sábado, 24 de dezembro de 2016

Acendendo velas

Senti que algo não estava bem assim que acordei. Eu tinha bebido na noite anterior e tinha esquecido a forma como havia chegado em casa. Essa foi a segunda vez que o álcool me fez esquecer detalhes importantes de fatos vivenciados durante momentos de farra.

Eu prometi que ia beber sem tocar no nome interdito. Cumpri a palavra. Meus amigos já estão cansados de ouvir meus desabafos e choros durante nossos instantes juntos. É sempre a mesma história. Começamos a ingerir cerveja ou qualquer outra bebida e daqui a pouco começo meu rosário de lamentos.

Mas naquela noite não rezei a ladainha das decepções. Até paquerei naquele bar. Conversei muito. Ri bastante. E cada vez fui bebendo e achando pouco o teor de álcool naquelas bebidas. Pedi para aumentar. Foi aí que me dei mal.

Pouco antes de sairmos eu já estava naquele estado bem ébrio. Lembro vagamente de um amigo ter pedido um uber e me colocado nele. Lembro que saltei em frente a meu apartamento. Só.

Não sei como fui deitar. Não sei como tirei a roupa. Não sei como fiz para vomitar e depois dormir. A sensação de doença e de algo errado perturbava minha mente assim que vi a luz do sol invadir meu quarto. Mas eu não conseguia saber o motivo.

Me levantei com uma baita dor de cabeça. Fui procurar um comprimido. Encontrei com um pouco de dificuldade diante da bagunça do meu quarto. Tomei com água e, em seguida, fui ao banheiro. Quase vomitei novamente diante do chão seco com o vômito da noite anterior.

Aos poucos fui tentando reconstruir a noite passada. Conversei pelo whatsapp com os amigos que tinha saído comigo. Aos poucos eles foram contando os fatos que vivenciei e a memória, com muito vagar, foi chegando.

Fiquei mal. Eu sabia que tinha algo errado. Eu tinha agendado um compromisso para pouco depois da hora que saí daquele bar. Ia ter um encontro. Tinha criado expectativas boas em relação a ele. Mas quando tinha chegado ao bar, devido minha promessa de não ficar contando casos do passado e bebendo, acabei esquecendo também do presente que se abria para mim.

Quando dei pela mancada que eu tinha cometido, corri e fui tentar falar com a outra pessoa. Eu já tinha sido bloqueado, contudo havia uma frase emblemática no aplicativo de mensagens: “Criei expectativas diante de tudo tínhamos conversado nesses últimos dias. Você foi igual aos outros. Mexeu comigo e do nada sumiu. Adeus.”

A mensagem foi como uma facada dentro de mim. Sangrei. Chorei. Mas não tinha mais nada para fazer. Aceitei a realidade que eu tinha um passarinho quase em minha mão, entretanto, eu, sem querer, espantei.

O dia continuou mal. Esqueci que tinha coisas para resolver na escola. Não me lembrei do prazo para encaminhar alguns documentos. Fiquei tão fora da realidade que peguei o ônibus e fui para o interior. Quando cheguei à casa de minha mãe me dei conta que tinha saído de João Pessoa sem qualquer planejamento.


No dia seguinte retornei para a capital. Mas o sentimento de culpa pesava muito em mim. Fiquei dias remoendo aquela mensagem recebida. Apaguei do celular, mas continuava colada na minha mente. O que poderia ter acontecido comigo se eu não tivesse exagerado nas bebidas naquela noite? 

Enquanto escrevo sentado no meu quarto, na sala tem dois casais de amigos trocando afetos e carinhos. Vou acabar isso e voltar lá. Minha vocação para acender velas é incontestável.

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