quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Uma cicatriz que sempre se abre



Não entendo o motivo da vida, vezenquando, me trazer sentimentos passados. Afetos que foram fortes durante um determinado período, que tiveram início, meio e fim, me assaltam, me fragilizam, me angustiam.

Existe uma eterna saudade que nunca passa. Sempre fica aquele desejo de repetir várias vezes aqueles momentos mágicos vividos a dois. Em alguns instantes desaparece. Em outros voltam. E quando voltam vem com tudo, destruindo certezas, desestabilizando emoções, como se fosse para recuperar o tempo perdido que ficou guardado no meu interior.

São feridas mal cicatrizadas. O processo de reparo na lesão afetiva é sempre incerto. Quando penso que tudo foi cicatrizado, que existe a marca, mas sem nenhuma dor, eis que surge, de repente, a dor. Dor da perda mal explicada. Dor do sentimento recolhido no armário do meu coração.

Assim que sinto a dor, o sangue, da mesma forma que uma represa de água quando estoura, sai com fúria, destruindo tudo que existem pela frente. Nesse momento choro. Já me contive durante muito tempo para expressar meus sentimentos, mas aprendi que reprimi-lo só piora as coisas.

Deixo o sangue escorrer. Deixo a saudade envolver-me por completo. E fico contemplando o ausente que se faz presente em meus pensamentos.

Apesar de minha vulnerabilidade, consigo ser dono de mim, me levanto, tomo um banho frio, e permito que as águas me lavem.

Saio mais aliviado. O sangue já estancou. Olho para meu coração. A cicatriz começa a forma-se novamente. Toco nela. Está sólida. Sorrio de felicidade. Tudo passou. Só queria que ela não se abrisse mais... Mas esse reparo na minha alma nunca é bem feito. Só espero que dessa vez a cicatriz demore a romper.

Um comentário:

  1. "E fico contemplando o ausente que se faz presente em meus pensamentos."

    Parabéns, bom de ler.

    Suely Passos

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