sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Adeus 2010!

Mais um ano chega ao fim. Esse foi um ano singular em minha vida. Não que os outros não tenham sido também. Mas 2010 assinalou uma nova fase na minha existência. Consolidou mudanças significativas iniciadas em 2008. Cresci bastante. Não em estatura (risos); ainda continuo com 1,73 metros. Cada instante do ano que se vai foi muito valioso para mim.

Coloquei cinco metas a ser alcançadas . Fui exitoso em quatro. A outra com um tempo vou conseguir conquistar; é uma questão de esperar um pouco, de tentar controlar minha ansiedade e lutar porque no tempo certo, já que como disse Salomão existe tempo para todas as coisas abaixo do céu, vou cantar vitória.

O curso de Direito não era o bicho que eu imaginava. Meu medo ao fazer o vestibular da UEPB no ano passado era não gostar do curso, não me adaptar a leituras de códigos, leis e etc, essa visão que as pessoas que vem de outra gradução de humanas possui. Mas para minha surpresa o curso se revelou um mundo de possibilidades jamais imaginadas por mim e me deixou enamorado já nos primeiros dias.

Tive um relacionamento. Nem precisa eu comentar sobre ele. Aqui nesse blog cansei de postar minha caminhada durante os cinco meses que estive namorando. Foi bom. Foi pedagógico para mim. Não me arrependo de nada. Se fosse necessário eu faria tudo outra vez. Hoje somos amigos. Conversamos sempre. Temos sentimentos recíprocos de afeto.

Fiz amizades importantes. Conheci pessoas de ambos os sexos que me fizeram sorrir, amar, divertir. Conheci pessoas que espero compartilhar muitos momentos juntos, enquanto Deus estiver renovando o dom da vida em mim. Pessoas que posso contar em várias situações. Talvez a conquista dessas amizades seja o principal legado desse ano para minha existência.

As eleições de Dilma Rousself e Ricardo Coutinho para presidenta da República e governador da Paraíba, respectivamente, foram vitórias importantes que comemorei bastante. Dilma vai ser a primeira presidenta do Brasil. A missão de continuar o governo mais bem avaliado da história brasileira está em suas mãos. Não tenho dúvidas que ela não só fará isso como irá atender outras demandas para que o Brasil seja uma potência mundial e jogue a miséria, ainda existente na vida de milhões de brasileiros, no lixo da história. 

A eleição de Ricardo aqui na Paraíba foi mais emocionante. Contra todas as pesquisas de intenção de votos ele chega no primeiro turno superando o atual governador. A vitória no segundo turno foi favas contadas, já que existe a crença, até hoje comprovada, de que quem ganha no primeiro vence o segundo turno. Pela primeira vez um homem do povo, vindo de movimentos populares, sem linhagem política vai ocupar o Palácio da Redenção! A vitória de Ricardo foi um brado de esperança de um estado que está entre os mais atrasados desse país, porque até hoje seus governantes não tiveram projetos estruturantes para a Paraíba. A partir de amanhã, eu tenho certeza, que uma nova história será escrita por aqui, que um novo jeito de governar será implatado, que um novo tempo vai raiar!

2010 vai deixar saudades. Mas o que me deixa mais contente é a esperança de que 2011 seja melhor, que consolide minhas conquistas, que abra novas perspectivas para mim, para minha família, para meus amigos, para minha cidade, meu estado e meu Brasil.  Por tudo isso, nessas horas finais desse ano velho eu quero cantar, louvar e agradecer a Deus pelas lágrimas que demarrei, pelas vitórias, pelas amizades construídas, pelo crescimento pessoal... Enfim, ao som de Diante do Trono, Senhor eu Te agradeço!!!

sábado, 11 de dezembro de 2010

A consciência da morte enquanto impulso da vida



A morte é a única certeza que temos. Todo mundo está entre a vida e a morte o tempo todo. Não é verdade que só corre risco de vida quem está internado em uma UTI. Qualquer ser-vivo, do recém nascido ao ancião que beira o centenário, do mais saudável ao paciente terminal de um câncer, está diariamente vivendo na iminência de morrer.

Quando eu era criança, o medo da morte me apavorava constantemente. Eu tinha medo de morrer. Tinha medo de algum vizinho meu morrer. Eu acreditava, naquele tempo, em almas penadas, em espíritos que voltavam do mundo dos mortos para perturbar as pessoas vivas. Lembro de um enterro de um parente. Eu era muito novo. A imagem de um caixão azul sendo perfurado (os caixões dos pobres antigamente eram feitos com alguns pedaços de madeira e cobertos de plástico, por isso era necessário no sepultamento furar a tampa, para que a terra pudesse fazer o seu trabalho) e das pessoas jogando terra voltava sempre a minha mente. Eu tinha horror a tudo isso. Como se não bastasse, muita gente gostava de contar casos de pessoas enterradas vivas. Meu medo aumentava. Eu tinha pesadelos sendo enterrado vivo.


Um amigo de infância morreu. Brincávamos muito. Éramos vizinhos. Não tive coragem de ir vê-lo no caixão. Lembro da insistência de minha mãe para que eu fosse me despedir. Mas não tive coragem. Um momento, eu estava ao lado da casa, vendo a multidão de pessoas que se aglutinavam para o enterro, e mãe me pegou pelo braço e me levou, contra a minha vontade, até o esquife. Saí chorando de lá. Essa lembrança é bastante vívida. Talvez seja por isso que, até hoje, não costumo ir para velórios de pessoas que morrem na aurora de suas vidas.


Com um tempo comecei a gostar de enterros (Mas outro dia eu conto sobre esse lobby macabro que cultivei no fim da minha infância e início da minha adolescência). Mas o medo de morrer, de ser enterrado vivo, de ir para o inferno era constante em mim. Tive hepatite do tipo A. Lembro de ficar, durante meu período de doente, perguntando a minha mãe seu eu iria morrer. Graças a Deus isso, ainda, não aconteceu.


O medo da morte me aproximou dos evangélicos pentecostais. O discurso deles de que quem aceitava Jesus ia para o céu me dava um alívio. Meu medo da morte era, em grande medida, o medo do inferno. O discurso de um Deus irado, sempre pronto pra castigar os erros das pessoas e mandá-las para o inferno foi presente, durante muito tempo, em minha vida. Hoje não acredito em muita coisa que povoou minha mentalidade infantil e adolescente. Mas os evangélicos davam uma certeza enorme da entrada no paraíso celeste das pessoas que morriam convertidas. Elas seriam salvam. Eu queria ser salvo.


Terminei indo para a Assembléia de Deus ainda criança. Só que eu era pagão, ou seja, não batizado na Igreja Católica. Eu estudava o catecismo para fazer a Primeira Comunhão e iria aproveitar a ocasião para me batizar. Só a partir daí, segundo minha mãe, eu poderia virar crente. Só me converti no final de 1999 na Igreja Universal do Reino de Deus. Por incrível que pareça, nessa minha primeira fase evangélica e depois na Igreja do Betel Brasileiro, meu medo da morte sumiu.


Mesmo tendo rompido com a ideologia protestante, não tenho mais medo de morrer. Tenho medo da forma de morrer. O tipo de morte que terei me assusta. Será que vai ser demorada? Acidente automobilístico? Assassinato? Infarto? Alguma doença rara? Isso me assusta. Mas não fico atemorizado diante da vida pós-morte. Sou tranqüilo a esse respeito. A propósito, o eterno Raul e o bem vivo Paulo Coelho no “Canto para a minha morte”, falam


Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...


Mas escrevi tudo isso porque essa semana terminei de ler “O Diário de um Mago”, de Paulo Coelho. Como muita gente sabe, o autor de “O Alquimista” é o meu escritor dileto. O livro descreve a sua experiência pelo caminho de Santiago de Compostela. Ele foi como peregrino católico e como membro de uma Tradição bastante ligada à magia. Assim, durante o Caminho, várias experiências foram feitas, com a orientação de seu guia, Petrus, e uma delas está relacionada à experiência de ser enterrado vivo. Meu maior medo infantil.


Algumas palavras do seu guia me deixaram bastante reflexivo e passei a ter uma visão mais positiva dos seres humanos. Vamos lá.


“O homem é o único ser na natureza que tem consciência de que vai morrer. Por isto, e apenas por isto, tenho profundo respeito pela raça humana, e acredito que seu futuro será muito melhor do que seu presente. Mesmo sabendo que seus dias estão contados e tudo irá se acabar quando menos espera, ele faz da vida humana luta digna de um ser eterno. O que as pessoas chamam de vaidade – deixar obras, filhos, fazer com que seu nome não seja esquecido – eu considero a máxima expressão da dignidade humana.”


Nem preciso comentar, né? Está tão claro. Esse trecho prendeu de imediato a minha atenção. Reli várias vezes. Mas tem outro parágrafo que continua a sua linha de pensamento.


“Acontece que criatura frágil, ele sempre tenta ocultar de si mesmo a grande certeza da Morte. Não vê que ela é que o motiva a fazer as melhores coisas de sua vida. Tem medo do passo no escuro, do grande terror do desconhecido, e sua única maneira de vencer este medo é esquecer que seus dias estão contados. Não percebe que, com a consciência da Morte, seria capaz de ousar nas suas conquistas diárias – porque não tem nada a perder, já que a Morte é inevitável.”


A partir desse trecho eu percebi o quanto a consciência da morte é um estímulo para viver a vida. E viver bem! Com dignidade. Com paixão. Com disse o poeta “viver e não ter a vergonha de ser feliz”.


Assim sendo, a consciência da morte impele ou deveria impelir as pessoas a ousar mais, serem menos temerosas de errar, de levar um fora, de perder... Essa madrugada, em conversa com um amigo pelo MSN, eu me lembrei da música “Epitáfio” dos Titãs. Sempre imagino, quando a escuto, um homem diante de sua lápide vendo o filme da sua vida e percebendo o quanto ela deveria ter sido mais prazerosa, mais alegre se ele tivesse amado mais, chorado mais, ter visto o sol nascer, ter arriscado mais, ter feito o que ele queria fazer...


A parte que mais gosto em “Epitáfio” é quando ele diz que deveria ter se importado menos com problemas pequenos e ter morrido de amor. Eu fico pensado: “será que esse cara amou algumas vezes e nunca ousou ir adiante com seus sentimentos com medo de não ser correspondido?”. Ah, companheiro, espero chegar aos meus dias finais, fazer uma reflexão sobre a minha existência e dizer: “Vivi a vida intensamente, combati o bom combate, lutei pelos meus ideais, amei, fui atrás de meus sonhos e os que não realizei não foi por falta de tentativas, nem tudo eu pude realizar, mas pelo menos eu tentei.”


Portanto, diante da efemeridade da existência as pessoas deveriam correr atrás da realização de seus desejos. Chegará um dia que isso não será mais possível. É melhor se arrepender do que fez do que se arrepender do que não se fez. Para terminar essas minhas elucubrações, faço uso das palavras de Petrus em mais uma trecho de “O Diário de um Mago”: “A morte é nossa grande companheira, porque é ela que dá o verdadeiro sentido às nossas vidas.”

domingo, 21 de novembro de 2010

Minhas paixões de criança



As crianças também amam? Não sei o que os especialistas no assunto pensam a respeito, mas pela minha própria experiência garanto que sim.


Todo mundo que me conhece, que me ler, que me segue no Twitter, que me tem no Facebook ou Orkut sabe que tenho uma personalidade exageradamente romântica. O que essas pessoas não sabem é que carrego esse problema desde quando era criança, desde quando o mundo dos desenhos animados se confundia com a realidade concreta.


Não consigo lembrar qual foi o ano da primeira garota que gostei. Minha memória não é precisa nesse sentido, mas consigo lembrar de todas que gostei. Meninas da minha idade, meninas mais velhas, professora do ensino infantil e até apresentadoras da TV.


Meu primeiro beijo foi com a filha de um colega de trabalho de meu pai. Não foi uma única vez que nos beijamos. Mas um dia eu tava com vergonha porque nossos pais estavam próximos, então decidi ir pra casa. Pra que fui fazer isso. Ela veio atrás de mim e enquanto eu pulava a cerca fugindo dela, fui atacado com um cabo de vassoura. Não lembro se chorei. Lembro que doeu pra caramba. Se fosse nos dias hodiernos eu iria a Justiça processá-la baseado na Lei Maria da Penha. Mas a Maria da Penha não é uma Lei de proteção das mulheres?, pode alguém perguntar. Sim, contudo, tenho aprendido no curso de Direito que no meu caso eu poderia usar a analogia.


Outra menina que eu tive um caso era carioca. Não lembro do nome dela. Era sobrinha de uma vizinha nossa. Veio do Rio de Janeiro passar uma temporada na casa da tia, junto com a mãe. Crianças têm uma facilidade pra fazer amizades, né? De novo no local de trabalho do meu pai. Num instante que nossos pais não prestavam atenção, eu a chamo para um canto e peço um beijo a ela. Gostei. Pedi outro e mais alguns outros. Fiquei apaixonado. Quando ela foi embora, eu sonhava todas as noites com seu retorno. Hoje estou com vinte e três anos e isso não ocorreu.


Outra paixão infantil foi a filha de uns amigos de meus pais que moravam em Cuitegi, cidade próxima à minha. De vez em quando íamos a casa deles e eles vinham à nossa. Eu a achava linda. Sua cor de canela. Uns cabelos bonitos, lisos, pretos. Era doido pra vê-la sempre. Uma vez, ela veio com seus pais e suas irmãs lá pra casa. Foram, durante a tarde, no local de trabalho do pai, sempre lá que acontecia essas coisas. Enquanto nossos pais conversavam distante de nós, fomos nos dirigindo para um lugar atrás da estação de tratamento de água. Lá ela me pediu em namoro. Certamente eu deva ter ficado corado, porque na hora me senti cheio de vergonha e de timidez. Eu disse que meus pais não deixavam. Mas no fundo eu queria namorá-la. Nos beijamos uma vez. Dessa vez não foi eu que tomei a iniciativa. Ela pediu outro beijo, neguei porque vi que nossos pais estavam se aproximando. Ela insistiu. Eu fui me afastando e sem ver acabei batendo com a testa na quina de uma parede. Saiu tanto sangue nesse mundo. Até hoje tenho uma pequena cicatriz na minha testa, está sumindo, mas dar pra ver ainda. Depois desse evento não nos vimos mais. Os pais foram morar em outro estado. A última notícia que tive foi que ela estava morando com um traficante. Se eu tivesse aceitado aquele pedido de namoro...


Havia uma professora na escolinha que eu estudava que me encantava. Ela era nova. Não me ensinava, mas sempre estava por perto. Sempre eu sonhava com ela em minhas noites infantis. Anos depois nos encontramos numa Igreja evangélica. Era estava noiva e casou. Mas nesse tempo eu já não gostava dela.


Minha outra paixão surgiu na segunda série. Uma coleguinha. Essa paixão durou até algumas séries posteriores. Mas eu fui crescendo e aquela desinibição que eu tinha quando era menor foi desaparecendo. Nunca me declarei pra ela. Sempre brincávamos na escola, na praça da cidade, no pátio da casa dela, nos ônibus da prefeitura. Eu sempre desejando chegar um momento de beijá-la. Uma vez eu disse a uns colegas da escola isso. Eles passaram a ameaçar a contá-la que eu gostava dela. Para que isso não me ocorresse era obrigado a dar uma mesada a eles. Isso durou um bom tempo. Meu pai sempre me perguntava por que eu pedia tanto dinheiro, eu dizia que era pra pagar os picolés fiados que eu comprava em frente à escola. Pois é, eu já fui extorquido. Mas o tempo passou, fui descobrindo outras meninas. Nos separamos de série, nos encontramos novamente no ensino médio. Pouco depois ela casou. Hoje está divorciada e com uma filha. Será que amores de infância podem voltar?


Tive duas outras paixões durante a infância. Eu estava à beira da adolescência. Estudava o Catecismo para fazer a Primeira Eucaristia. As duas estudavam comigo. Uma morava num Engenho. Estudava em Guarabira. Sempre passava, junto com a irmã e um peão, cada um num cavalo bonito. Eu ficava todos os dias em frente de casa para vê-la passar na ida pra escola e na volta pro Engenho. Aguardava com ansiedade o sábado do Catecismo. Nem precisa dizer que eu sonhava com ela, né? Nesse tempo eu tinha me tornado muito tímido, por isso nunca rolou nada. Tempos depois o Engenho do pai faliu. Tiveram que vender e foram morar fora. Nunca soube notícias dela.


A outra morava na cidade mesmo. Sua rua não era muito distante da minha. Essa paixão durou mais tempo. Todas as vezes que eu saía da escola eu passava em frente da casa dela. O pior é que um monte de outros garotos era afim dela também. Meu melhor amigo de infância era um. Na formatura da quarta-série, eu e meu amigo disputamos o convite para ela ser a madrinha na festa. Uma vez eu e ele, na minha bicicleta, ficamos indo e voltando sem coragem de chamá-la. Numa dessas voltas, acabamos caindo em frente de sua casa. Ela saiu junto com a avó. Foi aí que ambos fizemos, ao mesmo tempo, o convite. Resultado: nem eu nem ele tivemos o prazer de tê-la como madrinha. Mas a paixão não morreu. Eu ia sempre com ele, durante a tarde, observá-la em um beco que dava para seu quintal. Algum tempo depois ela foi morar em outra cidade. Soube, alguns anos atrás, que tinha casado. Da última vez que a vi estava gorda, sem a beleza que havia me encantado nos meus dez e onze anos.


Eu nem falei que também fui apaixonado por Xuxa e Angélica. Então, eu sonhava com elas. Eu ficava com um ciúme danado quando assistia filmes que elas beijavam outros atores. Eu sempre me imaginava fazendo filmes com elas, beijando-as, salvando-as de algum perigo mortal.


O interessante é que minha história de vida, de meus afetos, sofreu uma involução. Nos primeiros oito anos de vida, eu quando era afim de uma menina ia atrás. Fui crescendo e isso em vez de aumentar foi diminuindo. Cheguei à adolescência muito tímido. Só uma vez ocorreu uma exceção, mas outro dia relato aqui. No meu tempo de evangélico tive três paixões, mas nunca tive de coragem de contar a elas. Eu me achava feio, fora de moda e, portanto, sem chances perto delas. Claro que não gostei das três concomitantemente. A última menina, já no fim de minha ilusão amorosa, contei a ela, mas nada aconteceu. Fui me retraindo ainda mais. Cheguei à casa dos vinte anos todo fechado. Entrei no curso de História e só no quinto ano fui me soltar, mas aí é outra história que não dar pra contar agora. Nesse ano, minha timidez está indo embora. Já namorei. Há dois dias teve uma festa de confraternização devido o Congresso Jurídico que ocorreu na UEPB. Lá, pela primeira vez, tomei a iniciativa de beijar uma menina, sem que ela antes tivesse dado em cima de mim. Pela primeira vez desde que a timidez se tornou um traço marcante de minha personalidade, porque, como escrevi acima, nos meus primeiros anos de vida a coisa era diferente...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Ele não se decide




Estava sem saber o que dizer, sem saber o que pensar, sem saber como agir diante do fato de ter sido obrigado a reconhecer que sentimentos julgados inexistentes em sua vida estarem tão presentes quanto o desejo de conhecer uma nova pessoa. Além disso, teve que reconhecer um erro que nunca tinha passado em sua cabeça ter cometido.


A conversa com sua amiga da faculdade abriu fendas em sua alma, arranhou a moldura de seu coração, atacou a solidez de seus afetos. Foi como uma teofania. Ela foi como um anjo revelando o que estava escondido dentro dele, sufocando-o, enganando-o sem ele perceber.

Durante todo o caminho para casa, enquanto olhava a paisagem, o verde, as nuvens azuis, alguns animais que pastavam e algumas pessoas que cuidavam de seus roçados, ele pensava o quanto a vida, em determinados instantes e aspectos da sua vida, parece ser injustiça, incoerente, insensata, inexorável.

Muitos de seus amigos de infância, de adolescência, colegas do ensino fundamental e médio já estavam casados, outros divorciados, muitos com filhos, fizeram o que ele sempre teve vontade de fazer e não fez ainda, seja por medo de dar errado, seja por medo de encarar uma cidade grande, desconhecida, estranha, sendo ele mesmo desconhecido e estranho diante de uma multidão frenética, saíram de casa e ser tornaram homens e mulheres donos de suas vidas.

Ao pensar na conversa com sua amiga, ao lembrar dos antigos amigos e colegas, ele caiu em si e viu o quanto era imaturo, criança. Culpa a vida, mas no fundo ele sabe que o único culpado de tudo não está como deseja é ele mesmo. Ele com suas dúvidas existenciais, com seus conflitos de identidade, com seus monstros que tanto o assusta ao mesmo tempo que os alimentam, com seu receio de romper com a lógica que tanto critica, que tanto ojeriza, detesta, mas parece, às vezes, que ela faz parte do jardim de sua vida ao lado dos girassóis, das rosas, das margaridas e, portanto, recebe os mesmos cuidados para se desenvolver que as flores do bem.

Ligou o chuveiro. Deixou que a água banhasse aquele corpo, aparentemente, sem marcas, mas por dentro todo estigmatizado de afetos incompletos, recolhidos, guardados sob o manto do medo. Não agüentou muito tempo em pé. Sentou no chão do banheiro. Aumentou a velocidade do chuveiro. Ritualizou aquele instante. Transformou um banho normal em um batismo de sua vida, como rito para entrar na comunidade espiritual das pessoas amadas, realizadas, completas e sólidas em seus desejos e sentimentos.

A represa de sua alma estourou. As lágrimas jorraram abundantemente de seus olhos, misturando-se com a água, tornando aquele instante mais sagrado ainda.

Depois de alguns minutos levantou-se. Mirou sua imagem refletida no espelho. Os olhos vermelhos, o cabelo desalinhado, a cara de quem tinha chorado tanto o assustou. Pensou na experiência do banho. A sua tentativa de sacralizar tudo aquilo, entretanto, caiu por terra quando o celular anunciou a chegada de um SMS. Sorriu e teve raiva quando viu de quem era. É ambígua a reação dele diante da personagem que enviou a mensagem de texto. Assim como é ambígua a tentativa de esquecê-la concomitantemente ao anseio de conquistá-la.

Saiu do banheiro como uma pessoa normal. Nem parecia que era o mesmo que tinha entrado, que tinha chorado, que tinha ressignificado o seu banho para torná-lo um rito de passagem rumo a uma nova fase de sua vida.

Ele é uma criança ainda. Não sabe o que quer. Fica em cima do muro diante das escolhas necessárias para a sua realização pessoal. Mas um dia ele terá que decidir qual caminho seguir. Ninguém pode entrar no céu desejando está no inferno.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Eu finado

Hoje tinha tudo pra ser mais um dia de finados normal na minha vida. Acordei cedo, vi alguns telejornais, naveguei horas na net, vendo minhas redes sociais, sites e blogs políticos. Aqui em casa estávamos esperando amigos de Santa Rita que, anualmente, nesse período, aparecem por aqui.

Hoje tinha tudo pra ser mais um dia de finados normal se não fosse o fato de uma pessoa presente aqui em casa propor tomar uma cerveja. Estranhei o fato. Mas beleza, fomos a um supermercado e compramos algumas latinhas e uma garrafa de ice. Bebemos. Almoçamos. Fomos descansar.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de eu ter começado a escutar Chiclete com Banana, pensando no Carnaval, pensando na festa que vai ter em Campina Grande no próximo dia 21, pensando em beijar na boca, fazer amor e tantas outras coisas que as pessoas fazem em momentos de festa ao som da banda baiana. Baixei várias músicas pelo 4shared e fiz minha farrinha, solitário, em minha casa.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de depois de ter baixado as músicas de Chiclete, de ter acessado e comentado fotos, status e links no Facebook eu ter deitado na sala de minha casa e não no meu quarto. Mas até aí, sem problema. Mas eu só consigo dormir a tarde se for com som ligado. Como o computador fica próximo de onde eu iria descansar, coloquei um monte de músicas de Marisa Monte pra ficar rolando, enquanto eu viajava em meus sonhos.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de durante o sono, em meus sonhos, as músicas terem entrado em contato com meus desejos mais profundos, mais reprimidos, meus medos mais intensos em perfeita harmonia e me ter feito sonhar com pessoas e momentos que eu deveria ter deletado de minha vida.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de em um dos sonhos  alguns demônios, que eu jurava ter exorcizado dentro de mim, terem voltados com toda a força malévola em minha minha vida. E foi essa ressurreição inesperada de mortos, de medos, de sentimentos frustrados e desejos não totalmente realizados que me fizeram perder a serenidade e me deixaram literalmente de luto neste dia de finados.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de nessa tarde, durante os sonhos, eu ter tido a comprovação de que estava em uma bola de sabão. Desde uns dias atrás, minhas estruturas começaram a tremer um pouco diante de confronto direto com pessoas que exerceram sobre minha vida, sobre meus sentimentos, um domínio imperial. Mas pensei não ser nada demais. Mas nos sonhos dessa tarde... Acordei com a ligação de um amigo do EJC pra me pedir umas opiniões. Tentei voltar ao sono, mas sem sucesso. De repente lembrei-me dos sonhos, ainda ao som de Marisa Monte, dessa vez cantando “a dor da paixão não tem explicação, como definir o que só sei sentir, é mister sofrer para se saber o que no peito o coração não quer dizer”. Um deles me abalou complemente. Deixou-me, como algumas pessoas falam, chocado. Fez minha bola de sabão estourar. E tudo voltou a ser como antes... Pelo menos é o que sinto agora.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de meu lado romântico, sentimental, afetivo que eu reputava ter desaparecido ou pelo menos enfraquecido, ter vindo à tona com tudo. Eu estava nos últimos meses mais contido, mais moderado nesse sentido. Até tinha esquecido esse traço de minha personalidade que tanto me fez bem quanto mal.

Hoje tinha tudo pra ser um dia finados normal se não fosse o fato de eu ter morrido com tudo isso, virado um defunto, necessitado de que alguém acenda uma vela, reze e vele por mim. Quero descansar em paz. Quero me livrar logo desse purgatório. Quero poder ir ao paraíso, ver os anjos, me encontrar com Deus.

Hoje tinha tudo pra ser um dia de finados normal se não fosse o fato de mais um trecho da canção Ontem ao Luar de Marisa Monte explicar sinteticamente meu estado e fechar essas divagações de um idiota sentimental.

Se tu queres mais
Saber a fonte dos meus ais
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração
Ouve a inquietação da merencória pulsação
Busca saber qual a razão
Porque ele vive assim tão triste a suspirar
A palpitar em desesperação
Na teima de amar um insensível coração
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará

Intercedam por mim!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Vou-me embora pra Gliese





Se Manuel Bandeira escrevesse hoje Vou-me embora pra Pasárgada, talvez o seu poema mais famoso, ele não ia para Parságada. Penso eu, que o poeta nordestino, nesses dias de globalização intensa, seria leitor ávido, não apenas da literatura, mas também da ciência. Eu acredito que ele trocaria o nome Pársagada para Gliese 581g. Mas um nome assim é muito feito. Ele, certamente, excluiria o 581g e deixaria apenas Gliese. Um nome bonito, né? Quem sabe não coloco esse nome na minha filha...

Recentemente, os cientistas descobriram um planeta muito parecido com a Mãe Terra. Batizaram de Gliese 581g, mas que eu, como não sou astrônomo, vou chamar apenas de Gliese. Depois de onze anos de observação, avistaram esse planeta. Gliese orbita numa região de zona habitável do sistema estelar. Nessa região, a quantidade de calor é suficiente para a existência de água em estado líquido em sua superfície. Assim, a possibilidade de existir alguma forma de vida é muito provável.

Quando eu era criança, eu costumava olhar para o céu. Eu adorava ver o movimento das nuvens. Ficava visualizando figuras de animas na imensidão do céu. Isso durante o dia. À noite, olhava as estrelas. Deslumbrado com a infinidade delas, eu metia a contar. Dias depois, nascia uma verruga em mim por ter contado as estrelas. Mas eu morria de medo dos ETs. Qualquer objeto voador desconhecido que surgisse no céu, as pessoas de tanto assistir os filmes norte-americanos, diziam ser um disco voador. O mais incrível era as estórias que me contavam. Fulano tava indo pro roçado, de repente um clarão surgiu no céu; quando olhou pra trás era um disco voador; correu tanto que consegui escapar. Lembro de várias pessoas que contaram ter tido uma experiência semelhante. Claro, essas estórias metia medo em mim e nas demais crianças vizinhas. Quando eu assistia a um filme sobre extraterrestre, eu me assombrava durante o sono. Mas isso passou...

Hoje quem mais me mete medo são os próprios seres humanos. Nem os demônios, nem o papa-figo, nem o bicho-papão, nem Comadre Folozinha e os ETs me assustam mais. As pessoas me assustam. Um valor tão importante, como a confiança, está indo embora nas relações interpessoais. A hipocrisia, a falsidade, a mentira, a competição desenfreada tem, infelizmente, caracterizado a maioria dos homens e mulheres nos dias hodiernos.


Disse Albert Einstein: Tempo difícil esse em que estamos, onde é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito. Em pleno século XXI, depois de tantas conquistas e avanços no campo da ciência, das artes, da tecnologia, contraditoriamente, essa frase se encaixa perfeitamente. Nas universidades discute-se muito a noção de alteridade, de valorizar e respeitar o outro, mas fora de seus muros a realidade é bem diferente. Minorias são execradas, humilhadas, xingadas e até, o mais triste de tudo, mortas por sua orientação sexual não heternormativa, pela religião que contraria os valores das religiões oficiais, pelo estilo de vida que vive, pelas idéias que defendem. No Brasil, esse país tido como cordial, pacífico, a cada dois dias uma pessoa é morta por ser gay, travesti ou transexual.

Quem diria que depois de tanto conhecimento acumulado ao longo da história, guerras motivadas por fins econômicos ainda existiram... Se nesse momento, os conflitos bélicos são reduzidos e bem localizados, por outro lado milhares de pessoas morrem de fome, apesar da produção de alimentos ser suficiente para alimentar, com folga e com bastante sobra, toda a população mundial.

O meio-ambiente é destruído, cotidianamente, em nome de um progresso que só favorece a uma minoria em detrimento da maioria excluída, empobrecida. Os valores mais importantes são medidos pela riqueza e pelo status que as pessoas possuem na sociedade. O rótulo é mais evidenciado e aceitado do que o conteúdo...


Vou-me embora pra Gliese. O planeta será destruído pelos seres humanos mesmo. Antes que isso aconteça, quero está bem longe daqui. Talvez lá, em Gliese, os habitantes estejam vivendo no Éden, em harmonia com todas as formas de vida existentes, sem conflitos, sem preconceitos, sem desigualdades, sem os males daqui da terra.


O que me deixou triste foi saber que uma viagem a Gliese num dos ônibus espaciais da NASA levaria 766 000 anos, quatro vezes o tempo que o Homo sapiens habita na terra. Quando isso for possível eu já não estarei mais com vida.


Mas, pensando bem, é melhor deixar Gliese lá. A distância de 20 anos-luz da terra ou 190 trilhões de quilômetros é boa. Boa pra Gliese, que continuará em paz, sem a presença humana que levaria toda a sorte de desgraça pra lá; boa pra mim que vou ter esse lugar um tanto utópico pra sonhar, pra divagar nos momentos de solidão e de desânimo. É bom saber que existe um local diferente da podridão da terra, mesmo que eu tenha a certeza que nunca conseguirei alcançá-lo.


Vou-me embora pra Gliese! Vem junto???

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

... a vida tão simples é boa



Escrevo este texto com atraso. Eu deveria ter feito isso sábado. Mas devido a minha tensão e envolvimento com a campanha eleitoral e com as comemorações posteriores, não fiz. Mas, como diz um lugar-comum bastante conhecido de todos, nunca é tarde.



Eu tenho um grande amigo em Pirpirituba. Um irmão. Alguém que eu posso contar em vários momentos de minha vida. Temos vários aspectos comuns em nossas personalidades. Como eu estava bastante apreensivo e ansioso com as eleições de domingo passado, eu decidi ir para a cidade dele, conversar um pouco, beber algo, quebrar um pouco a minha rotina.


Assim que saí de lá, percebi que eu tinha feito à coisa certa. Eu estava feliz. Menos tenso. Mais esperançoso com a vida. Com a certeza de que são os amigos que ajudam a trazer beleza e poesia a nossa vida. Uma vida tão aquém daquela ideal, para pessoas sonhadoras como eu, mas que sem as amizades ela seria mais triste, como uma flor murcha, como uma árvore morta.


Fomos a um barzinho bem legal. Um outro amigo comum estava conosco, uma vez que eu o tinha encontrado, por acaso, na rodoviária de Guarabira. Depois ele foi embora. Ficamos sozinhos. Entre uma cerveja e outra, colocamos os papos em dia. Expusemos umas mágoas guardadas por outras pessoas. Conversamos sobre política, sobre a vida, sobre a família, sobre planos futuros, sobre o amor. O amor nunca sai de minhas conversas, de meus textos, de minhas músicas e nem de meus livros. Está sempre presente em minha vida. Quando penso que ele se foi, de repente ele bate na porta do meu coração e de meu pensamento, me fazendo crer que minha identidade está relacionada a ele.


Mas voltando ao assunto. Em seguida, fomos à casa de uma amiga dele, que conheci na Cidade da Luz, muito simpática, muito agradável, muito especial também. Lá fui apresentado a mãe e a avó dela. Confesso que me senti meio por fora, estranho. Mas logo que começamos a conversar, não só me senti como se estivesse entre familiares, como rememorei lembranças de minha infância, sonhos e desejos de menino, gostos e sabores tão distantes voltaram naquela tarde inesquecível.


A vida no campo foi algo que uniu nossas almas. Aquelas duas senhoras conversavam sobre experiências vividas durante o tempo que moraram na zona rural. Experiências que eu, apesar de sempre ter morado na cidade, compartilhei durante meus fins de semana e férias no sítio de meus avôs paternos.


Percebi um saudosismo por parte delas. Senti a mesma coisa também. Eu sempre comento sobre minha infância. Tempo bom. Eu era feliz e não sabia. Não tinha as preocupações que tenho hoje. Tirar notas boas na escola e passar de ano, somente essas duas coisas eram as minhas obrigações. Eu brincava muito nos quintais e becos dos vizinhos. Quando ia para o sítio, subia nas mangueiras, nos cajueiros, nos pés de açafrão, seriguela. Adorava passear no roçado, sentir o cheio dos pés de milho e de feijão nascentes. Tomar banho de barragem era uma das melhores coisas que eu fazia lá. Comia os frutos e as raízes plantadas naquele pequeno paraíso. Dormia cedo. Não tinha energia elétrica. Acordava assim que o galo cantava. E todo o programa do dia anterior se repetia. Mas era tão bom...


O tempo foi pouco para ouvir e falar das vivências passadas. Eu queria passar um tempo maior. Contudo, a distância de minha cidade me fez sair mais cedo. Antes disso foi servido a mim e a meu amigo uma taça de vinho. Despedi-me feliz por ter conhecido aquelas duas senhoras.


Eu disse a meu amigo que estava muito feliz. Valeu a pena ter ido a Pirpirituba naquela tarde de sábado. Meu objetivo foi alcançado. Minhas expectativas foram superadas. Uma tarde tão singela me propiciou um dos melhores momentos de minha vida. Renovou em mim a certeza de que para sermos felizes não é necessária muita coisa, muita badalação, muita novidade. Para ser feliz bastar curtir, com pessoas amigas e amorosas, as coisas simples da vida. Lembrei de Era Uma Vez, uma novela que passou quando eu era pirralho. A música de abertura dizia:

Pra gente ser feliz
Tem que cultivar
As nossas amizades
Os amigos de verdade
Pra gente ser feliz
Tem que mergulhar
Na própria fantasia
Na nossa liberdade

O milagre da existência ocorre cotidianamente. Muitas vezes não percebemos isso. Contudo, como diz Paulo Coelho, “As coisas simples são as mais extraordinárias, e só um sábio consegue vê-las”. Não sou sábio mas, às vezes, consigo captar alguns instantes divinos que a vida propicia.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Os girassóis anunciam novos tempos para a Paraíba...


Hoje é segunda-feira. Um dia depois de a Paraíba dar uma demonstração de que é guerreira, valente, de que quer mudar. A vitória de Ricardo Coutinho sobre José Maranhão revelou o quanto o meu estado deseja crescer, se desenvolver, dar um grande salto.

Foi emocionante ontem. Eu tinha certeza que o jogo tinha virado. Mas quando vi os números da boca de urna do IBOPE, confesso, me desanimei. Por um instante, minhas esperanças tinham ido embora. Eu não acreditei nas duas pesquisas divulgadas no sábado à noite, mas a do domingo, feita com os eleitores nas ruas, no dia da votação, me fez recuar. Quando começou a apuração, tremi nas bases.

Entreguei os pontos. Algumas pessoas ligaram pra mim, me animando, outras vieram aqui em casa, falando que não era bem assim, que os votos de João Pessoa e de Campina Grande não tinham sido computados ainda. “Mas veja a boca de urna!”, eu, bastante nervoso e emocionado, dizia...

Senhor me perdoa, às vezes, eu não sei o que falo!

Escuto conversas da vitória expressiva em João Pessoa e em Campina Grande. Mas nada de somar com a votação do restante do estado... De repente, tudo muda... Oh, alegria, oh felicidade... Maranhão começa sua descida. Ricardo começa a crescer. Como um orgasmo que explode e deixa as pessoas, por um momento no paraíso, eu me ergui, gritei, exultei.

Ricardo ultrapassa Maranhão. Por pouco, a vitória não se deu no primeiro turno. Quanta emoção! Nunca vi algo assim na Paraíba. As últimas eleições foram bem disputadas, com resultados apertados. Mas essa foi disputadíssima e com resultados apertadíssimos.

Davi venceu Golias no primeiro turno. Vai vencer também no segundo. A esmagadora maioria dos prefeitos, deputados e lideranças paraibanas foram cooptadas pelo atual governador. Existem provas disso. O Diário Oficial está cheio de nomeações posteriores as adesões recebidas pelo governador candidato. Mas o povo foi mais forte!

Oh, Paraíba amada... Dias melhores virão para você... Eu confio! Eu tenho fé. Eu tenho esperança. Perdoa-me por ter duvidado, ainda que por alguns minutos, de tua garra, de tua coragem, de tua vontade de mudar e de crescer. Sou ser humano, cometo, assim, erros.

Hoje o dia está tão lindo. Os girassóis começam a fazer da Paraíba um grande jardim de esperança e amor! Viva!

sábado, 25 de setembro de 2010

Vento...



Ah, Vento, como é bom sentir o teu abraço...

Está em contato contigo e com a natureza revigora minhas forças... Exorciza meus demônios... Meus medos esvaecem... Minhas angústias e mágoas são suspensas...

Lá vai uma folha seca. Um dia ela foi verde, bem verde. Cumpriu sua função junta àquela árvore. Terminou seus dias. Teve que desligar-se de sua mãe. Caiu. Mas você, Vento, a levantou do chão, a fez subir novamente, talvez a última vez que está em acima das coisas terrenas, mas agora ela não ficará mais em um só local, verá a enorme quantidade de folhas existentes, bonitas, verdes, amarelas, roxas, mas que um dia terá o mesmo destino seu. Em breve ela deixará de ser folha. Sua decomposição, contudo, junto ao solo, fará nascerem outras folhas. Assim ela não morrerá. Viverá eternamente!

Ah Vento! Leva-me contigo. Preciso ver o que está além dos meus olhos podem ver... Preciso me desprender de meu mundo. Sinto-me saturado. Talvez meus dias, aqui, no mundo que vivo, tenham chegados ao término.

Necessito conhecer outros mundos. Outras pessoas. Talvez, seja preciso eu morrer para que eu possa renascer. Renascer das cinzas, como a Fênix da mitologia.

Leva-me Vento... Leva-me sem direção certa... Leva-me para um lugar em que posso ser eu mesmo, sem máscaras, sem disfarces...

domingo, 5 de setembro de 2010

Um colega quer morrer




Hoje no Orkut eu vi a resposta de um conhecido a um recado que eu enviei, sem querer, para todos do grupo de Alagoinha. Mas a resposta não tinha nenhuma ligação com o conteúdo enviado. Ele dizia assim: “Joel, to desesperado, depois que ... (sua esposa que não vou colocar o nome aqui) me deixou eu só penso em morrer”. Levei um choque. Eu não sabia que sua esposa o tinha deixado. Mas o pior era o desejo premente de morte que tomava conta dele. Fui até o seu perfil. Havia uma frase pedindo a morte também. Alguém respondeu dizendo que estava orando pra Deus não ouvir aquela blasfêmia.


Convivi durante um bom tempo com esse casal. Éramos evangélicos da mesma Igreja. Desde o começo do relacionamento de ambos, contudo, divergências e confusões faziam parte do cotidiano deles. Já presenciei várias vezes cenas nada agradáveis. Chocantes. Tiveram uma filha. Como o mercado de trabalho em Alagoinha, como na maioria das cidades interioranas do Brasil, é escasso, eles foram para o Rio de Janeiro. A última vez que me comuniquei com o esposo foi respondendo um recado no Orkut. Ele falava que Deus me amava, que não entendia o motivo de, conhecendo a verdade, eu ter deixado a verdade e ido pro erro. Ou seja, eu ter deixado a Igreja Evangélica e ter ido fazer parte da Igreja Católica. Eu disse que estava feliz e pronto. É o que sempre respondo quando as pessoas protestantes vem questionar minha conversão ao catolicismo. Mas não quero falar sobre religião agora.


Voltando ao assunto. Já escrevei, repetidas vezes aqui, sobre amor, sobre relacionamento, sobre minhas experiências, sobre experiências de amigos, filmes e músicas com temática afetiva. Mas, é o assunto que discorro com mais facilidade. Talvez porque eu seja um eterno apaixonado, ainda que ferido por dentro, mas nunca perco a esperança e a crença no amor. Conversei recentemente com um amigo pelo Facebook e eu lhe disse que estava com algumas feridas para serem cicatrizadas, mas estava bem, uma vez que a experiência da dor é inerente a vida humana. Na experiência da dor podemos ter duas reações a ela. Podemos deixar que ela nos domine e desistir de tudo, preferindo o caminho fácil, mas sem volta, da morte. Podemos também enfrentá-la de frente, resistindo, ainda que ela seja lancinante na alma, mas depois de tudo consumado a alegria surge varrendo toda a experiência anterior.


Meu colega prefere responder a experiência dolorosa do fim de sua relação, que desde o começo foi fadada ao fracasso, com a morte. Não respondi a ele falando de Deus, da Bíblia, que ia orar por ele ou coisas do tipo. Ele conhece essas coisas bem melhor do que eu. Fui um pouco seco, confesso. Eu disse a ele que não pensasse na morte, que ele levantasse a cabeça porque a vida segue em frente e que a vida é muito maior do que sua ex esposa.


Eu pensar em morrer, deixar de ter prazer em viver, perder a excitação pela existência só porque um relacionamento não deu certo? Nunca! Eu sei que dói um fim de namoro, noivado e mais ainda de um casamento. Eu ainda carrego estigmas em meu corpo. Mas a vida é cheia de possibilidades para todas as pessoas, e para um cara que deve ter mais ou menos vinte e cinco anos o leque de opções é muito amplo. Se eu pudesse eu diria isso a ele.


Tenho sempre conversado com um amigo sobre essas experiências de término de namoro. Temos muita coisa em comum. Atitudes diferentes diante do fim. Ele ficou um bom tempo cabisbaixo, sem querer comer, perdeu mais o brilho. Eu sinto as flechadas dentro do meu peito, mas não me curvo diante da tragédia. Tenho seguido em frente, mirado para o infinito, sempre acreditando que lá adiante está a concretização de meus sonhos. Algumas coisas não vislumbram. Ainda. Mas é nisso que reside o mistério da fé. Acreditar naquilo que não ver crendo que, brevemente, vai se realizar.


Duas escolhas diante da dor: morrer ou resistir! Resistir é mais difícil, exige muito, mas é a melhor opção. Só temos uma vida nessa terra. É preciso aproveitar, portanto, o máximo enquanto estamos nesse mundo.


Colega queria te dizer mais uma coisa: o fim pode ser um novo começo! Pense nisso.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A primeira vez dele



Parece que foi ontem...

Ele sente isso. Não entende, contudo, o motivo da lembrança ter voltado agora. Faz tanto tempo. Ultimamente, volta e meia, acontecimentos antigos voltam com força em seus pensamentos.

Estava trabalhando em um evento da universidade que estuda. Era monitor. Andava de um lado a outro dos corredores observando os grupos de trabalhos, as apresentações, verificando se andavam precisando de alguma coisa. De repente os olhares se cruzam. Sentiu um choque. Uma novidade para ele. Nunca havia sentido isso.

Na sala da coordenação estavam servindo lanches para os monitores. Ao vê-lo tomando um copo de refrigerante, a outra aproveita a oportunidade e pede um pouco.

Depois do evento encontram-se pelo Orkut. Naquele tempo, a rede social não era tão banalizada como é hoje. Mas os contatos são poucos.

Um ano depois tudo seria diferente...

Final de 2006. Mais uma vez um evento na faculdade. Era de outro curso. Mas ele sempre foi curioso por todo tipo de conhecimento ligado às humanidades. Até hoje é.

Dessa vez se conhecem de fato. Surge uma intimidade entre ambos. Voltam a se encontrar pelo Orkut, já que a outra tinha excluído o perfil. As conversas se intensificam. No MSN a conversa passa da política para uma disposição de vivenciar algo novo, diferente, ousado.

Mais uma vez se encontram na faculdade. Era durante a tarde. Uma tarde bonita, diga-se de passagem. Depois de irem a uma lanchonete, ele fala sobre um açude que existe em um sítio bem depois da faculdade. O convite é logo compreendido. Juntamente com duas colegas, vão para esse local.

Sentam-se na grama ao chegar. Ficam olhando a paisagem à frente, o açude médio, crianças que tomam banho. A vegetação verde ao redor. Era tempo de cajus. A outra nunca tinha chupado um. Prova pela primeira vez, já que ele gostava muito da fruta.

Ambos saem para ver o que tem ao redor. Sobem uma pequena serra. Sentam-se embaixo de uma mangueira. O coração dele palpita diante da possibilidade do que vai acontecer. Ele, à época, era tímido pra caramba. Nem sabia beijar direito. Mas só se aprende fazendo.

O beijo acontece. Ele sente uma paz envolver seu ser. Sente a maciez dos lábios dela. Que beijo gostoso, lembra saudoso.

Ficam um tempo entre conversas e troca de carícias. Perdem a hora. As colegas vão à busca, já que tanto ele quanto ela moravam em cidades diferentes e corriam o risco de perder seus transportes.

Voltam de mãos dadas. Volta e meia rola um beijinho. Despedem-se. Ele volta pra casa radiante, feliz, sentindo algo que nunca havia sentido em toda a sua vida. Pela primeira vez, nasce dentro dele um sentimento que não acreditava existir. A partir de então, passou não só a acreditar como a defender o amor em todas as suas cores.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Voltar ao passado



De Volta para o Futuro era uma série animada que eu adorava quando criança. A possibilidade de voltar ao passado me encantava ao mesmo tempo em que me assustava. Cada viagem que Marty McFly e o Doutor Brown e companhia faziam enchia meus olhos e minha mente infantil de fantasias e possibilidades de que essa faculdade me fosse possível um dia.


Recentemente ao ler Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban vejo uma cena em que a possibilidade de voltar ao passado não é só real como é possível também interferir em algo para conseguir um objetivo. E dar certo o plano de Harry e Hermione para conseguir com que Sírius fuja de Hogwarts antes de ser, injustamente, condenado.

 
Eu queria voltar ao passado! Na minha última postagem, minha dileta amiga Greice disse, ao comentá-la, que "O passado é um fio, você puxa e ele vem à tona...". Concordo! Uma música, um aroma, uma paisagem é capaz de me fazer retornar, através da memória, há um tempo consumado. Isso acontece amiúde comigo. Existe um tipo de sabonete que toda vez que uso é impossível impedir lembranças bastante vivas, mesmo que de anos atrás, retornar a minha mente.

Mas não é esse tipo de retorno ao tempo consumado que desejo. Queria voltar do mesmo modo que Marty McFly e Doutor Brown em De Volta para o Futuro. Melhor ainda. Queria voltar como voltou Harry e Hermione que fizeram à experiência para interferir no tempo pretérito, conscientes, bem planejada e que no final deu certo.

 
É um tanto quanto uma heresia de minha parte desejar isso. Como cristão isso contraria meus princípios. São Paulo uma vez disse que se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas antigas passaram, eis que tudo se fez novo. Mas não posso esconder o anseio que sinto quando penso a propósito.

 
Mas o passado não existe. O futuro também não existe. Só o presente é real, é concreto, é possível de mudar, de interferir, de aprumar o que está torto. E é nesse tempo que devo redimir minhas culpas de ontem e construir meu mundo de amanhã. Mesmo que persista a angústia de erros anteriores, tenho que me esforçar para não repeti-los hoje e fazer alguma coisa para sarar as feridas que fiz. Só o hoje existe. Só ele me pertence. Apesar de saber disso eu desejaria, ainda que uma única vez na vida, voltar uns segundos e não tomar uma atitude que hoje, depois de dois anos e alguns meses, me deixa com remorso e profundamente arrependido.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um amigo, duas reações





E agora, o que eu vou fazer?
Se os seus lábios ainda estão molhando os lábios meus?
E as lágrimas não secaram com o sol que fez?

Minha segunda-feira termina vendo um vídeo do Youtube enviado por um amigo muito especial no meu Orkut. Foi um dia abençoado. Cheio. Feliz.

Eu tinha acabado a pouco tempo de teclar, pelo MSN, com esse amigou que enviou o vídeo. Ele é do tipo que me fez bem quando a gente se encontra, quando ligo pro celular dele, quando a gente conversa pela Net. Nesse fim de segunda-feira, ele foi uma peça fundamental para meu estado de espírito.

Eu estava lendo O Aleph, o livro mais recente de Paulo Coelho. Volta e meia, interrompo a leitura para tomar café, água, comer pão, falar ao celular, ir ao banheiro, marcar um encontro com uma pessoa que fazia tempo eu desejava. De onze e pouco da noite, entro no MSN. Eu queria muito conversar com um colega. Desde domingo à noite, todas as vezes que fico on line, é pra tentar teclar com ele. Mas ele nunca está. Nessa noite sinto que ele vai está. Tenho a conversa toda projetada em minha mente. Não é nada demais. Queria só dizer como tenho passado desde sexta-feira. Mas assim que fico disponível não tenho coragem de iniciar uma conversa. Nem ele pretende falar comigo.

Puxo uma conversa com esse amigo já mencionado. Eu emprestei O Alquimista, um livro que já li algumas vezes e que pretendo ler outras. Fiquei com medo dele não gostar da leitura. Domingo à tarde, ele me disse que tava lendo algumas páginas por dia, uma vez que tinha dois livros para ler também. Contudo, agora a noite, ele me disse ter terminado o livro e ter adorado também. Nossa, como isso me deixou feliz.

Começamos a conversar sobre o livro. Minha alegria aumenta. Eu já estava meio sensibilizado com a leitura de O Aleph e com o encontro que tenho marcado para ocorrer esses dias vindouros, mas fico mais radiante ainda. Entrei no MSN para conversar com um colega, esse era meu objetivo, mas não consigo. Converso com esse amigo que eu nem esperava encontrar online e ele termina “substituindo” o desejo não alcançado.

Escrevo tudo isso no meu Twitter. Fico off-line. Saio da rede social mais balada do momento. Quando vou fechar meu Orkut, vejo o vídeo que ele me mandou. É da música "N" de Nando Reis. Desconhecia a canção. Espero o vídeo carregar e volto a ler O Aleph.

Depois começo a ver e ouvir o vídeo. Gosto nos primeiros instantes.

A letra, as imagens, contudo, me faz lembrar do relacionamento há poucos dias terminado. A imagem da minha ex Outra Parte vem à tona em cada estrofe da canção. Penso nela como se eu estivesse nos dias seguintes depois que a gente ficou pela primeira vez.

Confesso que ainda gosto dela. Hoje estamos amigos. Sou feliz com isso. Contudo, essa música abriu uma fenda que eu pensava está fechada. Reacendeu, ainda que em pequena proporção, um sentimento que já não alimentava mais.

Veja como são as coisas. No começo, esse amigou me deixou radiante de felicidade. Depois, mesmo sabendo que o propósito do vídeo é uma forma de demonstrar nossa amizade e a saudade que sentimos mutuamente, já que o refrão diz “espero que o tempo passe, espero que a semana acabe para que possa te ver de novo...”, o efeito produzido em mim foi outro.

Não vou deitar triste. Deito feliz. Só que ao encostar a cabeça estarei pensando “E agora como eu posso te esquecer? Se o seu cheiro ainda está no travesseiro?”

sábado, 14 de agosto de 2010

Uma amiga que sofre



Susto!

A primeira reação que tive quando uma amiga ligou agora a pouco para mim foi de susto. Pelo telefone ela chorava desesperada, dizia que precisava de mim. A primeira coisa que pensei foi na possibilidade de seu pai, já um tanto idoso, ter falecido. Saí de casa apressado. Não disse nada a minha irmã que estava vendo TV.

Quando a vi ela foi me pedindo um dinheiro emprestado. Logo pensei que tinha me pregado uma peça fazendo eu sair de casa depois da meia-noite para me pedir grana. Mas ela não parava de chorar. Dizia que era o fim. Só depois me explicou o motivo de sua angústia.

Desde que nos conhecemos ela sempre fez questão de ressaltar o seu relacionamento de anos. Ainda que, muitas vezes, em tom de brincadeira em nossas conversas, ela falava que não ficaria comigo porque não iria destruir seu relacionamento com o grande amor de sua vida. Ela compartilhava comigo os momentos íntimos que passavam, os projetos para construir uma família, os sonhos que ambos, aparentemente, tinham em comum.

Pois o fim de tudo isso veio pouco depois de chegarmos de Guarabira de um comício de nossos candidatos a governador, senador e deputado estadual. Depois de tantos anos juntos, de planos em fase de andamento, ele pede transferência de seu trabalho para uma cidade distante. A leitura imediata que minha amiga fez foi que isso significa o término de seis anos e quatro meses de experiências afetivas compartilhadas.

Eu fui procurar com ela um moto taxe que a levasse a uma cidade próxima com o intuito de conversar, pela última vez, com seu amor, mas não encontramos ninguém. Ela chorava, chorava, chorava. Lastimava-se da vida. Nem parecia a amiga que tantas vezes me fez sorrir com o seu jeito carinhoso e brincalhão que me tratava.

Eu não tinha palavras para dar conselhos. Em momento assim o melhor a fazer é escutar o desabafo da pessoa que sofre. Qualquer palavra não é capaz de diminuir a dor lancinante de quem sofre por amor.

Por que as pessoas sofrem tanto por amor? Seria tão bom se pudéssemos prever o que aconteceria conosco e com a pessoa que a gente ama depois de um tempo. Mas infelizmente o amor que se prevê não é tão bom, tão gostoso. O bom desse sentimento, às vezes, agridoce, é a surpresa. Pode durar pouco tempo, um tempo médio ou um tempo longo. É como se fosse um jogo de azar. Podemos perder feio. Mas podemos ganhar muito. Depende da sorte que tivermos.

Uma coisa ela falou com sensatez. Vão ficar em suas lembranças os momentos bons vividos. E concordei com ela. Afinal de contas, não é porque um relacionamento chega ao fim que a outra pessoa merece ser banida da memória.

Quanto o tempo o coração leva prá saber que o sinônimo de amar é sofrer...


PS: Durante essa semana essa é a terceira amiga que desabafa comigo problemas sentimentais. Não sou especialista nem exemplo nessa esfera da vida humana. Pelo contrário. Terminei um relacionamento há pouco tempo. Será que minha lenda pessoal está ligada a essas experiências com as outras pessoas?

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Um dia frio...




Nunca senti tanto frio como tenho sentido ultimamente em minha cidade. Tenho lembranças de períodos chuvosos por aqui. Mas de uma temperatura tão baixa acho que nunca experimentei como agora. Tem batido uma saudade do calor. Saudade de quando eu ficava em casa sem camisa, com shorts curto, quase pelado. Agora sempre estou de calça em casa. Às vezes, uso até meias nos pés.


Mesmo com saudade do calor eu gosto desse tempo. Sinto-me fragilizado. Fico mais sentimental. Sinto ausência de alguém que pudesse ver uma comédia romântica comigo na sala da minha casa, comendo pipoca ou bebendo algo que pudesse esquentar.


De repente vem a minha mente a música Ritmo da Chuva. Lembro de uma vizinha, quando eu era criança, que escutava essa canção sempre. Nesse dia frio e dia chuvoso aqui em Alagoinha ela veio como uma oração. Comecei a cantar e a colocar trechos dela no Twitter.


A cada gota que cai eu vejo meu amor. Um amor que ainda não existe. Que talvez nem tenha nascido. Mesmo assim eu vislumbro um sentimento correspondido na dança da chuva.


Falo com um amigo de uma paquera que descobri recentemente. Mas a idade é um fator que complica qualquer relação passional que possa nascer, pelo menos no momento presente. A resposta dele é que o amor não tem idade e nem sexo. Não precisa dizer que concordo com essa afirmação. Tá na minha cara e na minha vida.


A chuva continua cair. O frio intensifica-se. Penso que seria legal ter essa paquera aqui comigo, nos meus braços, no meu colo. Estou com uma vontade danada de mandar um sms ou ligar para ela. Mas estou no meu trabalho.


Por incrível que pareça a mulher que trabalha comigo começa a cantar Ritmo da Chuva. Ela nem imagina o que escrevo. Mas dizem, e eu acredito, que existe uma linguagem universal que todas as pessoas entendem. Em dia frio e chuvoso, acredito, ela se manifesta melhor. É a linguagem do amor. Por isso, ela canta essa música mesmo sem saber que passei a manhã todinha ouvindo-a e que estou com ela no pensamento e nas minhas emoções.

Chuva traz o meu benzinho, pois preciso de carinho...

Um dia frio. Um bom lugar para ler um livro. Um bom clima para amar.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Alguma coisa sobre o perdão


A reportagem especial da Veja desta semana é sobre o perdão. Assinada pela jornalista Ana Claudia Fonseca e com reportagem de Júlia Carvalho, O poder do Perdão, é uma leitura agradável e bem documentada. Em oito páginas, a revista diferencia o perdão religioso do perdão laico. Detendo-se, em especial, no último.


Falar em perdão é muito difícil. Na religião cristã, padres, pastores, religiosos (as) em geral, ressaltam o perdão como uma grande virtude. Jesus mesmo disse que devíamos perdoar nossos inimigos setenta vezes sete o número de vezes que for necessário. Na prática, isso não ocorre. Quando alguém nos fere, nos agride, seja em palavras, gestos ou fisicamente, a primeira reação que temos é de revidar. Isso faz parte do instinto natural do ser humano. Quando eu era evangélico, o pastor da Igreja que eu fazia parte, explicava que não era pecado reagir quando formos atacados, ou seja, em legítima defesa. Lá era ressaltado sempre o perdão de Deus a nossos pecados. Mas o perdão que pressupõe o reconhecimento da culpa, um arrependimento sincero e uma disposição para apagar os ressentimentos, pouco ou nada era ressaltado. São essas as três características que a reportagem coloca como o perdão laico, aquele que é próprio da pessoa humana, sem nenhuma interferência religiosa.


O perdão é visto, pela reportagem, como uma via de mão dupla nas faces da vida contemporânea – ente marido e mulher, entre colegas de trabalho, entre nações, entre empresas e consumidores. Mas nem sempre foi assim. Essa idéia de perdão é recente na história ocidental. O filósofo David Konstan assinala que até o Iluminismo, no século XVIII, o perdão só existia com a intermediação divina. Em várias sociedades, por exemplo, os erros humanos eram atribuídos ao capricho dos deuses, como na Grécia antiga.


O sentido moderno de perdão, separado, portanto, da religiosidade, surgiu com Kant. Ele insistia na autonomia moral do homem em relação a Deus, possibilitando um entendimento secular de perdão entre as pessoas, na qual o remorso e a mudança interior do agressor deveria ser julgada pela pessoa ofendida e não mais por Deus, vendo o agressor como merecedor do perdão. O texto continua afirmando que a pessoa que se arrepende de seus erros não faz isso por ser virtuoso, mas porque a natureza humana é capaz de mudar.


Outro filósofo, Charles Griswold, estabelece três passos básicos para obter perdão. Assumir a responsabilidade pelo erro, repudiar claramente o erro, mostrando que não se pretende repeti-lo e, por último, exprimir arrependimento pela dor causada ao próximo.


Um aspecto importante destacado na matéria é o benefício que o perdão traz para a saúde dos envolvidos. Não é necessário fazer uma pesquisa científica para se comprovar isso. Se olharmos ao nosso redor e observamos as pessoas mais infelizes, mais angustiadas, que já não possuem mais a força vital da existência, a história de vida delas está associada a fatos pretérito que lhes causaram mal e a não liberação de perdão. A psicóloga Ana Maria Rossi disse que quem não perdoa não se liberta da raiva e revive o erro o tempo todo, o que acaba se tornando uma poderosa fonte de stress. Um estudo da Universidade Harvard revelou que o risco de sofrer problemas cardíacos é duas vezes mais alto em pessoas que guardam rancor de maneira prolongada.


Não perdoar só prejudica a pessoa ressentida.


A revista Veja chegou a minhas mãos na quarta-feira pela manhã assim que cheguei da faculdade. Relutei em ler. Passei por uma experiência nada agradável nesses dias últimos. Mas nada é por acaso. Na mesma semana que vivi essa experiência a reportagem de capa da revista que assino é sobre perdão. Pensei em ler ontem pela manhã e escrever um texto a respeito depois. Mesmo assim esperei. Ontem à noite, de repente, veio um desejo incontrolável de resolver a situação que estava me deixou ofendido e magoado. Mandei um e-mail. Recebi a resposta. Fiquei em paz, tranqüilo, renovado interiormente. Só depois do programa Direção Espiritual com Padre Fábio de Melo na Canção Nova é que fui ler a revista. Sem medo. Sem ressentimento. Antes de ler a última frase da reportagem eu já havia, há pouco tempo, experimentado a sensação de liberdade que se apodera de quem perdoa e está disposto a começar uma nova história.


Perdoar, antes de ser um gesto de amor ao próximo, é um gesto de amor próprio.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ele no fim




Ele pensa, pensa, pensa...

Deseja, faz tempo, o momento de poder conversar. De dizer tudo que está sentido. De desabar suas mágoas. Já conversou com um amigo muito dileto. São cúmplices em muitas coisas. Parecidos em muitos aspectos. Um entende o outro. A dor de um não é alheia a dor do outro. Ultimamente, eles se falaram ao celular. Ele deseja coragem, força para poder conversar com sua Outra Parte sobre os caminhos sinuosos do relacionamento.

Faz dias. Semanas até. Ele não ver mais como continuar. Não quer ser tratado como príncipe. Muito menos como plebeu. Quer ser tratado apenas como devem ser tratadas as pessoas que participam de um relacionamento. Deseja, tão somente, reciprocidade de sentimentos, de atitudes.

Chegou a chorar.

Mas o dia chegou. Na semana anterior, ele tinha enviado um e-mail. Queria poder externar toda a sua dor. Mas acabou, devido o afeto forte que nutre pela Outra, fazendo o contrário.

Antes de começarem a teclar pelo MSN, ele estava um bom tempo no Twitter. Jogou um pouco de estado emocional por lá. Disse, inclusive, está em buscar de um novo amor. Somente um novo amor pode fazer esquecer um amor antigo. Ele sabe disso. Teve experiência pessoal.

A conversa começa. A Outra coloca de forma direta a conclusão. Não explica muito os motivos. Então ele entra. Desabafa. Vocifera pela janela do MSN suas mágoas. Está emocionado. Lagrimas vertem de seus olhos. Não desejava esse fim. Admite que vai demorar um bom tempo para esquecer o seu amor. Mas deixa sua Outra Parte livre. Livre para fazer o que ela já vinha fazendo. Só que agora sem o peso de ter um namoro.

Despede-se. Chora mais um pouco. Deita na cama. Enrola-se. Sente uma dor no peito. Pensa, pensa, pensa... Tudo poderia ter sido diferente. Mas ninguém é dono de ninguém. De repente o seu celular toca. Sua agora ex Outra Parte está ligando. Pra quê? Ele não atende. E disse pra si mesmo que não vai atender ligações dela tão cedo. Ouvir a voz de quem um dia fez tantas declarações amorosas, planos para um futuro juntos, ajuda a aumentar as feridas que estão na sua alma.

Mal consegue dormir. Desperta logo cedo. Não está bem. Liga o rádio. Uma música que pede uma chance para amar está tocando. Terá sido um pesadelo? Ele olha pro celular. Ver a ligação não atendida. Era uma hora e trinta e sete minutos. Sente o peso da realidade.

Reza. Toma um banho frio. Como um ritual. Tudo para mostrar que a vida segue em frente. Que novos horizontes podem surgir. E ele está disposto a encarar essa nova realidade que se descortina.

Foram cinco meses de namoro. Pra uns, pouco tempo. Pra outros, um tempo logo. Pra ele, um tempo suficiente para amar e ser amado!

sábado, 24 de julho de 2010

O amor permanece!




Esta semana me perguntaram, pelo Formspring, se eu prefiro não amar, ou se arrepender depois de ter amado. Uma pergunta interessante. Muita gente responde de forma lacônica pelo Forms. Eu cultivei o costume de algumas perguntas responder em forma de um comentário ou de um pequeno texto. Com essa não foi diferente.

Quase não tenho falado mais de amor, seja no Twitter, no Facebook, no Orkut ou nesse blog. A única frase que remete a esse sentimento tão humano e ao mesmo tempo tão divino é um trecho da música Noite e Dia de Jorge e Mateus que está no meu subnick de meu segundo MSN.

Quando o sentimento é forte, intenso e, sobretudo, correspondido na minha vida, costumo expressar por todas as formas possíveis e, em particular, nas redes sociais que faço parte. Quando estou sofrendo também faço a mesma coisa. Quando estou mais ou menos prefiro ficar quieto. É como estou.

Mas a pergunta que me foi feita pelo Formspring me deixou pensativo. Antes, uma amiga tinha me perguntado o que eu escreveria para ela. Como sei que ela anda um pouco apaixonada, escrevi algo sobre o amor. De certa forma escrevi pra mim também ao respondê-la. Eis a resposta:

[...] antes de amar qualquer pessoa, ame a si mesma!

Pense que o amor a outra pessoa, geralmente, é passageiro. Não existe amor eterno. O amor é eterno enquanto dura. Na vida muitas pessoas passam e mechem com nosso coração. Algumas com impacto mais forte, outras menos...

De todo jeito você vai amar muitos caras ainda. Ame cada um como se fosse a última vez. Depois que acabar não se arrependa, pense nos momentos bons que você viveu junto dele. Pense na troca de carinhos, nos beijos, no sms apaixonados, nos tweets que trocaram, nos depoimentos do Orkut...

Mas nunca se esqueça: o amor nunca morre! Muda de endereço, mas permanece para sempre...

Ela gostou do que escrevi (risos).

A resposta que eu dei quando me perguntaram se eu prefiro não amar ou depois me arrepender de ter amado foi à seguinte:

Eu prefiro me arrepender depois de ter amado. Mesmo que o amor não dure para sempre, os momentos bons, os beijos, os abraços, as carícias trocadas... Tudo isso foi bom e ficará pra sempre guardado. Foi um momento que fui feliz. Um instante mágico. Sabe aquele sorriso... Hum... As pegadas... Claro que eu preferia que fosse eterno, mas foi eterno enquanto durou... Como bom chicleteiro eu canto "não vou chorar, nem vou me arrepender, foi eterno enquanto durou, foi sincero nosso amor, mas chegou ao fim".

Eu jamais iria cantar como Adriana Calcanhoto "Rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim será melhor meu bem! O retrato que eu te dei se ainda tens Não sei! Mas se tiver devolva-me!”

Pra tu ter idéia, eu tenho e-mails guardados desde dezembro de 2006... e-mails amorosos. RS

As duas respostas são parecidas. Confesso, contudo, que a última resposta fugiu um pouco da pergunta. Mas é assim que vejo o amor, que vejo um relacionamento. Não adianta, depois que acabou um namoro, a gente ficar se maldizendo, falando mal da outra pessoa. Tudo que as duas pessoas viveram juntos foi bom, foi gostoso, foi mágico e não deve ser esquecido.

Algumas pessoas, sempre após a ruptura de relacionamento, costumam falar que não acreditam mais no amor. Eu tenho um amigo que já me disse várias vezes isso. Muita gente coloca a culpa de seus erros, dos desacertos do relacionamento no amor. Não é assim. O amor não tem culpa de nada. Houve amor enquanto durou o namoro, o noivado e/ou casamento. Ou aqueles momentos de cumplicidade, de desejo intenso, de sorrisos trocados, de conversas intermináveis... não foram bons?

Eu acredito no amor. Esse é um sentimento eterno. Talvez um relacionamento não dure o tempo que foi planejado, sonhado, desejado durante o momento em que o sentimento entre as duas pessoas era forte. Mas existiu. E continuará a existir. Outras pessoas estarão dispostas a amar. Outras pessoas aparecerão na vida da gente e o amor vai ser intenso novamente. Claro que não vai ser igual ao o anterior. Cada amor é único. Não existe um amor igual ao outro, porque o amor faz parte das pessoas e não existe uma pessoa igual à outra.

O amor permanece. O amor dura para sempre, só muda de endereço.

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