
Adoro biscoitos recheados. Essa paixão é desde minha tenra infância. Lembro-me de quando estudava a pré-escola. Na minha lancheira sempre tinha um biscoito recheado. Fui crescendo e o desejo aumentando.
Uma vez quebrei o braço. Eu estava conversando com a galera da vizinhança numa noite, sentado no meio-fio, quando fui me levantar cai sobre o meu braço. Tive que no dia seguinte ir ao Pronto Socorro de Fraturas de Guarabira para engessá-lo. Mas fiquei feliz quando meu pai passou, na volta para casa, em um mercadinho e comprou uns biscoitos recheados só para mim! Que alegria! Não teria que dividir com minhas irmãs os deliciosos biscoitos recheados de morango e de chocolate.
Até os meus dez anos eu morava numa ladeira distante do centro. Sempre que conseguia juntar umas moedinhas descia a ladeira para comprar biscoitos.
Outra vez, já morando no centro e próximo aos mercadinhos, comprei um biscoito recheado. Mas eu tinha a mania de comprar e ir para o meu quarto, escondê-lo e quando não tinha ninguém por perto, comia. Dessa vez não consegui fazer isso. Como solução, resolvi fazer uma caminhada até a Fazenda Experimental da Emepa, sob o sol do meio-dia, para poder comer meu delicioso objeto de desejo sozinho, sem ter que dividir com ninguém. Quando passava pela Rua do Cajá, um cara da Igreja que eu fazia parte (Universal do Reino de Deus) me perguntou, da porta da avó dele, para aonde eu ia naquela hora. Eu respondi que ia caminhar. Ele estranhou. Contudo, o que me deixou surpreso e triste foi sua decisão de ir comigo; eu teria que dividir meu precioso biscoito recheado de chocolate com ele!
Com o biscoito numa sacola plástico preta fomos caminhar. Na metade do caminho eu não agüentei ficar sem cumprir o propósito que me levou a caminhar naquele horário tão inconveniente. Tirei o biscoito da sacola, por educação ofereci um a ele, torcendo por sua recusa. O peste aceitou. Tive que caminhar comendo um biscoito de menos de um real, que deveria ser só meu, com esse cara. Que raiva!
Depois que o biscoito acabou eu disse a ele para voltarmos. Ele achou esquisito porque estávamos na metade do caminho. Foi quando eu falei pra ele que tinha ido caminhar para poder comer aquele biscoito. Ele riu. Voltamos.
Decidi declarar minha paixão por biscoitos recheados porque acabei de comer dois. Não tomei café hoje. Estou de regime. Mas de nove horas não suportei a fome e pedi a uma colega de trabalho para comprar um. Como ela trouxe dois, e depois de devorar o primeiro continuei com vontade de comer mais, o segundo teve o mesmo destino. Eu que não vou ficar sofrendo de fome para ficar mais magro. Acho que deve ser pecado fazer isso. Muita gente no mundo morre de fome por falta de dinheiro para comprar comida e eu com dinheiro fico morrendo de fome por vaidade? De jeito nenhum. É claro que depois vou olhar me olhar no espelho e tentar comparar meu corpo com o corpo dos caras das revistas, dos sites, da televisão e chorar porque não como eles.
Sou, entretanto, feito à imagem e semelhança de Deus, segundo a Bíblia, e isso me conforta.