terça-feira, 20 de novembro de 2012

Os intelectuais que têm algum sentido ético precisam falar sobre a Terra ameaçada. Entrevista especial com Leonardo Boff

“Enquanto houver alguém gritando no mundo, sejam mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas discriminadas, sempre têm sentido, a partir da fé, falar e atuar de forma libertadora”, defende o teólogo.

Confira a entrevista.


“A Teologia é séria quando toma a sério o testemunho dos invisíveis, dos desprezados, daqueles que ninguém conta. Cada pessoa é única no mundo, tem algo a dizer, a mostrar. Ignorante é aquele que pensa que o povo é ignorante. O povo sabe muito da vida, da sua luta”, afirmou Leonardo Boff em entrevista concedida, pessoalmente, à IHU On-Line.
Para Boff, “nosso desafio não é o de criar cristãos, mas de criar pessoas honestas, humanas, solidárias, compassivas, respeitosas da natureza dos outros. Se conseguirmos isso é o sonho de Jesus realizado”. E continua: “há um dito que diz: onde estão os pobres está Cristo, e onde está Cristo está a Igreja. Só que não é verdade que onde está o pobre está a Igreja. Ela está mais perto do palácio de Herodes do que da gruta de Belém. A Igreja precisa ver qual é o seu lugar na sociedade”.

Leonardo Boff, filósofo, teólogo e escritor é professor emérito de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. É autor de mais de 60 livros nas áreas de teologia, espiritualidade, filosofia, antropologia e mística, entre os quais citamos Ecologia: grito da terra, grito dos pobres (São Paulo: Ática, 1990); São Francisco de Assis. Ternura e vigor (8. ed. Petrópolis: Vozes, 2000); Ética da vida (Rio de Janeiro: Sextante, 2006); e Virtudes para outro mundo possível II: convivência, respeito e tolerância (Petrópolis: Vozes, 2006).
Leonardo Boff é autor do artigo A busca de um ethos planetário publicado nos Cadernos IHU ideias, no. 169.


Confira a entrevista.
IHU On-Line Qual a diferença da Teologia da Libertação das décadas de 1970 e 1980 e hoje, com a globalização neoliberal? Ela é capaz de responder aos desafios contemporâneos?
Leonardo Boff – A Teologia da Libertação parte do grito dos oprimidos, que hoje são os pobres. Até 2008 havia 860 milhões de pobres no mundo e a crise econômica e financeira elevou esse número a um bilhão e 200 milhões. Os gritos viraram um clamor. Enquanto houver alguém gritando no mundo, sejam mulheres, afrodescendentes, indígenas, pessoas discriminadas, sempre têm sentido, a partir da fé, falar e atuar de forma libertadora. Então, é uma teologia permanente, porque, pela condição humana, todos, até os mais ricos e equilibrados, carregam suas cruzes: é o medo da morte, a exposição a acidentes, a perda do filho ou da esposa; não temos uma vida assegurada. A condição humana é assim e deve ser construída a cada dia, com sua angústia e opressão. Nesse sentido, a fé cristã oferece um caminho para a pessoa se liberar, colocando a vida mesmo uma vida que fracassou na palma da mão de Deus, obtendo assim uma libertação espiritual. A mensagem de Jesus é libertadora por isso. E uma teologia que não produz esse efeito humanizador não pode ser chamada herdeira ou que está no legado de Jesus.


IHU On-Line Como compreender que o cristianismo, que nasceu no primeiro mundo, hoje não faça parte deste universo europeu, ou ao menos não tenha tanta relevância entre ele, e se demonstre mais vivo no terceiro mundo?
Leonardo Boff – Primeiro, há um problema de estatística. Mais da metade dos cristãos e católicos vive no terceiro mundo. De fato, é uma religião do terceiro mundo, embora as origens sejam no primeiro. E se falarmos em termos de criatividade, de presença, veremos que a criatividade não está no primeiro mundo, onde temos culturas agônicas, que lentamente estão “descendo a rampa” da vida; são civilizações que não cultivam a esperança porque não veem qual é a esperança para elas. No fundo, conquistaram tudo o que queriam, dominaram o mundo, impuseram suas ideias, suas filosofias, seus valores, sua música, e agora dizem que são infelizes. Isso significa que o ser humano não só tem fome de pão, de bens materiais, mas também tem fome de beleza, de comunicação, de amor, de solidariedade. E esses valores estão presentes principalmente entre os pobres. Se há uma coisa que os pobres guardam é a cultura da solidariedade, a alegria de viver com o pouco que têm. Isso aparece até nas novelas da Globo, como essa chamada Avenida Brasil: onde estão a vida, a solidariedade e a alegria? Não estão na alta burguesia; estão na favela do Divino. Nesses lugares da Ásia, da África, da América Latina, o cristianismo se mostra criativo. Ele se encarna nas culturas locais, e então passa a ter um rosto diferente, músicas e símbolos diferentes. Agora estão aparecendo novos santos e mártires que são nossos. E tem a questão das mulheres daqui também. E não é só o fato de serem mulheres fazendo teologia, porque a mulher americana rica também a faz. Aqui temos a mulher pobre que não quer ingressar no mundo dos ricos, mas quer ser solidária. Então, faz uma teologia feminina diferente. Elas até brigam com as americanas, por exemplo, fazendo a crítica a elas, dizendo que não adianta fazer teologia só para integrar as mulheres, pois estarão apenas contribuindo para engrossar o mundo dos opressores. As latino-americanas pedem solidariedade a elas como mulheres e como oprimidas. Se não for isso, não será uma verdadeira Teologia da Libertação.



IHU On-Line A partir da vivência, na prática da Teologia da Libertação, como o senhor define que deveria ser uma teologia séria?
Leonardo Boff – A Teologia é séria quando ela toma a sério o testemunho dos invisíveis, dos desprezados, daqueles que ninguém conta. Cada pessoa é única no mundo, tem algo a dizer, a mostrar. Ignorante é aquele que pensa que o povo é ignorante. O povo sabe muito da vida, da sua luta. É um saber, como diz Camões, “de experiências feito”. Somos sérios quando damos valor ao que o povo diz, que não são palavras, mas dramas e gritos. Em segundo lugar, é preciso saber formular isso de uma maneira rigorosa e universal, de forma que todos possam entender.

IHU On-Line Quais os limites da Teologia no mundo hoje? Que desafios ela tem a enfrentar no século XXI, considerando a contribuição que pode oferecer à sociedade contemporânea, principalmente à crise ecológica e ambiental?
Leonardo Boff – A primeira tarefa da Teologia e das igrejas é elas assumirem que são cúmplices do mundo a que chegamos hoje. Isso significa que houve algum erro na nossa transmissão da fé, na nossa vivência bíblica, pelo qual não conseguimos evitar a crise ecológica e a crise econômica mundial. Não temos a chave da salvação, somos parte do problema. E com muita humildade, precisamos renunciar a toda a arrogância de que “temos a palavra da revelação e então sabemos”. Nós não sabemos. Temos que nos unir a todos os grupos, começando pelos pobres – que têm sua sabedoria , e depois com o discurso das ciências, das outras igrejas, com todos os discursos que criam sentido. Além disso, é muito importante sentir-se um discurso junto com os demais, não tendo exclusividade, afirmando que “nós temos a revelação; nós temos a chave”, porque, na verdade, não a temos. Quando a Igreja teve essa arrogância e assumiu o poder, foi um fiasco. Governou mal, até 1890 ainda havia pena de morte nos estados do Vaticano, além de cometer grandes erros históricos contra a modernidade e os direitos humanos. Então, ela não pode apresentar títulos de credibilidade. Primeiro, precisa reconhecer que pode aprender no diálogo e que pode dar uma contribuição a partir do que vem do exemplo de Jesus. Nosso desafio não é o de criar cristãos, mas de criar pessoas honestas, humanas, solidárias, compassivas, respeitosas da natureza dos outros. Se conseguirmos isso é o sonho de Jesus realizado.

IHU On-Line Quais as principais ameaças que pesam sobre nosso futuro?
Leonardo Boff – São dois blocos de ameaças. Um vem pela máquina de morte, que é nossa cultura militarista, que criou um tal número de armas nucleares, químicas e biológicas que pode destruir muitas vezes toda a vida do planeta. São armas muito deletérias, que estão em segurança, mas nunca segurança em absoluto. Vimos isso em Chernobyl e Fukushima. Além disso, temos as nanotecnologias. A guerra cibernética pode ser de alta destruição. Trata-se de uma guerra não declarada, de extrema violência e que pune os inocentes. O segundo bloco de ameaças é aquilo que nosso processo industrialista fez nos últimos 300, 400 anos, com a sistemática agressão à Terra, aos seus bens, seus recursos. Chegamos a um ponto em que desestabilizamos totalmente o sistema Terra, e a manifestação disso é o aquecimento global. Para repor o que tiramos da Terra em um ano, ela precisa de um ano e meio. Então, a Terra já está exterminada. Estamos alcançando uma temperatura perto de 2º C e a comunidade científica norte-americana alertou para o fato de que, com a entrada do metano, do degelo das camadas polares e outros fatores, a Terra vai se aquecendo devagar e, de repente, a febre de 37º C pula para 45º C. Com esse aquecimento abrupto, a vida que conhecemos hoje não vai subsistir, nem animal, nem vegetal, nem humana. Como temos tecnologia, podemos criar pequenos oásis refrigerados para grupos de seres humanos que, seguramente, vão invejar quem morreu antes, tão miserável será a vida. Isso pesa sobre a humanidade nos próximos decênios e ninguém acredita nisso, porque vai contra o sistema da acumulação, contra o capitalismo, contra as grandes empresas. Os intelectuais que têm algum sentido ético precisam falar sobre isso.

IHU On-Line Em que situações de nossa sociedade mais se pode ver o Cristo Crucificado?
Leonardo Boff – Há um velho dito da tradição cristã que diz: onde está o pobre, aí está Cristo. Hoje temos que olhar em cada cidade do terceiro mundo, os grandes cinturões de miséria, as favelas. O cristão que toma a sério a percepção de que Cristo está onde o pobre está tem que visitá-lo. Não basta identificar que lá tem uma favela. É preciso ir até lá, conversar com as pessoas, ver como é possível ajudá-las a se organizar melhor. Há outro dito que diz: onde estão os pobres está Cristo, e onde está Cristo está a Igreja. Só que não é verdade que onde está o pobre está a Igreja. Ela está mais perto do palácio de Herodes do que da gruta de Belém. A Igreja precisa ver qual é o seu lugar na sociedade.

IHU On-Line
Em que sentido o capitalismo pode ser apontado como anticristão?
Leonardo Boff – Em primeiro lugar, o capitalismo é antivida. Ele assassina as vidas humanas para acumular. Para que alguns tenham qualidade de vida, muitos devem ter péssima qualidade de vida. E isso é injusto. E tudo o que vai contra a vida acaba sendo contra aquele que disse: “Eu vim trazer vida e vida em abundância”. Por isso é anticristão. E isso custou muito aos cristãos reconhecerem, porque as igrejas se instalaram muito bem dentro do sistema capitalista. A Igreja teve dificuldade de condenar, pois o capitalismo não nega a Igreja, nem a religião. Pelo contrário, defende a Igreja e a moral. Só que, na prática, nega tudo isso. E essa é a grande ilusão da Igreja, pois o capitalismo passa por cima de todo mundo, sem solidariedade. Nele, só o forte ganha.

IHU On-Line Baseado em que o senhor afirma que os Estados Unidos é o grande terrorista mundial?
Leonardo Boff – Na prática ele é o grande terrorista porque, na América Latina, apoiou todas as ditaduras e participou ativamente de atentados, sequestros de pessoas, fornecendo informações. E continua com essa estratégia, que é a estratégia do império. Onde há uma oposição, ele vai e destrói. Só me admiro que não conseguiu eliminar ainda Hugo Chávez, na Venezuela, nem Fidel Castro, mesmo tentando por 17 vezes, sem resultado. Os Estados Unidos sempre usa a violência militar para se impor. E faz isso em todas as partes, como fez na Líbia, por exemplo, com os aviões não pilotados. Acredito que assim que passar as eleições fará uma intervenção na Síria com aviões não pilotados também.

IHU On-Line – Independentemente se Obama fica ou não?

Leonardo Boff – Independentemente. Até o próprio Obama. Porque eles não vão segurar Israel e também não vão liquidar com o Irã. Então, a arma não é a diplomacia e a busca de caminhos de paz, mas a arma da submissão. E eles são fortes, hoje, não na economia – pois a China é mais , nem na tecnologia – o Japão e outros países são mais ; eles só têm o domínio militar do mundo, com a possibilidade de matar a todos. Em nome disso, submetem todo o mundo. Não há ninguém que se oponha ao império, a não ser Venezuela, Cuba e Coreia do Norte. Todos os demais, inclusive o Brasil, fazem inclinação aos Estados Unidos. É um império cujo imperador é afro-americano, mas com a mesma perversidade de Bush e outros, porque o projeto não mudou.

IHU On-Line O senhor disse que reconhecer a Igreja de Roma como a única verdadeira é um erro teológico. Por quê?
Leonardo Boff – É um erro teológico porque supõe o conceito reducionista de Deus, como se Ele dissesse: “Esses são meus filhos e aqueles não são; essas são minhas criaturas queridas e aquelas são filhos abandonados”. Isso não existe para Deus. Todos nasceram do seu coração. Deus acredita em todos os seres humanos. Todos são filhos e filhas, não só os batizados, que por acaso nasceram no Ocidente. Então, uma Igreja que não faz isso se opõe a Deus.
(Por Graziela Wolfart. Foto de Wagner Altes)

IHU

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Uma nova tentativa

Tá voltando tudo... o sentimento... aquele negócio de ficar leso... de ouvir música pra sonhar acordado realizando os desejos não possíveis no momento... aquela coisa de contar os dias pra rever... aquela ansiedade pra receber um sms ou uma ligação...

A primeira tentativa não deu certo... talvez eu tenha sido meio intransigente... é que depois de um tempo, depois das experiências acumuladas, a gente aprende a não esperar muito de algo não muito certo...

E dessa vez vai dá certo? Não sei... 


segunda-feira, 25 de junho de 2012

A festa, a saudade e a foto


De novo. Sem esperar. Em um ambiente que em nada lembraria. Com amigos que nada sabiam. Bebendo bebidas que nunca foram tomadas por nós. A lembrança, sempre ela, do nada, fez minha noite, por algum instante, parar.

A música que a banda tocava, muito agitada, com uma letra nada romântica, também não contribuiu para essa saudade repentina.

Pessoas passavam, me cumprimentava, eu fingia, com um sorriso no rosto, que estava bem. Na verdade eu estava bem. Apenas algo repentino veio quebrar aquele momento festivo. Quebrar pra mim, claro, porque todos estavam alegres ao meu redor. Eu também, aparentemente, estava.

Encontrei um amigo. Ele me entenderia. Eu pensava. Mas ele tava tão alterado pela quantidade de cervejas tomadas durante o dia que mal prestou atenção no que eu disse. Ou seja, ninguém ficou sabendo de meu estado emocional interno.

Era quase meia-noite. Decidi entrar no movimento da festa. Comprei uma bebida quente. O clima não estava propício para uma cerveja. Queria ficar alterado logo. Tomei a primeira dose de uma vez. Pedi outra. Mais outra. Lá pela quinta dose, eu comecei a sentir no corpo, na mente, na minha voz, o efeito das doses fortes.

Começou a tocar uma música que falava de paixão. Comecei a cantar. Pedi outra dose. Dessa vez sem energético. Eu já estava muito enérgico. Acompanhei a cantora na outra música, mesmo distante do palco, eu me sentia como se fosse o artista daquela festa, bem solto, festivo e cantante. Cantei movido a saudade e a bebida.

A banda termina seu show. Eu decidi que minha hora de ir embora tinha chegado. Contudo, como vi que estava não muito seguro do meu corpo, sai com alguns amigos para uma praça. Ficamos sentados. Eles continuaram bebendo. Eu, para disfarçar minha situação interna naquele momento, comecei a conversar.

Pessoas bêbadas têm a mania de falar de chifre. Todo mundo naquela roda já tinha levado ou botado chifre. De repente, contrariando minha razão, pedi uma dose. Nunca uma tinha bebido uma dose tão ruim. Desceu ardendo. Rasgando tudo. Só queria que aquela dose rasgasse as arestas do nosso relacionamento mal resolvido que estavam dentro de mim e que naquela noite tinha vindo à tona.

Quase quatro horas da manhã. A bebida tinha acabado. A conversa estava rareando. O cansaço tomava conta de mim e dos amigos. Eu queria dormir. Fui pra casa. Deitei. Mas levei comigo aquela lembrança indesejada que me assaltou no início da festa e que foi comigo até o momento de meu recolhimento. Quando me levantei, não lembrei mais daquela presença inoportuna em meu coração.

Hoje à tarde, contudo, enquanto estudava, um amigo ligou pra mim. Do nada, depois que desliguei o celular, vi, num cantinho do meu quarto uma foto com uma impressão nada boa, mas que me fez viajar até o momento que a máquina fotográfica tinha eternizado aquele momento entre nós. E aí, lembrei da festa da noite de sábado. E cai na cama pensando como teria sido diferente se a vida tivesse sido mais generosa conosco. Adormeci. Quando me levantei, decidi escrever. Escrever é uma forma de exorcizar o que me faz mal. Essa lembrança sua, definitivamente, não me faz bem.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Quando sou atroz




A criatura humana é capaz das piores atrocidades possíveis. Aliás, acredito, que só os homens e as mulheres são capazes de atrocidades. Os animais agem por instituto, por necessidade natural e irresistível de defender-se ou alimentar-se, mas não comentem qualquer ato gratuito contra outro de sua espécie ou de outra diferente.

Acho bacana a idéia paulina de que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Para muitos teólogos, sobretudo os calvinistas, nenhum ser humano é bom. Todos nascem mal por natureza. Todos merecem o inferno. Se não fosse a graça de Deus, dizem esses pensadores, que escolheu alguns, segundo sua soberana vontade, para morar no céu, ninguém se salvaria.

Mas não quero falar em teologia cristã. Quero falar da ruindade humana. Daquilo que as pessoas fazem de mal as outras pessoas. Algumas porque gostam. Outras por engano. Outras por pensar que não vão magoar ninguém.

O pior de tudo é que pessoas que sofreram também são capazes de fazer outras passarem pelo mesmo sofrimento que levaram tempo para superar. Isso é ruim. Já vi esse filme várias vezes. O pior é que também já fui protagonista de uma história parecida. O mesmo motivo que me causou sofrimento, eu, por pensar que não ia magoar outra pessoa, terminei causando.

A lição ficou. Depois que o leite foi derramado não há mais nada que fazer. Agora é seguir em frente e aprender que meu lado bruto, selvagem, desumano até, pelo menos para meus princípios e valores pessoais, pode aflorar mesmo que eu pense está tudo de acordo com a normalidade do ambiente que vivo, afinal de conta, o que fiz não foi reprovado por ninguém, pelo contrário, foi até exaltado.

Não matei, não roubei, não estuprei ou cometi qualquer outro crime previsto no Código Penal brasileiro ou em leis extravagantes. Mas algumas coisas são crimes contra a alma, contra o afeto, contra o sentimento. E pra mim, de acordo com minha ideologia de vida, isso é crime tipificado na lei do amor.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Os traficantes do amor




Estamos cercados por uma indústria que explora a nossa carência

Por IVAN MARTINS
 
Na minha mesa de trabalho há uma rosa amarela do dia dos namorados. Entraram aqui um fortão e uma loirinha, vestidos de anjo, e deixaram o presente em nome de uma marca de cerveja. Achei engraçado, mas, assim que eles saíram, bateu certa melancolia. Como é fácil banalizar as coisas que nos comovem. Como é simples transformar em clichê – ou babaquice – os sentimentos terríveis que definem a nossa humanidade.
Olhe em volta: estamos cercados pela palavra amor.  

Há um milhão de livros com esse título, dez milhões de músicas com esse refrão, centenas de filmes e um batalhão diário de novelas que trata do assunto. Pela quantidade de produtos amorosos que nos oferecem, é inevitável concluir que consumimos mais amor do que cerveja, chocolate e televisores de tela plana. Talvez um pouco menos que celulares. 

Nosso apetite por amor não tem limites. Nossa sede de amor jamais acaba. Somos carentes insaciáveis. Sonhamos com o amor todas as noites. Acordamos encharcados de imagens doloridas. Dentro de nós se agita um mar de memórias que tem como centro as nossas experiências de afeto. Velhas, remotíssimas, e recentes. Elas nos movem de forma inconsciente. Somos filhos, somos irmãos, somos amigos, somos amantes, somos pais e mães. Todos nós. A cola que liga todas essas situações é o amor.  

Começamos a receber amor ainda minúsculos, nos braços da mãe, e nunca mais paramos. Ele nos constitui emocionalmente, como os músculos e os ossos nos formam fisicamente. É parte essencial de nós e precisa ser reposto, realimentado, revivido a cada dia, a cada momento, em um processo que, a rigor, nunca tem fim.  

Um alienígena que chegasse à Terra iria perceber, em dois minutos, nossa abissal vulnerabilidade. Além de água, alimento, abrigo, precisamos desesperadamente de amor - em várias formas, em qualquer forma na verdade. Somos viciados nele. Erguemos nossa vida em torno dele. Do erotismo violento da adolescência aos sentimentos suaves da velhice, nossa existência é uma longa experiência amorosa – ou uma busca desesperada, e muitas vezes cega, muitas vezes infrutífera, pelo amor. 

É por isso que me incomoda a banalização comercial do sentimento. Ela me parece uma covardia, quase uma canalhice. Algo como oferecer luz a um cego. Diante do amor, somos todos ingênuos, frágeis, facilmente enganáveis. É simples nos vender qualquer coisa, nos iludir com qualquer promessa. Estamos, desde crianças, atrás da próxima dose dessa droga – e, às vezes, tenho a sensação de estarmos cercado de traficantes que não entregam a mercadoria. Nem poderiam.

Nossos verdadeiros sentimentos são obscuros e sombrios, quase impossíveis de serem saciados. Eles não cabem nos formatos pré-moldados da indústria do amor. Pegue o caso da mulher que matou e destrinchou o marido uns dias atrás. Havia amor ali. Amor na forma de ciúme. Amor próprio. Amor de mãe que temia ser separada da filha. Mas não é disso que a marca de cerveja quer falar no dia dos namorados. A história de Elize Matsunaga precisa de um filme europeu pesado, triste, não comercial, daqueles que nos expulsam da sala de cinema com a mesma força com que mergulham dentro de nós.  

Diante do tamanho das nossas necessidades, e da nossa imensa complexidade, a indústria do amor está fadada a nos desapontar. Ela oferece música para um momento de dor, mas mil músicas são incapazes de nos consolar quando acabamos de ser abandonados. Ela nos dá lindas histórias de amor, mas quem pode com elas quando está coberto por um manto intransponível de medo e tristeza? 

O paradoxo do amor público, industrial, feliz, multiplicado nas redes sociais e nas salas de Multiplex, é que as nossas experiências realmente importantes são incomunicáveis e intransferíveis. Apesar do estardalhaço social, estamos sozinhos frente ao amor. Cabe a cada um de nós encontrá-lo, vivê-lo ou perdê-lo intimamente. É inevitável gemer sozinho no escuro, cercado de silêncio. O pessoal da rosa amarela não estará disponível se você precisar deles.  

domingo, 10 de junho de 2012

A máscara dele caiu...




Onze horas e trinta minutos da noite. Dia tranqüilo. Normal. Apenas a chuva, que veio em boa hora, tinha quebrado a rotina daquela terça.

Ele tenta se esconder. Tenta fugir. Tenta não parecer o que é. Uma máscara havia sido colocada, por ele mesmo, em seu rosto. Há tempos que precisava disso, pensa. Sente mais forte quando não demonstra suas fraquezas, seus sentimentos, quando não compartilha a dor e a ausência que dilacera a sua alma, frágil alma, cansada alma.

Mais uma experiência para sua coleção de fracassos e desilusões amorosas, ele pensa, durante a penumbra da noite. Apenas algumas luzes fracas de alguns postes de energia iluminam a cidade, iluminam a sua vida.

Uma leve chuva cai. De repente sente frio. Um pouco de frio. Mas, pior que aquela sensação causada pelo clima na cidade dele, é a frio que atormenta e faz tremer seu coração, ele reflete.

Acende um cigarro. Não é fumante diário. Em alguns momentos de forte pressão emocional, o cigarro serve para ele pensar e meditar, sobre determinada situação, enquanto fuma. É como um ritual. Pega a carteira amassada guardada na bolsa escolar, procura o velho isqueiro de mais de um ano, coloca uma música qualquer em seu celular, vai para varanda de sua casa e fuma. E pensa. Às vezes, algumas vezes, chora.

Um leve vento faz a chuva alcançar seu rosto. Por um instante quebra aquele ritual, aquela quase fuga da realidade, trazendo de volta ao mundo concreto. Ele fica desnorteado. Percebe que a letra da canção, tocada no seu celular, falar de amor existente, mas que é negado.

Passa a mão no rosto. Tira a água de sua fronte. Afasta-se um pouco da varanda para que a chuva não o molhe mais. O cigarro se apaga. Mas, de repente, uma lágrima verte de seus olhos. Começa a perceber que as lágrimas mancham a sua máscara. Ele não tenta ser forte e deixa se envolver por aquele momento. E chora copiosamente.

A máscara caiu. Alguns pedacinhos ficam pregados no seu rosto. Ele pega o que sobra e joga na chuva que tinha se intensificado. Nesse momento, se deixa envolver pela água que cai do céu. A água que cai de seus olhos continua. As duas se misturam. Uma veio para amenizar à seca que está em sua região. A outra veio para jogar fora todo o sentimento recolhido de seu coração.

Pouco tempo depois ele entrar para casa. Vai a seu quarto. Procura uma toalha. Enquanto se seca, percebe, diante do espelho, que seus olhos estão vermelhos. Fazia tempo que não chorava daquele jeito. Fazia tempo que não deixava transparecer seu afeto.

Lá a fora a chuva começa a parar. A terra, amanhã, ficará úmida. Lá dentro as suas lágrimas também cessaram. Sua alma, amanhã, estará mais tranquila. Deita-se na cama. Envolve-se com um grosso lençol. Adormece. Quando ele se acordar vai perceber a serenidade de seu rosto depois de ter libertado aqueles sentimentos reprimidos que guardava dentro si. Sem máscara. Sendo ele mesmo. E pronto para prosseguir na busca de sua felicidade.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O adeus inesperado


Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar
[...]
Você foi tão cedo
A vida é um mistério
E ela não diz porque...
Mas tua semente hoje está
Presente e vai florescer..
(A tempestade e o sol – Banda Catedral)

O tempo não para. Isso é fato. Mas ele não leva consigo alguns sentimentos e afetos que marcam a vida da gente. Sua passagem ameniza a dor, a saudade, a sensação de vazio e de perda, mas nunca preenche o espaço deixado por quem partiu para nunca mais voltar.

Na vida da gente muita gente passa. Gente que faz a gente feliz, gente que faz a gente sofrer, gente que faz a gente ser gente. Cada pessoa que, em determinado momento, cruzou o meu caminho, contribuiu, de forma direta ou indireta, com o que sou hoje.

Eu tenho uma facilidade grande de lembrar de homens e mulheres, nas fases da vida que passei, que me afetaram de forma positiva ou negativa. Lembro de gente da primeira rua que morei, do sítio de meus avós, da segunda rua no centro da cidade, escola infantil, do ensino fundamental, do ensino médio, do magistério, do curso de história, da Igreja Universal, da Igreja Betel Brasileiro, da catequese na Igreja Católica, dos retiros evangélicos e carismáticos que participei, de vários movimentos e festas que estive presente.

Eu tenho uma facilidade muito grande também de nutrir afeto. Sou fácil de ser conquistado. Basta um pouco de carinho e atenção que consigo criar laços afetivos com quem quer que seja.

Muita gente partiu para outros estados. Muita gente deixou de falar comigo. Eu deixei de falar com muita gente também. Muita gente casou. Muita gente se divorciou. Vez em quando, pelas redes sociais, encontro gente que há muito tempo eu não tinha notícia. De certo modo, a maioria absoluta das pessoas que passaram por minha vida continua viva. Poucas morreram. Das que morreram, uma em especial me tocou profundamente.

Há exatamente um mês, por volta de quatro e pouco da tarde, eu deitado na minha cama, ouvindo Adele e meio que cochilando, sou acordado com a notícia de que meu cunhado e minha irmã tinha sofrido um acidente de moto. Levantei de sobressalto. Fiquei assustado. Mas pensei ser pequeno meu susto, porque eu achava, até então, que nada de mais poderia ter acontecido. Eu achava. Estava errado.

A situação de meu cunhado não estava boa. Minha irmã estava bem. Mesmo assim, eu pensava que ele podia está muito machucado, que iria se recuperar. A gente nunca pensa na morte de imediato. Sempre guarda a esperança de que tudo esteja bem. Pouco tempo depois, no caminho do hospital em Guarabira, fui informado de sua morte. Não quis acreditar bem. Só quando cheguei lá, ouvi de algumas enfermeiras de plantão a confirmação, vi que não existia qualquer esperança mais.

Pela primeira vez na vida, em vinte e cinco anos, experimentei a dor da morte de uma forma intensa. Alguém perto de mim, chegado a mim, partia de uma forma inesperada e trágica. Nunca chorei tanto. As coisas lá em casa iam bem, depois de tudo que atravessei no ano passado. De repente, quando o tempo de paz chega, algo interrompe, destruindo uma construção que parecia sólida.

Lembro quando Iranildo chegou, pela primeira vez, na minha casa. Nunca interferi nos relacionamentos de minhas irmãs (tenho duas). O fato dele ser mais velho que Joelma chocou, a princípio, alguns familiares. Mas o decorrer dos dias, dos meses, foi quebrando as resistências e formando uma rede de afeto entre ele e nossa casa.

Ele me chamou para ser seu padrinho de casamento. Fiquei honrado com o convite. Sempre nos demos bem. Apesar dele e minha irmã morarem em outra casa, sempre estavam lá em casa, almoçando, jantando, assistindo, acessando a net, conversando, fazendo pizzas...

Fiquei meio que desnorteado com sua morte. Acompanhei tudo. Só sai de perto quando a terra cobriu totalmente o caixão que guardava seu corpo.

De tanta gente que passou por minha vida, ele foi uma pessoa que marcou. Nunca vou esquecer os momentos compartilhados juntos, em família, as risadas, as brincadeiras...

Um mês se passou. Nunca vou esquecer o primeiro de maio. Um adeus inesperado. Jamais imaginado. Mas, como diz a letra da canção de Catedral e em consonância com a minha fé cristã que ensina sobre a ressureição dos mortos, quando eu for recolhido desse mundo, a gente vai se encontrar, "não o sei dia e a hora, mas sei o lugar. Sei que você está bem, mesmo assim isso não me impede de chorar."

As pessoas só morrem de fato quando elas não significaram nada pra gente. Se elas significaram alguma coisa, estarão para sempre vivas em nossa lembrança.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Quando o tempo é inerte...



Finjo não saber que o tempo passa logo
Finjo pra tentar conter a minha dor
Finjo não notar, mas toda noite choro
Choro de saudade do que já se foi

Eita, ainda penso muito no  (nosso?) lance mal resolvido. Ainda sonho com o dia que você vai chegar e abrir a porta do meu quarto... Não consegui resolver essa lide de minha alma. Tentei. Lutei. Mas tudo foi como remar contra a maré.

Ah que bom seria se o tempo voltasse
Pra fazer tudo de novo, meu amor!
É como se a vida nunca acabasse
Reviver os passos seja como for

Talvez eu não quisesse voltar ao passado. Talvez fosse melhor eu nunca ter te conhecido. Talvez minha vida, sem ter esbarrado com você, fosse bem melhor... Talvez, talvez, talvez... Nunca irei saber ao certo. Mas é foda o que sinto ainda.

Lembrar do que foi bom
Mas também quero tropeçar nas mesmas pedras do caminho, refazer a mesma rota que o me coração traçou

No fundo sinto que valeu a pena, não obstante meu sofrimento ser superior e mais duradouro – até hoje?! – que o prazer vivido juntos... Contudo, acho (não tenho certeza!) que se diante de mim eu tivesse uma oportunidade de te esquecer ou voltar a viver tudo como antes, talvez (sempre um talvez!) eu aceitasse reviver...

Deixa eu voltar quero voltar, entrar na máquina do tempo é só ilusão eu sei, quero voltar quero viver o mesmo sonho e de novo encontrar você!

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Essas leseiras surgiram quando eu escutava essa música de Flávio  Venturini. A canção é linda. Ótima para viver uma dor de cotovelo boa, daquelas que arrancam lágrimas, que deixa a gente irado, que meche com a alma... De preferência com uma boa bebida também.





Às vezes, chego a pensar que aquela conversa de que o tempo cura tudo é pura ilusão. Conheço pessoas que sofrem, depois de muitos anos, de décadas, pela perda um ente querido. Conheço pessoas que se divorciaram há anos, mesmo assim nunca conseguiram se envolver afetivamente com outra pessoa. Acho que é melhor aprender a conviver com essa situação do que se esforçar para que ela acabe... 


sábado, 28 de janeiro de 2012

Um ano longe do armário



Ia deixar sem registrar essa data. Mas pensei durante toda a semana e durante todo esse dia. A liberdade não tem preço. 


Conhecer quem de fato ama você (amigos de verdade e familiares que você pode contar) é a melhor coisa do mundo. Poder viver sem medo, sem temor (apesar de tantos homofóbicos por aí), ser você mesmo é maravilhoso.


Sair das sombras, das trevas, do armário que aprisiona e sufoca todos e todas que fogem aquilo que uma sociedade heteronormativa diz ser nomal é sem comparação. 


Uma professora uma vez me disse que sair do armário é uma experiência libertadora. Um ano depois eu confirmo isso. Há um ano, dia 27 de Janeiro, meu armário era implodido.


Nesse período conheci pessoas maravilhosas, que me ajudaram em vários momentos. Por algum tempo pensei que ia morrer, que ia sucumbir a tudo que enfrentei.


O primeiro semestre na faculdade foi terrível. Mal eu prestava atenção nas aulas. Alguns colegas notaram uma diferença, mas eu não me sentia a vontade para abrir meu coração. A cada instante eu pensava quando ia deixar a faculdade.


 A morte para mim não era temida. Era bem vinda. Durante muito tempo eu quis morrer. Não pensava em me matar, como antes, mas se a morte viesse me buscar seria um alívio diante de tanta dor que passei.


"Por que, culturalmente, nós nos sentimos mais confortáveis vendo dois homens segurando armas do que dando as mãos?" perguntou Ernest Gaines. "A sociedade não gosta, o povo acha estranho", canta Cássia Eller.


No segundo semestre tentei recuperar o tempo perdido. Assim que rompeu o primeiro de julho eu disse pra mim mesmo que aquela era uma nova fase na minha vida. E foi.

Voltei a ler com força. A estudar mais ainda. Tentei duas seleções de mestrado em história, não logrei êxito, mas a experiência foi valiosa. Participei das conferências LGBT (local em Guarabira, estadual em João Pessoa e nacional em Brasília). Conheci muita gente. Comecei a reescrever minha história.

O que achei legal foi que minha saída do armário coincidiu com o ano que o judiciário brasileiro, através do STF, reconheceu a união estável entre homossexuais e o STJ reconheceu a possibilidade jurídica do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Nunca antes a TV Brasileira abordou tanto a questão LGBT nas novelas, debates. Também foi o ano que o discurso homofóbico mais forte ficou no Congresso Nacional, o ano que mais matou lésbicas, gays e travestis no Brasil.

Passei um tempo para reconstruir uma nova vida, mas hoje garanto que, se não sou completamente feliz, por não ter realizado meus sonhos ainda, estou a caminho. Muita coisa sei que vou enfrentar. Mas o principal já enfrentei que foi a minha família. O resto é de somenos.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sexta economia. E daí?

No fim do ano passado, muitos brasileiros festejaram o nosso país ter sido elevado, segundo o jornal britânico The Guardian, a sexta maior economia do mundo, superando o Reino Unido. Não vou negar a minha alegria, mas fui bem modesto com minha excitação e comecei a pensar sobre o nosso crescimento econômico. Infelizmente, a realidade social brasileira está muito aquém de sua posição econômica. Coloquei no Facebook um comentário a esse respeito. Um amigo virtual, que mora há anos na Inglaterra, disse “grande coisa”.


Os indicadores sociais brasileiros são uma vergonha. Quando se comparam os números brasileiros relacionados à saúde, educação e inovação com os de outras nações, o país continua na rabeira, perdendo para vizinhos, como Chile e Argentina, ou nações do leste europeu, como Estônia e Eslováquia. Meu amigo virtual disse mais ainda: “a Inglaterra perdeu a posição pro Brasil, mas aqui não existem mendigos nas ruas, escolas de má qualidade, os hospitais públicos fazem inveja a qualquer hospital privado do Brasil”.


Não se podem negar os avanços ocorridos nos últimos anos no país. Mas muita coisa precisa ser feita. Temos muito que avançar. O Brasil possui um sistema público de saúde único, uma vez que nenhum país, com mais de 100 milhões de habitantes, possui algo parecido. Mas o SUS precisa melhorar. Muitas pessoas passam meses pra conseguir uma cirurgia. Os hospitais sempre super lotados. Cidadãos morrem nas filas, esperando atendimento médico.


Na área da educação, muitos países do mundo erradicaram o analfabetismo há muitos e muitos anos. Nós ainda temos milhões de pessoas que não sabem ler e nem escrever o próprio nome! Outros milhões lêem um texto simples, mas não compreendem nada. Precisamos investir pesado na educação básica, começando do ensino infantil, muitas vezes deixado sem a devida atenção. Que nossos adolescentes e jovens cheguem ao ensino médio, depois de ter passado por um ensino fundamental bem feito, preparados para os desafios da nova fase escolar. Infelizmente, o que se observa é que o ensino médio em quase nada se diferencia do fundamental.


Como o espaço é pequeno, vou ficar apenas nesses dois aspectos da realidade brasileira, a saúde e a educação, em outra oportunidade vamos abordar a violência, a corrupção e a miséria ainda bastante presente no Brasil. É fundamental, portanto, que o crescimento econômico seja acompanhado de crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). De que adianta ser a sexta economia do mundo, passando vários países europeus, se temos índices de desenvolvimento humano comparáveis a países africanos? Quando os índices sociais estiverem no mesmo patamar que os econômicos, aí sim teremos motivos fortes pra comemorar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Educação de qualidade! Quando?


Dizer que a educação é o caminho para qualquer país se desenvolver com qualidade virou lugar comum. Políticos, empresários, professores, estudantes, organizações da sociedade civil, enfim, todas as pessoas e entidades que direta ou indiretamente estão envolvidas com a educação falam a todo tempo sobre isso.

O exemplo da Coréia do Sul é sempre citado para fundamentar o discurso da educação enquanto meio para o crescimento de uma nação. Em 1958, Coréia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Na década de 60, o país era um dos mais pobres do mundo, destroçado por uma guerra que destruiu 25% da riqueza nacional e matou 5% da população civil. Hoje, o país tem um PIB per capita quase três vezes superior ao brasileiro. Como a Coréia do Sul conseguiu isso? Investindo pesado em educação.

O Ensino Fundamental no Brasil foi praticamente universalizado. O desafio agora é fazer o mesmo com o Ensino Médio. Mesmo assim, o analfabetismo no Brasil continua grande. Muitos programas já foram lançados por vários governos. Muito dinheiro público investido. Contudo, pouca coisa mudou. Conheço pessoas que já passaram por vários programas de alfabetização e ainda assim não conseguem ler ou escrever.

O Ensino Superior foi bastante expandido nos últimos anos. Mesmo assim continuamos atrasados. Apenas 11% dos jovens entre 18 e 24 anos têm acesso ao ensino superior no Brasil. Na América Latina e Caribe, o índice é em torno de 32%. Já a Coréia se aproxima da universalização do ensino superior, com mais de 80% dos jovens matriculados em algum curso pós-secundário.

A luta agora é para que 10% do PIB sejam destinados para a educação. Nada mais justo. Mas tenho receio de o quanto desses recursos não será desviado por gestores nada comprometidos com a coisa pública e em especial com a educação.  A corrupção é uma praga que assola o país de norte a sul, de leste a oeste, envolvendo pessoas de todos os partidos, seja de direita, centro ou esquerda.

O senador Cristovão Buarque (PDT – DF) apresentou um projeto que obriga os filhos dos políticos ocupantes de cargos eletivos a estudarem em escolas públicas. Óbvio que essa proposta nunca será aprovada. Mas, penso que a sociedade deveria se mobilizar para a sua aprovação. Só assim a educação iria mudar. E penso que os políticos deveriam ser obrigados também a usar os hospitais públicos e sentir na pele o que milhões de brasileiros sentem todos os dias com a falta de atendimento médico adequado.

O Brasil só terá uma educação pública de qualidade, da mesma forma que existe em vários países do mundo, quando o neto de um ano da presidenta Dilma Rousseff, chegar à idade escolar, e for estudar numa escola pública do mesmo jeito que o filho de um trabalhador assalariado. Quando isso acontecer o Brasil terá avançado e se desenvolvido.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O “Girassol” de Alagoinha





O “Girassol” de Alagoinha *

Da mesma forma que um Girassol,

Ele esquadrinha onde está a luz.

Esta busca que parece interminável, incansável e íngreme. 

Pelo brilho do seu coração.

Em certos momentos chegou a encontrar,

Mas eram satélites e não astros.

E com o tempo, a luz se dissipou no espaço.

Hoje, nada mais são do que simples reminiscências.

Como uma águia, voando cada vez mais alto,

Ele continua sua busca.

Ela pode está submersa e dormindo, esperando seu olhar,

Sonhando com o mar.

Este mesmo mar que faz o “Girassol” olvidar, por um instante,

De tudo e de todos.

Que o impulsiona a seguir em frente, olhando em direção ao Sol.

Ele conhece o segredo do mar, 

A sua imensidão o aconchega e tranqüiliza. 

Ao contemplar as ondas beijando os rochedos.

Esta imagem o faz regressar. 

E quando se volta,

Seus olhos verdadeiros e sensíveis fitam 

Em uma flor, que para ele tem um espetacular sentido.

Um imponente “Girassol”,

No mesmo instante vem em sua mente, 

Esperança, Vida e Alegria.

Sua relação é tão forte,

Que se confundem um com o outro.

Só mesmo o coração para entender, a relação entre 

Luz, Mar e Girassol.


* Por - Wagno Almeida Lira (04/01/2012)

PS: Recebi essa poesia de meu amigo Wagno (Facebook). Achei linda. Cada vez que leio eu me emociono. 

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