domingo, 21 de novembro de 2010

Minhas paixões de criança



As crianças também amam? Não sei o que os especialistas no assunto pensam a respeito, mas pela minha própria experiência garanto que sim.


Todo mundo que me conhece, que me ler, que me segue no Twitter, que me tem no Facebook ou Orkut sabe que tenho uma personalidade exageradamente romântica. O que essas pessoas não sabem é que carrego esse problema desde quando era criança, desde quando o mundo dos desenhos animados se confundia com a realidade concreta.


Não consigo lembrar qual foi o ano da primeira garota que gostei. Minha memória não é precisa nesse sentido, mas consigo lembrar de todas que gostei. Meninas da minha idade, meninas mais velhas, professora do ensino infantil e até apresentadoras da TV.


Meu primeiro beijo foi com a filha de um colega de trabalho de meu pai. Não foi uma única vez que nos beijamos. Mas um dia eu tava com vergonha porque nossos pais estavam próximos, então decidi ir pra casa. Pra que fui fazer isso. Ela veio atrás de mim e enquanto eu pulava a cerca fugindo dela, fui atacado com um cabo de vassoura. Não lembro se chorei. Lembro que doeu pra caramba. Se fosse nos dias hodiernos eu iria a Justiça processá-la baseado na Lei Maria da Penha. Mas a Maria da Penha não é uma Lei de proteção das mulheres?, pode alguém perguntar. Sim, contudo, tenho aprendido no curso de Direito que no meu caso eu poderia usar a analogia.


Outra menina que eu tive um caso era carioca. Não lembro do nome dela. Era sobrinha de uma vizinha nossa. Veio do Rio de Janeiro passar uma temporada na casa da tia, junto com a mãe. Crianças têm uma facilidade pra fazer amizades, né? De novo no local de trabalho do meu pai. Num instante que nossos pais não prestavam atenção, eu a chamo para um canto e peço um beijo a ela. Gostei. Pedi outro e mais alguns outros. Fiquei apaixonado. Quando ela foi embora, eu sonhava todas as noites com seu retorno. Hoje estou com vinte e três anos e isso não ocorreu.


Outra paixão infantil foi a filha de uns amigos de meus pais que moravam em Cuitegi, cidade próxima à minha. De vez em quando íamos a casa deles e eles vinham à nossa. Eu a achava linda. Sua cor de canela. Uns cabelos bonitos, lisos, pretos. Era doido pra vê-la sempre. Uma vez, ela veio com seus pais e suas irmãs lá pra casa. Foram, durante a tarde, no local de trabalho do pai, sempre lá que acontecia essas coisas. Enquanto nossos pais conversavam distante de nós, fomos nos dirigindo para um lugar atrás da estação de tratamento de água. Lá ela me pediu em namoro. Certamente eu deva ter ficado corado, porque na hora me senti cheio de vergonha e de timidez. Eu disse que meus pais não deixavam. Mas no fundo eu queria namorá-la. Nos beijamos uma vez. Dessa vez não foi eu que tomei a iniciativa. Ela pediu outro beijo, neguei porque vi que nossos pais estavam se aproximando. Ela insistiu. Eu fui me afastando e sem ver acabei batendo com a testa na quina de uma parede. Saiu tanto sangue nesse mundo. Até hoje tenho uma pequena cicatriz na minha testa, está sumindo, mas dar pra ver ainda. Depois desse evento não nos vimos mais. Os pais foram morar em outro estado. A última notícia que tive foi que ela estava morando com um traficante. Se eu tivesse aceitado aquele pedido de namoro...


Havia uma professora na escolinha que eu estudava que me encantava. Ela era nova. Não me ensinava, mas sempre estava por perto. Sempre eu sonhava com ela em minhas noites infantis. Anos depois nos encontramos numa Igreja evangélica. Era estava noiva e casou. Mas nesse tempo eu já não gostava dela.


Minha outra paixão surgiu na segunda série. Uma coleguinha. Essa paixão durou até algumas séries posteriores. Mas eu fui crescendo e aquela desinibição que eu tinha quando era menor foi desaparecendo. Nunca me declarei pra ela. Sempre brincávamos na escola, na praça da cidade, no pátio da casa dela, nos ônibus da prefeitura. Eu sempre desejando chegar um momento de beijá-la. Uma vez eu disse a uns colegas da escola isso. Eles passaram a ameaçar a contá-la que eu gostava dela. Para que isso não me ocorresse era obrigado a dar uma mesada a eles. Isso durou um bom tempo. Meu pai sempre me perguntava por que eu pedia tanto dinheiro, eu dizia que era pra pagar os picolés fiados que eu comprava em frente à escola. Pois é, eu já fui extorquido. Mas o tempo passou, fui descobrindo outras meninas. Nos separamos de série, nos encontramos novamente no ensino médio. Pouco depois ela casou. Hoje está divorciada e com uma filha. Será que amores de infância podem voltar?


Tive duas outras paixões durante a infância. Eu estava à beira da adolescência. Estudava o Catecismo para fazer a Primeira Eucaristia. As duas estudavam comigo. Uma morava num Engenho. Estudava em Guarabira. Sempre passava, junto com a irmã e um peão, cada um num cavalo bonito. Eu ficava todos os dias em frente de casa para vê-la passar na ida pra escola e na volta pro Engenho. Aguardava com ansiedade o sábado do Catecismo. Nem precisa dizer que eu sonhava com ela, né? Nesse tempo eu tinha me tornado muito tímido, por isso nunca rolou nada. Tempos depois o Engenho do pai faliu. Tiveram que vender e foram morar fora. Nunca soube notícias dela.


A outra morava na cidade mesmo. Sua rua não era muito distante da minha. Essa paixão durou mais tempo. Todas as vezes que eu saía da escola eu passava em frente da casa dela. O pior é que um monte de outros garotos era afim dela também. Meu melhor amigo de infância era um. Na formatura da quarta-série, eu e meu amigo disputamos o convite para ela ser a madrinha na festa. Uma vez eu e ele, na minha bicicleta, ficamos indo e voltando sem coragem de chamá-la. Numa dessas voltas, acabamos caindo em frente de sua casa. Ela saiu junto com a avó. Foi aí que ambos fizemos, ao mesmo tempo, o convite. Resultado: nem eu nem ele tivemos o prazer de tê-la como madrinha. Mas a paixão não morreu. Eu ia sempre com ele, durante a tarde, observá-la em um beco que dava para seu quintal. Algum tempo depois ela foi morar em outra cidade. Soube, alguns anos atrás, que tinha casado. Da última vez que a vi estava gorda, sem a beleza que havia me encantado nos meus dez e onze anos.


Eu nem falei que também fui apaixonado por Xuxa e Angélica. Então, eu sonhava com elas. Eu ficava com um ciúme danado quando assistia filmes que elas beijavam outros atores. Eu sempre me imaginava fazendo filmes com elas, beijando-as, salvando-as de algum perigo mortal.


O interessante é que minha história de vida, de meus afetos, sofreu uma involução. Nos primeiros oito anos de vida, eu quando era afim de uma menina ia atrás. Fui crescendo e isso em vez de aumentar foi diminuindo. Cheguei à adolescência muito tímido. Só uma vez ocorreu uma exceção, mas outro dia relato aqui. No meu tempo de evangélico tive três paixões, mas nunca tive de coragem de contar a elas. Eu me achava feio, fora de moda e, portanto, sem chances perto delas. Claro que não gostei das três concomitantemente. A última menina, já no fim de minha ilusão amorosa, contei a ela, mas nada aconteceu. Fui me retraindo ainda mais. Cheguei à casa dos vinte anos todo fechado. Entrei no curso de História e só no quinto ano fui me soltar, mas aí é outra história que não dar pra contar agora. Nesse ano, minha timidez está indo embora. Já namorei. Há dois dias teve uma festa de confraternização devido o Congresso Jurídico que ocorreu na UEPB. Lá, pela primeira vez, tomei a iniciativa de beijar uma menina, sem que ela antes tivesse dado em cima de mim. Pela primeira vez desde que a timidez se tornou um traço marcante de minha personalidade, porque, como escrevi acima, nos meus primeiros anos de vida a coisa era diferente...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ele não se decide




Estava sem saber o que dizer, sem saber o que pensar, sem saber como agir diante do fato de ter sido obrigado a reconhecer que sentimentos julgados inexistentes em sua vida estarem tão presentes quanto o desejo de conhecer uma nova pessoa. Além disso, teve que reconhecer um erro que nunca tinha passado em sua cabeça ter cometido.


A conversa com sua amiga da faculdade abriu fendas em sua alma, arranhou a moldura de seu coração, atacou a solidez de seus afetos. Foi como uma teofania. Ela foi como um anjo revelando o que estava escondido dentro dele, sufocando-o, enganando-o sem ele perceber.

Durante todo o caminho para casa, enquanto olhava a paisagem, o verde, as nuvens azuis, alguns animais que pastavam e algumas pessoas que cuidavam de seus roçados, ele pensava o quanto a vida, em determinados instantes e aspectos da sua vida, parece ser injustiça, incoerente, insensata, inexorável.

Muitos de seus amigos de infância, de adolescência, colegas do ensino fundamental e médio já estavam casados, outros divorciados, muitos com filhos, fizeram o que ele sempre teve vontade de fazer e não fez ainda, seja por medo de dar errado, seja por medo de encarar uma cidade grande, desconhecida, estranha, sendo ele mesmo desconhecido e estranho diante de uma multidão frenética, saíram de casa e ser tornaram homens e mulheres donos de suas vidas.

Ao pensar na conversa com sua amiga, ao lembrar dos antigos amigos e colegas, ele caiu em si e viu o quanto era imaturo, criança. Culpa a vida, mas no fundo ele sabe que o único culpado de tudo não está como deseja é ele mesmo. Ele com suas dúvidas existenciais, com seus conflitos de identidade, com seus monstros que tanto o assusta ao mesmo tempo que os alimentam, com seu receio de romper com a lógica que tanto critica, que tanto ojeriza, detesta, mas parece, às vezes, que ela faz parte do jardim de sua vida ao lado dos girassóis, das rosas, das margaridas e, portanto, recebe os mesmos cuidados para se desenvolver que as flores do bem.

Ligou o chuveiro. Deixou que a água banhasse aquele corpo, aparentemente, sem marcas, mas por dentro todo estigmatizado de afetos incompletos, recolhidos, guardados sob o manto do medo. Não agüentou muito tempo em pé. Sentou no chão do banheiro. Aumentou a velocidade do chuveiro. Ritualizou aquele instante. Transformou um banho normal em um batismo de sua vida, como rito para entrar na comunidade espiritual das pessoas amadas, realizadas, completas e sólidas em seus desejos e sentimentos.

A represa de sua alma estourou. As lágrimas jorraram abundantemente de seus olhos, misturando-se com a água, tornando aquele instante mais sagrado ainda.

Depois de alguns minutos levantou-se. Mirou sua imagem refletida no espelho. Os olhos vermelhos, o cabelo desalinhado, a cara de quem tinha chorado tanto o assustou. Pensou na experiência do banho. A sua tentativa de sacralizar tudo aquilo, entretanto, caiu por terra quando o celular anunciou a chegada de um SMS. Sorriu e teve raiva quando viu de quem era. É ambígua a reação dele diante da personagem que enviou a mensagem de texto. Assim como é ambígua a tentativa de esquecê-la concomitantemente ao anseio de conquistá-la.

Saiu do banheiro como uma pessoa normal. Nem parecia que era o mesmo que tinha entrado, que tinha chorado, que tinha ressignificado o seu banho para torná-lo um rito de passagem rumo a uma nova fase de sua vida.

Ele é uma criança ainda. Não sabe o que quer. Fica em cima do muro diante das escolhas necessárias para a sua realização pessoal. Mas um dia ele terá que decidir qual caminho seguir. Ninguém pode entrar no céu desejando está no inferno.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu finado

Hoje tinha tudo pra ser mais um dia de finados normal na minha vida. Acordei cedo, vi alguns telejornais, naveguei horas na net, vendo minhas redes sociais, sites e blogs políticos. Aqui em casa estávamos esperando amigos de Santa Rita que, anualmente, nesse período, aparecem por aqui.

Hoje tinha tudo pra ser mais um dia de finados normal se não fosse o fato de uma pessoa presente aqui em casa propor tomar uma cerveja. Estranhei o fato. Mas beleza, fomos a um supermercado e compramos algumas latinhas e uma garrafa de ice. Bebemos. Almoçamos. Fomos descansar.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de eu ter começado a escutar Chiclete com Banana, pensando no Carnaval, pensando na festa que vai ter em Campina Grande no próximo dia 21, pensando em beijar na boca, fazer amor e tantas outras coisas que as pessoas fazem em momentos de festa ao som da banda baiana. Baixei várias músicas pelo 4shared e fiz minha farrinha, solitário, em minha casa.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de depois de ter baixado as músicas de Chiclete, de ter acessado e comentado fotos, status e links no Facebook eu ter deitado na sala de minha casa e não no meu quarto. Mas até aí, sem problema. Mas eu só consigo dormir a tarde se for com som ligado. Como o computador fica próximo de onde eu iria descansar, coloquei um monte de músicas de Marisa Monte pra ficar rolando, enquanto eu viajava em meus sonhos.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de durante o sono, em meus sonhos, as músicas terem entrado em contato com meus desejos mais profundos, mais reprimidos, meus medos mais intensos em perfeita harmonia e me ter feito sonhar com pessoas e momentos que eu deveria ter deletado de minha vida.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de em um dos sonhos  alguns demônios, que eu jurava ter exorcizado dentro de mim, terem voltados com toda a força malévola em minha minha vida. E foi essa ressurreição inesperada de mortos, de medos, de sentimentos frustrados e desejos não totalmente realizados que me fizeram perder a serenidade e me deixaram literalmente de luto neste dia de finados.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de nessa tarde, durante os sonhos, eu ter tido a comprovação de que estava em uma bola de sabão. Desde uns dias atrás, minhas estruturas começaram a tremer um pouco diante de confronto direto com pessoas que exerceram sobre minha vida, sobre meus sentimentos, um domínio imperial. Mas pensei não ser nada demais. Mas nos sonhos dessa tarde... Acordei com a ligação de um amigo do EJC pra me pedir umas opiniões. Tentei voltar ao sono, mas sem sucesso. De repente lembrei-me dos sonhos, ainda ao som de Marisa Monte, dessa vez cantando “a dor da paixão não tem explicação, como definir o que só sei sentir, é mister sofrer para se saber o que no peito o coração não quer dizer”. Um deles me abalou complemente. Deixou-me, como algumas pessoas falam, chocado. Fez minha bola de sabão estourar. E tudo voltou a ser como antes... Pelo menos é o que sinto agora.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de meu lado romântico, sentimental, afetivo que eu reputava ter desaparecido ou pelo menos enfraquecido, ter vindo à tona com tudo. Eu estava nos últimos meses mais contido, mais moderado nesse sentido. Até tinha esquecido esse traço de minha personalidade que tanto me fez bem quanto mal.

Hoje tinha tudo pra ser um dia finados normal se não fosse o fato de eu ter morrido com tudo isso, virado um defunto, necessitado de que alguém acenda uma vela, reze e vele por mim. Quero descansar em paz. Quero me livrar logo desse purgatório. Quero poder ir ao paraíso, ver os anjos, me encontrar com Deus.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de mais um trecho da canção Ontem ao Luar de Marisa Monte explicar sinteticamente meu estado e fechar essas divagações de um idiota sentimental.

Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar em desesperação
Na teima de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará

Intercedam por mim!

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