Senti que algo não estava
bem assim que acordei. Eu tinha bebido na noite anterior e tinha esquecido a
forma como havia chegado em casa. Essa foi a segunda vez que o álcool me fez
esquecer detalhes importantes de fatos vivenciados durante momentos de farra.
Eu prometi que ia beber sem
tocar no nome interdito. Cumpri a palavra. Meus amigos já estão cansados de
ouvir meus desabafos e choros durante nossos instantes juntos. É sempre a mesma
história. Começamos a ingerir cerveja ou qualquer outra bebida e daqui a pouco
começo meu rosário de lamentos.
Mas naquela noite não rezei
a ladainha das decepções. Até paquerei naquele bar. Conversei muito. Ri
bastante. E cada vez fui bebendo e achando pouco o teor de álcool naquelas
bebidas. Pedi para aumentar. Foi aí que me dei mal.
Pouco antes de sairmos eu já
estava naquele estado bem ébrio. Lembro vagamente de um amigo ter pedido um
uber e me colocado nele. Lembro que saltei em frente a meu apartamento. Só.
Não sei como fui deitar. Não
sei como tirei a roupa. Não sei como fiz para vomitar e depois dormir. A
sensação de doença e de algo errado perturbava minha mente assim que vi a luz
do sol invadir meu quarto. Mas eu não conseguia saber o motivo.
Me levantei com uma baita
dor de cabeça. Fui procurar um comprimido. Encontrei com um pouco de
dificuldade diante da bagunça do meu quarto. Tomei com água e, em seguida, fui
ao banheiro. Quase vomitei novamente diante do chão seco com o vômito da noite
anterior.
Aos poucos fui tentando
reconstruir a noite passada. Conversei pelo whatsapp com os amigos que tinha
saído comigo. Aos poucos eles foram contando os fatos que vivenciei e a
memória, com muito vagar, foi chegando.
Fiquei mal. Eu sabia que
tinha algo errado. Eu tinha agendado um compromisso para pouco depois da hora
que saí daquele bar. Ia ter um encontro. Tinha criado expectativas boas em
relação a ele. Mas quando tinha chegado ao bar, devido minha promessa de não
ficar contando casos do passado e bebendo, acabei esquecendo também do presente
que se abria para mim.
Quando dei pela mancada que
eu tinha cometido, corri e fui tentar falar com a outra pessoa. Eu já tinha
sido bloqueado, contudo havia uma frase emblemática no aplicativo de mensagens:
“Criei expectativas diante de tudo tínhamos conversado nesses últimos dias.
Você foi igual aos outros. Mexeu comigo e do nada sumiu. Adeus.”
A mensagem foi como uma
facada dentro de mim. Sangrei. Chorei. Mas não tinha mais nada para fazer.
Aceitei a realidade que eu tinha um passarinho quase em minha mão, entretanto,
eu, sem querer, espantei.
O dia continuou mal. Esqueci
que tinha coisas para resolver na escola. Não me lembrei do prazo para
encaminhar alguns documentos. Fiquei tão fora da realidade que peguei o ônibus
e fui para o interior. Quando cheguei à casa de minha mãe me dei conta que
tinha saído de João Pessoa sem qualquer planejamento.
No dia seguinte retornei
para a capital. Mas o sentimento de culpa pesava muito em mim. Fiquei dias
remoendo aquela mensagem recebida. Apaguei do celular, mas continuava colada na
minha mente. O que poderia ter acontecido comigo se eu não tivesse exagerado nas
bebidas naquela noite?
Enquanto escrevo sentado no meu quarto, na sala tem dois casais de amigos trocando afetos e carinhos. Vou acabar isso e voltar lá. Minha vocação para acender velas é incontestável.
Enquanto escrevo sentado no meu quarto, na sala tem dois casais de amigos trocando afetos e carinhos. Vou acabar isso e voltar lá. Minha vocação para acender velas é incontestável.