sábado, 28 de janeiro de 2012

Um ano longe do armário



Ia deixar sem registrar essa data. Mas pensei durante toda a semana e durante todo esse dia. A liberdade não tem preço. 


Conhecer quem de fato ama você (amigos de verdade e familiares que você pode contar) é a melhor coisa do mundo. Poder viver sem medo, sem temor (apesar de tantos homofóbicos por aí), ser você mesmo é maravilhoso.


Sair das sombras, das trevas, do armário que aprisiona e sufoca todos e todas que fogem aquilo que uma sociedade heteronormativa diz ser nomal é sem comparação. 


Uma professora uma vez me disse que sair do armário é uma experiência libertadora. Um ano depois eu confirmo isso. Há um ano, dia 27 de Janeiro, meu armário era implodido.


Nesse período conheci pessoas maravilhosas, que me ajudaram em vários momentos. Por algum tempo pensei que ia morrer, que ia sucumbir a tudo que enfrentei.


O primeiro semestre na faculdade foi terrível. Mal eu prestava atenção nas aulas. Alguns colegas notaram uma diferença, mas eu não me sentia a vontade para abrir meu coração. A cada instante eu pensava quando ia deixar a faculdade.


 A morte para mim não era temida. Era bem vinda. Durante muito tempo eu quis morrer. Não pensava em me matar, como antes, mas se a morte viesse me buscar seria um alívio diante de tanta dor que passei.


"Por que, culturalmente, nós nos sentimos mais confortáveis vendo dois homens segurando armas do que dando as mãos?" perguntou Ernest Gaines. "A sociedade não gosta, o povo acha estranho", canta Cássia Eller.


No segundo semestre tentei recuperar o tempo perdido. Assim que rompeu o primeiro de julho eu disse pra mim mesmo que aquela era uma nova fase na minha vida. E foi.

Voltei a ler com força. A estudar mais ainda. Tentei duas seleções de mestrado em história, não logrei êxito, mas a experiência foi valiosa. Participei das conferências LGBT (local em Guarabira, estadual em João Pessoa e nacional em Brasília). Conheci muita gente. Comecei a reescrever minha história.

O que achei legal foi que minha saída do armário coincidiu com o ano que o judiciário brasileiro, através do STF, reconheceu a união estável entre homossexuais e o STJ reconheceu a possibilidade jurídica do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Nunca antes a TV Brasileira abordou tanto a questão LGBT nas novelas, debates. Também foi o ano que o discurso homofóbico mais forte ficou no Congresso Nacional, o ano que mais matou lésbicas, gays e travestis no Brasil.

Passei um tempo para reconstruir uma nova vida, mas hoje garanto que, se não sou completamente feliz, por não ter realizado meus sonhos ainda, estou a caminho. Muita coisa sei que vou enfrentar. Mas o principal já enfrentei que foi a minha família. O resto é de somenos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sexta economia. E daí?

No fim do ano passado, muitos brasileiros festejaram o nosso país ter sido elevado, segundo o jornal britânico The Guardian, a sexta maior economia do mundo, superando o Reino Unido. Não vou negar a minha alegria, mas fui bem modesto com minha excitação e comecei a pensar sobre o nosso crescimento econômico. Infelizmente, a realidade social brasileira está muito aquém de sua posição econômica. Coloquei no Facebook um comentário a esse respeito. Um amigo virtual, que mora há anos na Inglaterra, disse “grande coisa”.


Os indicadores sociais brasileiros são uma vergonha. Quando se comparam os números brasileiros relacionados à saúde, educação e inovação com os de outras nações, o país continua na rabeira, perdendo para vizinhos, como Chile e Argentina, ou nações do leste europeu, como Estônia e Eslováquia. Meu amigo virtual disse mais ainda: “a Inglaterra perdeu a posição pro Brasil, mas aqui não existem mendigos nas ruas, escolas de má qualidade, os hospitais públicos fazem inveja a qualquer hospital privado do Brasil”.


Não se podem negar os avanços ocorridos nos últimos anos no país. Mas muita coisa precisa ser feita. Temos muito que avançar. O Brasil possui um sistema público de saúde único, uma vez que nenhum país, com mais de 100 milhões de habitantes, possui algo parecido. Mas o SUS precisa melhorar. Muitas pessoas passam meses pra conseguir uma cirurgia. Os hospitais sempre super lotados. Cidadãos morrem nas filas, esperando atendimento médico.


Na área da educação, muitos países do mundo erradicaram o analfabetismo há muitos e muitos anos. Nós ainda temos milhões de pessoas que não sabem ler e nem escrever o próprio nome! Outros milhões lêem um texto simples, mas não compreendem nada. Precisamos investir pesado na educação básica, começando do ensino infantil, muitas vezes deixado sem a devida atenção. Que nossos adolescentes e jovens cheguem ao ensino médio, depois de ter passado por um ensino fundamental bem feito, preparados para os desafios da nova fase escolar. Infelizmente, o que se observa é que o ensino médio em quase nada se diferencia do fundamental.


Como o espaço é pequeno, vou ficar apenas nesses dois aspectos da realidade brasileira, a saúde e a educação, em outra oportunidade vamos abordar a violência, a corrupção e a miséria ainda bastante presente no Brasil. É fundamental, portanto, que o crescimento econômico seja acompanhado de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De que adianta ser a sexta economia do mundo, passando vários países europeus, se temos índices de desenvolvimento humano comparáveis a países africanos? Quando os índices sociais estiverem no mesmo patamar que os econômicos, aí sim teremos motivos fortes pra comemorar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Educação de qualidade! Quando?


Dizer que a educação é o caminho para qualquer país se desenvolver com qualidade virou lugar comum. Políticos, empresários, professores, estudantes, organizações da sociedade civil, enfim, todas as pessoas e entidades que direta ou indiretamente estão envolvidas com a educação falam a todo tempo sobre isso.

O exemplo da Coréia do Sul é sempre citado para fundamentar o discurso da educação enquanto meio para o crescimento de uma nação. Em 1958, Coréia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Na década de 60, o país era um dos mais pobres do mundo, destroçado por uma guerra que destruiu 25% da riqueza nacional e matou 5% da população civil. Hoje, o país tem um PIB per capita quase três vezes superior ao brasileiro. Como a Coréia do Sul conseguiu isso? Investindo pesado em educação.

O Ensino Fundamental no Brasil foi praticamente universalizado. O desafio agora é fazer o mesmo com o Ensino Médio. Mesmo assim, o analfabetismo no Brasil continua grande. Muitos programas já foram lançados por vários governos. Muito dinheiro público investido. Contudo, pouca coisa mudou. Conheço pessoas que já passaram por vários programas de alfabetização e ainda assim não conseguem ler ou escrever.

O Ensino Superior foi bastante expandido nos últimos anos. Mesmo assim continuamos atrasados. Apenas 11% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso ao ensino superior no Brasil. Na América Latina e Caribe, o índice é em torno de 32%. Já a Coréia se aproxima da universalização do ensino superior, com mais de 80% dos jovens matriculados em algum curso pós-secundário.

A luta agora é para que 10% do PIB sejam destinados para a educação. Nada mais justo. Mas tenho receio de o quanto desses recursos não será desviado por gestores nada comprometidos com a coisa pública e em especial com a educação.  A corrupção é uma praga que assola o país de norte a sul, de leste a oeste, envolvendo pessoas de todos os partidos, seja de direita, centro ou esquerda.

O senador Cristovão Buarque (PDT – DF) apresentou um projeto que obriga os filhos dos políticos ocupantes de cargos eletivos a estudarem em escolas públicas. Óbvio que essa proposta nunca será aprovada. Mas, penso que a sociedade deveria se mobilizar para a sua aprovação. Só assim a educação iria mudar. E penso que os políticos deveriam ser obrigados também a usar os hospitais públicos e sentir na pele o que milhões de brasileiros sentem todos os dias com a falta de atendimento médico adequado.

O Brasil só terá uma educação pública de qualidade, da mesma forma que existe em vários países do mundo, quando o neto de um ano da presidenta Dilma Rousseff, chegar à idade escolar, e for estudar numa escola pública do mesmo jeito que o filho de um trabalhador assalariado. Quando isso acontecer o Brasil terá avançado e se desenvolvido.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O “Girassol” de Alagoinha





O “Girassol” de Alagoinha *

Da mesma forma que um Girassol,

Ele esquadrinha onde está a luz.

Esta busca que parece interminável, incansável e íngreme. 

Pelo brilho do seu coração.

Em certos momentos chegou a encontrar,

Mas eram satélites e não astros.

E com o tempo, a luz se dissipou no espaço.

Hoje, nada mais são do que simples reminiscências.

Como uma águia, voando cada vez mais alto,

Ele continua sua busca.

Ela pode está submersa e dormindo, esperando seu olhar,

Sonhando com o mar.

Este mesmo mar que faz o “Girassol” olvidar, por um instante,

De tudo e de todos.

Que o impulsiona a seguir em frente, olhando em direção ao Sol.

Ele conhece o segredo do mar, 

A sua imensidão o aconchega e tranqüiliza. 

Ao contemplar as ondas beijando os rochedos.

Esta imagem o faz regressar. 

E quando se volta,

Seus olhos verdadeiros e sensíveis fitam 

Em uma flor, que para ele tem um espetacular sentido.

Um imponente “Girassol”,

No mesmo instante vem em sua mente, 

Esperança, Vida e Alegria.

Sua relação é tão forte,

Que se confundem um com o outro.

Só mesmo o coração para entender, a relação entre 

Luz, Mar e Girassol.


* Por - Wagno Almeida Lira (04/01/2012)

PS: Recebi essa poesia de meu amigo Wagno (Facebook). Achei linda. Cada vez que leio eu me emociono. 

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