Eu não costumo “ajudar”
pedintes nas ruas e no transporte coletivo de João Pessoa. Poucas vezes vejo
sinceridade em quem pede. Posso ir para o inferno por causa disso? Antes o
inferno do que o céu com Silas Malafaia, Edir Macedo, Marcos Feliciano e toda a
corja espiritual brasileira...
Dias atrás eu vinha da aula
de Jornalismo na UFPB. Peguei o 1510. Quando o ônibus chegou ao José Américo e
parou em um dos vários pontos do bairro, uma senhora subiu e pediu a alguém que
pagasse a sua passagem. Eu tinha a impressão de já tê-la visto em algum lugar. Uma
jovem, que estava sentada ao meu lado, foi até o cobrador e pagou.
Assim que a senhora entrou
começou a pedir. Aí lembrei dela. Eu estava em um ônibus, há uns dois anos,
acho que vindo de Tambaú, quando a senhora fez a mesma coisa: subiu no busão,
pediu que alguém pagasse a passagem e depois começou a pedir, contando que
estava passando necessidades e tal.
Eu dei, naquela vez, acho
que uma moeda de R$ 1,00.
Quando ela estava perto dos
últimos bancos, ela cismou com uma senhora que estava sentada. Começou a
discutir e proferir palavras ásperas contra a mulher que, segundo a
pedinte, tinha resmungado alguma coisa. “Se não quiser ajudar, não reclame”,
“Deus vai te castigar”, “De de que adianta ir pra Igreja e não ajudar o pobre”,
etc. Eu fiquei constrangido com a cena e com a forma da pedinte agir.
Dava para ver pelas roupas
que ela devia ser de alguma das milhões de igrejas evangélicas que se
multiplicam no Brasil todos os segundos.
Pois então. Quando ela
entrou no 1510, eu lembrei da cena passada anos antes.
Ela começou a pedir. Não dei
nada. Fiquei imaginando se ela iria começar alguma discussão também. E de
repente, com uma passageira que estava sentada no banco ao lado do meu, ela começou a
discutir.
De acordo com a versão da
pedinte, a passageira teria falado para sua colega que estava no mesmo banco: “tu vai ajudar?”.
Ela escutou a começou a proferir as mesmas palavras que da outra vez, mas bem
mais fortes, inclusive criticando o fato de a senhora que questionou a outra do
lado, usar um terço, falando que aquele Deus dela estava morto, que ela ia para
o inferno, que maldições iam cair sobre ela e outras pregações típicas de
religiosos fundamentalistas.
Eu estava com um livro na
mão, mas não consegui mais me concentrar. Todo mundo no ônibus ficou olhando
para aquela senhora indefesa que entrou no coletivo graças a uma passagem paga,
que tinha pedido ajuda pelo amor de Deus, usar o nome do divino para jogar
palavras carregadas de negatividade em uma pessoa.
Ficamos todos aliviados
quando, poucos minutos depois, a pedinte missionária desceu em outra parada. E
desceu falando de maldições e outras coisas que o cara lá de cima vai fazer em
quem não ajudá-la.
Mais um motivo para eu não
querer ir para o céu. Além dos senhores de terno e gravata citados no começo do
texto, não quero ter a companhia dessa senhora por toda a eternidade. Pelo
menos não no céu que essas igrejas
pregam nos cultos dominicais.
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