domingo, 28 de agosto de 2011

A semana que se foi, reflexões sobre Deus e Etc.



Existem semanas que nos marcam profundamente. São aquelas que vários eventos acontecem ao mesmo tempo, durante os dias, gerando sentimentos diversos, reações opostas, mas de alguma forma complementares. É como se após o choque, a dor, o sofrimento viesse imediatamente o gozo, o prazer, a vitória. Ou mesmo o contrário.

Sem nenhuma dúvida, essa semana foi cheia, bem plural. Muitas coisas aconteceram. Coisas boas e más. Alegres e tristes. Todos os aspectos de minha vida foram contemplados. Minhas várias identidades puderam vir à tona diversas vezes. Os aspectos religioso, político, afetivo, sexual, familiar, intelectual, profissional e financeiro, enfim tudo que caracteriza a minha singular pessoa, desabrochou nessa semana que findou ontem.

Não pretendo entrar em detalhes em cada cena que protagonizei. É quase impossível. Daria um livro. Mas algumas coisas, algumas singularidades, aquelas que mais me marcaram, eu preciso escrever. Sinto essa necessidade. Escrever é exorcizar meus demônios, meus medos, meus temores. Escrever também é externar meus júbilos, meus sentimentos mais positivos, meus êxtases. Por isso, vou fazer algumas divagações joelianas.

Em determinado dia, acho que foi terça-feira, algumas coisas aconteceram na minha caverna. Alguns ruídos roubaram a minha paz. De repente me senti inseguro de tudo. O que é pior, inseguro da vida. Não aquela insegurança diante de agentes externos, do tipo que enxameia as páginas policiais. Mas daquele tipo de insegurança que mancha o nosso livro da vida, onde ficam escrito nossos relatos pessoais, nossas angústias interiores, que ninguém ver, mas arde como brasa.

Um amigo me mandou, nesse dia, um sms perguntando como eu estava. Eu me sentia tão sufocado, que respondi parecendo um cara que está a ponto de morrer na cadeira elétrica, do tipo que existem mais alternativas, que o destino está traçado, que nada mais se pode fazer para mudar o caminho.

É foda a vida. Sempre digo que ela é agridoce. Mas parece que o sabor amargo prepondera sobre o lado doce dela. Quando a pessoa começa a caminhar pelo deserto, sem esperanças, caindo, de repente ver um oásis, fica feliz, se levanta, corre, prossegue cheio de alegria, mas percebe que tudo não passou de uma miragem. Será que os dias maus sempre vão ser superiores aos dias bons?

No dia seguinte, pelo Twitter, conversando com um padre querido de São Paulo, começamos a falar sobre as dificuldades da vida. Em alguns momentos, eu dizia a ele, parece que tudo está perdido, é quando se perde a libido da existência. Ele me responde falando que não podemos desistir nunca. Sempre seguir avante apesar dos percalços. Na mesma hora, eu recordo de uma música bastante cantada nos velórios de pessoas católicas que ia quando era mais novo. “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai. Se as tristezas dessa vida quiseram te sufocar, segura na mão de Deus e vai.”

Vezenquando bate uma revolta. Diante de tanta coisa ruim que existe, eu digo que se existe um culpado é Deus. Dias atrás, na casa de um amigo, conversando com a mãe dele, ela desabafou um problema comigo. Na mesma hora ela coloca em choque a existência divina. Outra amiga presente repreende-a. Eu a defendo. E faço coro à voz dela. Digo que concordo com as palavras dela. Que diante do já passei a posso faço o mesmo questionamento. Mas na mesma hora voltamos atrás. Concordamos que as coisas malvadas presentes na existência é responsabilidade humana. Além disso, Deus não nos trata como marionetes, mexendo sempre nos nossos passos. Por isso, o discurso religioso que Deus faz isso ou aquilo, é falso muitas vezes.

Acredito na intervenção divina, mas em casos que isso é extremamente necessário para cumprir uma missão especial. Foi assim com Moisés, quando Deus agiu na mãe dele e depois na filha de faraó. Foi com Balaão, quando a jumenta livrou ela da morte por três vezes e depois abriu a boca pra falar. Foi assim com Jonas quando tentou fugir dos planos divinos. Com Paulo, no caminho para Damasco, quando aconteceu aquele evento extraordinário e ele ouviu voz de Cristo, ficando cego.

Deus pode fazer acontecer. Quando Ele assim desejar. Na maioria das vezes, ele deixa a responsabilidade das coisas a cargo das pessoas. E quando se é oprimido, explorado, maltratado pelas pessoas que mais deveriam ajudar e acolher os pequeninos, os mais necessitados, isso em todas as áreas da vida, a revolta é muito grande. Aí se passa questionar o motivo de Deus não agir, não intervir para sanar o mal.

Já se disse que Deus e a fé é pros fracos, pros ignorantes. Quem conhece a ciência, quem vive bem financeiramente, quem tem níveis de estudo elevados não precisa de religião. A filosofia e a ciência explicariam todas as questões que as religiões, ao longo da saga humana, explicaram baseadas em eventos divinos.

Eu sou fraco, sou ignorante. Por mais eu tente me distanciar da religiosidade, de Deus, da fé eu acabo me aproximando mais. A centelha do sagrado nunca se apaga definitivamente dentro de mim. Deus pode não fazer nada para mudar o curso da história, mas o conceito que existe uma Pessoa que está sempre a velar e cuidar da gente, me possibilita segurança, certeza e sentido na vida. Mesmo diante de problemas que enfrento, que parecem que nunca vão ter fim, dobrar os joelhos, fazer uma oração e suplicar a ajuda divina é uma experiência sem igual.

Como disse acima, quando eu conversava com esse padre amigo meu, e a música segura na mão de Deus me veio à memória, imediatamente eu pensei que Deus intervém dessa forma. Ele nos ajuda a caminhar, a seguir em frente, ainda que as coisas pareçam não ter mais solução. Mesmo que nada mais consiga dar conta das angústias, saber que Ele existe alivia o sofrimento, a dor, ajuda a estancar, momentaneamente, as lágrimas.

Ainda essa semana, a propósito das experiências ruins, eu comecei a ouvir “sabor de mel” de Damares. Chorei. Senti algo forte. Mais vez aquele empurrãozinho pra seguir a frente, pra segurar a mão de Deus e ir, ainda que águas tentem afogar, ainda que as tristezas tentem sufocar, a mão de Deus sustentará, como diz a outra canção.

A de Damares é mais significativa ainda. Começa dizendo que o agir de Deus é lindo na vida de quem é fiel, no começo tem provas amargas, mas no fim tem o sabor de mel... Ela continua com uma letra cheia de esperanças para quem sofre, quem chora, quem padece. Nessa semana passada, me ajudou muito a enfrentar meus temores mais fundos.

Como disse a semana foi cheia de sentimentos por vezes contraditórios. Muita coisa se misturou ao mesmo tempo. Mas o que mais ficou foi a minha fé renovada em Deus. Sei que o escrevo agora, amanhã, talvez, eu pense diferente. Contudo, escrevo o que sinto. E o que sinto no momento é a certeza de que, por mais que muita gente pense diferente, e por isso sofro na pele e na alma as conseqüências disso, sou o que sou por Deus me fez assim.

Tentei mudar de várias maneiras possíveis. Foi um calvário minha aceitação pessoal. E o calvário não terminou. Pelo contrário, parece que vai perdurar por muito tempo. Pode ser que termine em um ano, em dois, em dez, mas terminará. Como diz Damares, no fim o gosto amargo vai desaparecer. Se não desaparecer nessa vida, se a morte vier antes, pouco importa. Talvez seja até melhor, porque espero acordar em outra vida, mais justa, mais fraterna, mais solidária do que essa aqui.

Enquanto isso não acontece, vou lutando por aquilo que acredito. Como canta Almir Sater, “penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente. Como um velho boiadeiro levando a boiada eu vou tocando os dias pela longa estrada...” Quando o novo horizonte surgir terminará minha luta.

domingo, 7 de agosto de 2011

Aquele beijo



Aquele beijo. Ah, aquele beijo! Tantas vezes desejado. Tantas vezes reprimido. Por quê? Ora, medo, timidez, vergonha... Sei lá, mas de uma forma ou de outra nunca pensei em concretizar aquele anseio de adolescente.

Quando te vi, parei. Falei contigo me sentindo o cara. Quem estava comigo ficou olhando, me pediram depois para fazer uma apresentação. Mas não. Eu disse não. Não queria dividir a sua atenção com mais ninguém. Egoísta, eu? Todo ser humano é. Não fujo a essa característica tão singular do homo sapiens sapiens.

Você sai. Meus olhos, algum tempo depois, começam a pesquisar ao meu redor. Tanta gente. Tantos rostos diferentes. Alguns de uma beleza fora do comum. Não te vejo. Será que saiu com alguém? E se saiu será que volta pra festa? Fico triste.

Horas depois te revejo. Beijando uma boca. Ai que raiva! Que ciúme! Nesse momento voltei a ter dezessete anos. Naquele tempo você começou a namorar. E dentro de mim, lá no espaço reservado aos sentimentos, as larvas começavam a borbulhar. O vulcão da raiva quase entrou em erupção. Mas tapei. E o fogo ficou me consumindo.

Pedi mais uísque. Queria beber. Dançar, mesmo sem saber dançar. Cantar aquelas músicas chatas de forró de plástico sem letras profundas. Já sinto que meu corpo está mais leve, conseqüência das doses de álcool circulando no meu sangue.

Fumo um cigarro. Os tragos me deixam um pouco tonto. Viro os olhos. Cadê você? Sumiu de novo. Mas, para meu alívio, a figura humana que te tomava pelos braços está próxima. E isso diz que você não saiu para satisfazer algum desejo lascivo.

A bebida acaba. Saio com os amigos para comprar mais. Mas não pretendíamos voltar. Já eram umas três da manhã. Íamos beber na praça. Em frente da Igreja. Sacrilégio? Não. Talvez uma conduta vedada, mas nada que fosse macular a calçada da Matriz.

Quando estávamos saindo daquele ambiente você vinha. Diminuo o passo. Iria falar contigo. Dizer o que queria. Gaguejei, claro. Normal. Tentei enrolar. Contudo, falei. Pronto é isso. Desde o tempo que estudávamos nas primeiras séries do Ensino Fundamental. Sempre tive vontade de te beijar. Quando éramos evangélicos, por algum tempo quando desejávamos ser missionários na África, pensei que iria casar contigo.

Fiquei tão nervoso. Mas é isso que quero. E me aproximo mais. E você também. Mais perto. Os rostos a poucos centímetros. Os narizes se tocam. Os lábios se unem.

O tempo parou. Nada ouvi mais naquele instante. Nada vi. Só senti você. Só queria te beijar. E que beijo! Um beijo de se apaixonar. Mas faz tempo que não consigo nutri esse afeto por nenhuma pessoa.

Ontem te vi. Desejei tanto repetir a façanha do São João, mas eu estava retraído. Sentei na outra mesa do bar, fiquei te observando, vezemquando meus olhos iam do local que eu estava para o que você se encontrava.

Na ida pra casa eu precisava falar contigo, queria ver você de perto, bem perto. Queria sentir teu rosto, bem juntinho ao meu. Virei o menino tímido de novo. Só consegui te beijar na face. Mesmo assim, foi bom. O contato de nossas peles me fez bem.  Outro dia, talvez, quem sabe não tenho coragem e peço, como um pirralho doido por doce pede a mãe, um beijo teu.

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