, parente ou conhecido nessa “guerra civil” que o Brasil atravessa. É triste se ver diante de uma política de segurança pública ineficaz e também diante de propostas eleitorais populistas que, talvez, possa piorar o quadro de violência que o país vive.

Por trás disso tudo, está essa inútil guerra às drogas; está também a falta do Estado nos lugares mais carentes; a falta de perspectiva de muitos adolescentes e jovens em seguir uma carreira decente (trabalhei dois anos com adolescentes em conflito com a lei e ouvi relatos tristes sobre suas existências precárias e “criminosas”).

Época eleitoral serve (ou não) pra gente refletir sobre os caminhos (ou descaminhos) que nossos governantes e parlamentares prometem nos levar (ou desviar).

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