Ia deixar sem registrar essa data. Mas pensei durante toda a semana e durante todo esse dia. A liberdade não tem preço.
Conhecer quem de fato ama você (amigos de verdade e familiares que você pode contar) é a melhor coisa do mundo. Poder viver sem medo, sem temor (apesar de tantos homofóbicos por aí), ser você mesmo é maravilhoso.
Sair das sombras, das trevas, do armário que aprisiona e sufoca todos e todas que fogem aquilo que uma sociedade heteronormativa diz ser nomal é sem comparação.
Uma professora uma vez me disse que sair do armário é uma experiência libertadora. Um ano depois eu confirmo isso. Há um ano, dia 27 de Janeiro, meu armário era implodido.
Nesse período conheci pessoas maravilhosas, que me ajudaram em vários momentos. Por algum tempo pensei que ia morrer, que ia sucumbir a tudo que enfrentei.
O primeiro semestre na faculdade foi terrível. Mal eu prestava atenção nas aulas. Alguns colegas notaram uma diferença, mas eu não me sentia a vontade para abrir meu coração. A cada instante eu pensava quando ia deixar a faculdade.
A morte para mim não era temida. Era bem vinda. Durante muito tempo eu quis morrer. Não pensava em me matar, como antes, mas se a morte viesse me buscar seria um alívio diante de tanta dor que passei.
"Por que, culturalmente, nós nos sentimos mais confortáveis vendo dois homens segurando armas do que dando as mãos?" perguntou Ernest Gaines. "A sociedade não gosta, o povo acha estranho", canta Cássia Eller.
No segundo semestre tentei recuperar o tempo perdido. Assim que rompeu o primeiro de julho eu disse pra mim mesmo que aquela era uma nova fase na minha vida. E foi.
Voltei a ler com força. A estudar mais ainda. Tentei duas seleções de mestrado em história, não logrei êxito, mas a experiência foi valiosa. Participei das conferências LGBT (local em Guarabira, estadual em João Pessoa e nacional em Brasília). Conheci muita gente. Comecei a reescrever minha história.
O que achei legal foi que minha saída do armário coincidiu com o ano que o judiciário brasileiro, através do STF, reconheceu a união estável entre homossexuais e o STJ reconheceu a possibilidade jurídica do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Nunca antes a TV Brasileira abordou tanto a questão LGBT nas novelas, debates. Também foi o ano que o discurso homofóbico mais forte ficou no Congresso Nacional, o ano que mais matou lésbicas, gays e travestis no Brasil.
Passei um tempo para reconstruir uma nova vida, mas hoje garanto que, se não sou completamente feliz, por não ter realizado meus sonhos ainda, estou a caminho. Muita coisa sei que vou enfrentar. Mas o principal já enfrentei que foi a minha família. O resto é de somenos.