segunda-feira, 22 de março de 2010

Quem sou *

Eu vejo a vida melhor no futuro [...]

Eu vejo a vida mais clara e farta

Repleta de toda satisfação que se tem

Direito do firmamento ao chão. [...]

Eu vejo um novo começo de era, de gente fina

Elegante e sincera

Com habilidade para dizer mais sim do que não, não, não...

[...]

(Tempos Modernos, Lulu Santos)



Quem eu sou? Faz tempo que tento responder essa pergunta, mas não consigo. Crise de identidade? Talvez! Depois que tive contato com as teorias pós-modernas das identidades, nunca mais tive certeza de nada. Sou humano! Mas isso não basta para identificarem a minha pessoa. Sou sonhador, isso sintetiza a minha existência.

Até bem pouco tempo, mais ou menos cinco anos, eu tinha uma certeza concreta de quem eu era. Um jovem evangélico que ia ser missionário em algum lugar do continente africano, para “salvar” as pessoas “perdidas” que lá habitam. Meu objetivo no mundo era esse: ir pelo mundo levando a “salvação” (a salvação cristã).

Sempre tive desejo de ser político. Desde a minha infância sempre fui inclinado para a política. Lembro-me das vezes que assistia aos programas eleitorais e meu pai me pedia para desligar a televisão, uma vez que ele odiava política, partindo da premissa de que “todo político é ladrão”. Mas fui crescendo e o sonho de um dia chegar a um cargo executivo foi aumentando também.

Somente quando rompi com a Igreja Universal do Reino de Deus, em 2002, por motivos políticos, e passei a fazer parte da Igreja do Betel Brasileiro, descobri a aventura das missões. E a partir daí, mudei o desejo de ser político para ser missionário em lugares ermos da terra.

Fiz o vestibular para História, em 2004, com a intenção de conhecer o desenvolvimento da humanidade para poder usar esse conhecimento em meus futuros sermões. Naquele ano de campanha política, participei timidamente de todo o processo, já que minha vocação era outra. Assim eu pensava.

Quando ingressei na faculdade, em fevereiro de 2005, minhas certezas começaram a ser abaladas. Minhas verdades foram questionadas. Minhas identidades fragmentadas. Paulatinamente, a vivência acadêmica e o conhecimento foram respondendo a anseios que a religião protestante não conseguia, com todas as suas verdades, responder.

Livros, amigos, professores foram fundamentais para a minha metamorfose de um jovem evangélico radical, etnocêntrico para um jovem aberto e plural.

As leituras, os estudos abriram a minha mente. Passei a compreender que não existe uma cultura superior a outra, que não existe uma religião melhor ou outra pior, que não existe uma verdade absoluta, que não existe uma heterossexualidade natural e outras sexualidades desviantes e que por acreditarem nessas certezas, homens e mulheres promoveram, ao longo da História, guerras, ódios, preconceitos e discriminações.

Eu tinha que romper com a religião para poder viver de acordo com as idéias e correntes que me fizeram mudar a minha visão de mundo. Somente em 2008, consegui a força necessária para tanto. Tornei-me católico. Apesar de não concordar com muita coisa do que a cúpula da Igreja fala sobre a sexualidade e o corpo, encontrei nela um espaço democrático para expressar e discutir meus pensamentos.

Sou bastante plural. Inspiro-me na esquerda, porque não vejo corrente política mais democrática do que ela. Mas estou aberto a qualquer partido ou ideologia política que queira melhorar o mundo, seja de direita, centro ou de esquerda. Odeio todo tipo de sistema político autoritário e centralizador. Odeio toda forma de preconceito seja por cor, região, classe social e, sobretudo, de orientação sexual.

Sou cristão católico, porque tenho Cristo como salvador e como modelo para minha jornada terrena, mas não considero minha religião melhor do que a hinduísta, do que a umbanda ou qualquer outra existente na terra. Todas as religiões procuram aproximar as pessoas do sagrado, e a necessidade de transcendência é inerente a todos e todas, por isso se uma religião é capaz de alcançar esse objetivo ela, a meu ver, é válida.

Acredito que um outro mundo é possível. Um mundo de uma economia mais justa, mais solidária, de pessoas mais fraternas, de religiões mais tolerantes. Um mundo onde as pessoas sejam julgadas por suas capacidades e não por ser branca ou negra, rica ou pobre, heterossexual ou gay, católica ou muçulmana.

Fiz o vestibular de Direito porque acredito que muitas injustiças que fazem parte da sociedade tem a sua raiz na maneira como a lei é formulada, entendida e aplicada. Acredito que posso contribuir no sentido de fazer justiça e diminuir as desigualdades.

Por tudo isso, a única resposta que tenho, quando sou inquirido quem eu sou, é que eu sou, simplesmente, um sonhador. Mas não fico somente nos sonhos. Tenho buscado pôr em prática tudo aquilo que me move nessa vida.



* Texto elaborado para a disciplina Linguagem e Argumentação Jurídica do curso de Direito - Campus de Guarabira

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