Onze horas e
trinta minutos da noite. Dia tranqüilo. Normal. Apenas a chuva, que veio em boa
hora, tinha quebrado a rotina daquela terça.
Ele tenta se
esconder. Tenta fugir. Tenta não parecer o que é. Uma máscara havia sido
colocada, por ele mesmo, em seu rosto. Há tempos que precisava disso, pensa.
Sente mais forte quando não demonstra suas fraquezas, seus sentimentos, quando
não compartilha a dor e a ausência que dilacera a sua alma, frágil alma,
cansada alma.
Mais uma
experiência para sua coleção de fracassos e desilusões amorosas, ele pensa,
durante a penumbra da noite. Apenas algumas luzes fracas de alguns postes de
energia iluminam a cidade, iluminam a sua vida.
Uma leve chuva cai.
De repente sente frio. Um pouco de frio. Mas, pior que aquela sensação causada
pelo clima na cidade dele, é a frio que atormenta e faz tremer seu coração, ele reflete.
Acende um cigarro.
Não é fumante diário. Em alguns momentos de forte pressão emocional, o cigarro
serve para ele pensar e meditar, sobre determinada situação, enquanto fuma. É
como um ritual. Pega a carteira amassada guardada na bolsa escolar, procura o
velho isqueiro de mais de um ano, coloca uma música qualquer em seu celular, vai
para varanda de sua casa e fuma. E pensa. Às vezes, algumas vezes, chora.
Um leve vento
faz a chuva alcançar seu rosto. Por um instante quebra aquele ritual, aquela
quase fuga da realidade, trazendo de volta ao mundo concreto. Ele fica desnorteado.
Percebe que a letra da canção, tocada no seu celular, falar de amor existente,
mas que é negado.
Passa a mão no
rosto. Tira a água de sua fronte. Afasta-se um pouco da varanda para que a
chuva não o molhe mais. O cigarro se apaga. Mas, de repente, uma lágrima verte
de seus olhos. Começa a perceber que as lágrimas mancham a sua máscara. Ele não
tenta ser forte e deixa se envolver por aquele momento. E chora copiosamente.
A máscara caiu.
Alguns pedacinhos ficam pregados no seu rosto. Ele pega o que sobra e joga na
chuva que tinha se intensificado. Nesse momento, se deixa envolver pela água
que cai do céu. A água que cai de seus olhos continua. As duas se misturam. Uma
veio para amenizar à seca que está em sua região. A outra veio para jogar fora
todo o sentimento recolhido de seu coração.
Pouco tempo
depois ele entrar para casa. Vai a seu quarto. Procura uma toalha. Enquanto se
seca, percebe, diante do espelho, que seus olhos estão vermelhos. Fazia tempo que
não chorava daquele jeito. Fazia tempo que não deixava transparecer seu afeto.
Lá a fora a
chuva começa a parar. A terra, amanhã, ficará úmida. Lá dentro as suas lágrimas
também cessaram. Sua alma, amanhã, estará mais tranquila. Deita-se na cama.
Envolve-se com um grosso lençol. Adormece. Quando ele se acordar vai perceber a
serenidade de seu rosto depois de ter libertado aqueles sentimentos reprimidos
que guardava dentro si. Sem máscara. Sendo ele mesmo. E pronto para prosseguir
na busca de sua felicidade.
Gostei do texto.
ResponderExcluirParabéns