domingo, 24 de março de 2019

A Volta do Boêmio no Busão




Eu tinha saída da casa do crush em Manaíra. Fui pra Epitácio pegar um busão para a rodoviária. Precisava ir para Alagoinha. Peguei um livro e comecei a ler enquanto esperava o coletivo e continuei a leitura mesmo após ter entrado no transporte.

Quando o ônibus chega na parada da lagoa, como sempre, muita gente desce e muita gente sobe indo em direção ao terminal de integração do Varadouro. Mas dessa vez entrou um senhor, certamente com mais de 70 anos, deu boa tarde aos demais passageiros, sentou e começou a cantar.

De repente paro a leitura assim que sua voz grave começa a entoar “A volta do Boêmio” de Nelson Gonçalves. Guardo o livro e fico, mentalmente, cantando “Boêmia / Aqui me tens de regresso / E suplicante te peço / A minha nova inscrição”. Que beleza! Quando ele ia iniciar o trecho seguinte, um outro senhor, sentado um pouco atrás de mim, canta “Voltei pra rever os amigos que um dia / Eu deixei a chorar de alegria / Me acompanha o meu violão”.

Parecia algo combinado. Os dois vão cantando enquanto o ônibus segue seu destino, passando por baixo do viaduto e entrando no Varadouro. E canto também, como falei acima, mentalmente; não queria atrapalhar aquele dueto belíssimo que rompia com o ordinário das viagens cotidianas no transporte coletivo de João Pessoa.

Quando chegamos no terminal de integração, enquanto todos começam a descer do ônibus, eu vou me demorando propositadamente para falar com o senhor que iniciou a canção do velho Nelson. Parece que ele adivinhou meu intento e me diz: “Ontem eu tava cantando no ônibus e uma mulher evangélica disse que eu estava endemoniado”. Minha resposta: “o demônio estava nela por não reconhecer a beleza poética e o dom divino em canções como ‘a volta do boêmio’”. Ele ri e sigo meu destino.

Compro minha passagem pra minha terra natal e viajo feliz.

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