quinta-feira, 31 de março de 2011

Vinte e quatro anos. E daí?

Essa semana, mais precisamente segunda-feira, fiz vinte e quatro anos. Já sou formado em História. Estudo Direito. Trabalho desde os dezenove anos. Resolvido em muitas áreas de minha vida.

Como eu já falei várias vezes por aqui, em postagens parecidas, o meu ano novo começa todas as vezes que o Criador renova mais um ano de vida em mim.

Aproveito, no dia comemorativo ao meu nascimento, para fazer uma auto-avaliação de minha existência. Muitas pessoas tiram esse dia pra celebrar. Eu não. Prefiro um retiro. Um retiro interior. Uma saída do mundo real para o mundo do Eu. Então, reconheço meus erros, vejo o que tenho que mudar; em relação aos acertos, aos avanços, procuro uma forma de consolidá-los ainda mais.

Esse ano não cumpri, por inúmeros motivos, um deles foi a realização de uma prova de Direito Civil, meu ritual de aniversário. A manhã de 28 de março começou bem, mas logo em seguida um fato me desnorteou todo. Uma das lentes dos óculos quebrou. Como sou míope, isso significou um problema considerável. Foi um fato emblemático, contudo.

O fato de eu ser míope, uma miopia até considerável, me impossibilita de fazer qualquer coisa sem meus óculos. Eles são a janela para que eu possa ver o mundo de forma clara, correta e sem enganos. Sem minhas lentes não consigo viver bem.

Ultimamente tenho perdido a esperança no ser humano. São tantos os fatos e situações extremamente irracionais acontecendo que minha fé em dias melhores, em alguns momentos, como esse agora, fica retraída sobremaneira.

Eu bem que poderia comentar alguns fatos anteriores ao meu aniversário, mas como que para confirmar minha descrença no progresso espiritual da pessoa humana, essa semana outros movimentos desencadeados por dois representantes legítimos do povo brasileiro aumentou meu “ateísmo”.

Ao ver, ler e ficar ciente de tantas ocorrências de discriminações, preconceitos, agressões e assassinatos de pessoas pelo simples fato de ter um comportamento sexual, religioso ou um estilo de vida diferente da maioria heterossexual, cristã e normal, fico mais descrente no futuro.

Ao ver, ler e ficar ciente de invasões a países antes amigos, agora inimigos, somente pelo simples fato de que o interesse econômico de ontem não é o mesmo de hoje, fico mais descrente no futuro.

Ao ver, ler e ficar ciente de que em nome do progresso, do crescimento econômico as pessoas estão devastando as nossas matas, matando nossos rios, expulsando as populações ribeirinhas e índios, verdadeiros donos desse país, fico mais descrente no futuro.

Ao ver, ler e ficar ciente de que os homens e mulheres de Deus, que deveriam exercer o ministério profético nas duas dimensões de denúncia e anúncio, que deveriam estar lutando pela implantação do Reino proclamado por Jesus, mas que estão em conluio com todas as situações acima descritas e outras mais, fico mais descrente no futuro.

Em alguns instantes eu preferia ter uma miopia grosseira diante da realidade social, política e religiosa dos dias hodiernos. Uma miopia que não fosse possível comprar óculos, usar lentes de contato ou fazer uma cirurgia para correção da visão. Ou que se fosse possível usar óculos, quando uma lente quebrasse, como aconteceu com o meu, não fosse possível mandar fazer outra.

A sabedoria popular ensina que cego é quem não quer ver. Pois então, diante de tanta coisa ruim, negativa e execrável perpetrada pelas pessoas eu preferia não ver e nem discernir, já que não posso fazer nada.

Lembrei-me de uma frase de Martin Luther King. O pastor negro norte-americano que lutou pelos direitos civis de sua classe uma vez disse:

 “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.”

Mais uma vez recorro à sabedoria popular. “Quem cala consente”, diz o ditado. Sendo assim, pergunto: o silêncio dos bons não é uma forma de aceitação e legitimação desse quadro de miséria ética, social, política e espiritual dos dias atuais?

Esse ataque é voltado para mim também. Sou covarde em muitas situações. Apesar de nesse ano ter tomado algumas decisões necessárias para meu crescimento pessoal e de ser uma voz, em alguns espaços, para denunciar situações de injustiça, pouco tenho feito diante desse estado de coisa.

Vinte e quatro anos de vida. O que tenho feito para mudar o mundo? Espero não ter que fazer mais uma constatação desse mesmo tipo, em relação a minha vida, quando eu tiver o dobro da idade que tenho hoje.

Ontem, lendo o livro dos Atos dos Apóstolos, uma frase de Paulo, o homem que antes perseguia os cristãos e depois do encontro com Jesus ressuscitado passou a ser perseguido, pronunciada aos anciãos da Igreja de Éfeso, me impactou. Diz o apóstolo dos gentios:

Mas de modo nenhum considero minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e o serviço que recebi do Senhor Jesus, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus. (Atos 20.24)

Quando uma causa justa toma conta do ser humano a ponto de sua vida se tornar menos importante do que a realização do seu objetivo, nesse instante ele encontra a felicidade. Não é que a vida perca o valor. Mas ao desejo de viver é somada a paixão pela causa.

A vida sem lutar pelo que se acredita é sem sabor.

A vida vivida por amor a uma causa, mesmo que esse objetivo leve à morte, como aconteceu com tantas pessoas, é digna de ser lembrada pela história.

Isso lembra o discurso de Jesus dirigido aos seus discípulos:

Quem procura conservar a própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. (Mateus 10.39)


Enquanto não chego a esse ponto tenho que me preparar em todos os aspectos, e suplicar a misericórdia divina para minha vida.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Amor em cores



Hoje escutado Toda forma de amor de Lulu Santos comecei a refletir sobre esse sentimento e sua manifestação diversa. Não quero falar sobre o amor ágape, o amor que arrebata, amor que é divino. Em outra oportunidade tecerei alguns comentários sobre ele. Mas ressalto o amor heros, amor que aprendi na escola dominical da igreja evangélica que eu participava, que é o sentido entre um homem e uma mulher, sentimento que envolve erotismo, atração física.

Naquele tempo eu não acreditava na possibilidade de duas pessoas do mesmo sexo poder viver uma relação envolvida pelo amor. O discurso que eu ouvia era de que Deus fez o amor  para ser vivido entre um homem e uma mulher, portanto qualquer sentimento que fugisse a essa norma era considerado abominação e pecado. Afinal, como canta Toinho de Aripibú se Deus tivesse feito homem pra casar com outro não seria Adão e Eva tinha feito Adão e Ivo.

Ainda evangélico vi dois filmes que foram essenciais para a guinada na minha visão sobre o amor. Todas as cores do amor é um filme que retrata o amor manifestado das mais diversas formas entre as pessoas sejam elas hetero, homo ou bissexuais. O segredo de Brokeback Mountain que conta a história de amor entre dois jovens vaqueiros na região oeste dos Estados Unidos. Uma fascinante narrativa romântica e dramática. Essa semana no Facebook, um amigo virtual escreveu que tinha acabado de chorar ao ver o filme.

Na literatura também elenco dois livros surpreendentes. O Terceiro Travesseiro de Nelson Luis de Carvalho Durante que narra a aventura de dois amigos, que na adolescência descobrem-se apaixonados e têm de enfrentar os pais, as famílias, os colegas de escola e toda a sociedade para poderem viver seu amor plenamente, sem hipocrisia ou culpa. O curioso caso do quatro é outro livro que fala sobre a descoberta do amor por outra pessoa do mesmo sexo, só que envolve também uma outra pessoa do sexo diferente, ou seja, a história é um triangulo amoroso entre dois homens e uma mulher. Ambos os livros ressaltam a bissexualidade de um dos personagens. Ambos os livros também estão disponíveis para baixar em vários sites.

Acho dispensável falar sobre o amor heterossexual. A quantidade de livros, filmes, novelas e músicas existentes a respeito é imensa. Todos os dias as pessoas se deparam com artistas, poetas, estudiosos que representam, cantam e falam desse tipo de amor. Já em relação ao o amor que não ousa dizer o nome a escassez literária, cinematográfica e científica é grande Fernando Pessoa uma vez disse que o amor é que é essencial, o sexo é só acidente, pode ser igual, ou diferente.


Experiências de amigos, de pessoas próximas e próprias me fizeram repensar meus conceitos pré-concebidos e idéias sobre o sentimento que arde sem se ver. Como tudo na vida é diverso, plural, múltiplo, e o amor faz parte da vida, ele não pode ser uniforme, de uma cor apenas. A esse respeito Fernanda Brum e Emerson Pinheiro, ambos cantores e pastores, cantam As cores do amor:




Se eu pudesse descobrir
Todas as cores do amor
Saber se é branco como a paz
Ou azul da cor do mar.
Se eu pudesse descobrir
Os segredos do amor
Seria como desvendar
Mistérios deste teu olhar.
O amor não é cor
Ele é simples demais
Como a brisa ele vem
No frescor da manhã
Mas foi no teu olhar então
Que eu pude perceber
Que as cores do amor
Vejo em você.
Não há mistérios
No amor que há em você
Porque as cores do amor
Vejo em você
Não há mistérios, nem segredos
No amor que agora

 No mais, tô indo embora...


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